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Cientista político Silvio Cascione:
“...É hora de uma (breve) pausa para comentar o cenário político brasileiro.
O personagem da vez é outro velho conhecido: Jair Bolsonaro. Dúvidas sobre seu estado de saúde voltaram à tona após uma cirurgia de 12 horas, ainda sem previsão de alta. Nas próximas semanas, o ex-presidente ficará distante das negociações em Brasília sobre a anistia dos envolvidos nas invasões de 8 de janeiro de 2023. Ele também acompanhará de longe os próximos passos de seu processo criminal no Supremo.
Nada disso significa, porém, que Bolsonaro esteja saindo de cena. Pelo contrário: nos últimos meses, o projeto de anistia e o processo por tentativa de golpe mantiveram o ex-presidente em evidência no noticiário, e essa tendência deve se manter ao longo deste ano.
A presença constante de Bolsonaro no debate público aumenta a barreira de entrada — já bastante elevada — para qualquer outro nome que almeje liderar a oposição em 2026. Bolsonaro continua sendo, de longe, o líder mais popular do eleitorado anti-Lula, e é ele quem terá a maior influência sobre a candidatura de oposição nas próximas eleições.
As primeiras pesquisas de intenção de voto para 2026 atestam a força do ex-presidente. Ele não apenas aparece bem nas pesquisas espontâneas, dividindo a liderança com Lula, como também vê vários de seus aliados liderando a corrida para o Senado. Ainda é muito cedo para qualquer prognóstico mais preciso sobre a eleição, mas os dados já mostram que estar associado a Bolsonaro é um ativo importante para atrair a atenção do eleitorado e conquistar uma cadeira no Congresso.
Esse contexto influencia, inclusive, o comportamento dos parlamentares. Neste momento, a bandeira da anistia tem sido um dos poucos fatores capazes de organizar a oposição em Brasília. A mobilização chegou ao ponto de viabilizar uma negociação envolvendo o governo e o Supremo, que poderá, eventualmente, resultar em penas mais brandas para os condenados que não tiveram papel central na trama.
Tudo isso decorre da pressão de Bolsonaro. A anistia, por si só, não comove o eleitor comum — como ficou claro nas manifestações, que foram de porte limitado. As pessoas preocupam-se muito mais com o custo de vida e com a segurança, temas que podem ser decisivos na campanha de 2026. Ainda assim, apoiar ou não a anistia tornou-se um importante indicador de lealdade a Bolsonaro. Não é à toa que tantos governadores — entre eles Tarcísio — marcaram presença nas manifestações.
Por tudo isso, ainda é cedo para cravar quem será o candidato da oposição em 2026. As cartas mais fortes continuam nas mãos de Bolsonaro, e ele não precisa ter pressa para decidir.
A opção de indicar um filho, e não Tarcísio, segue em aberto.”
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