Economia

Argentinos recorrem ao Brasil e Paraguai para abastecer o tanque

04/05/16 - 10h42
David Fernández/EFE

Encher o tanque do carro na Argentina custa 75 reais mais caro do que no Brasil e 88 reais mais caro do que no Paraguai, após o último aumento aprovado pelo Executivo de Macri. Em toda a América do Sul, somente o Uruguai tem preços mais altos. Por esse motivo, aumenta cada vez mais o número de habitantes de províncias argentinas fronteiriças, como Misiones e Formosa, norte do país, que vão aos países vizinhos para abastecer. No total, a economia mensal em combustível pode superar os 1.200 pesos (300 reais). A tendência só se inverte na província oriental de Entre Ríos, que se beneficia do tráfego de uruguaios que mudam de margem para ir aos postos argentinos, que oferecem gasolina três pesos (0,75 reais) por litro mais barata do que em seu país.

Segundo o presidente da Câmara de Postos de Gasolina do Nordeste da Argentina (Cesane), Faruk Jalaf, o aumento dos preços começou a provocar uma queda da demanda. “As pessoas irão priorizar seus gastos em mantimentos, serviços e depois, se sobrar algo, em outros gastos”, diz Jalaf em declarações à imprensa local. O presidente da Cesane confirma que “as pessoas já começaram a ir aos países vizinhos para abastecer”.

A tendência é visível na divisa internacional de Iguazú que liga a província argentina de Misiones, no extremo noroeste do país, com o Brasil. Dezenas de moradores da região realizam os trâmites de fronteira junto à enxurrada de turistas que quer aproveitar a vista das Cataratas do Iguaçu nos dois países. Atravessar leva por volta de 15 minutos, mais outros 10 até o posto de gasolina mais próximo, explica o taxista Pablo de Sosa. “Cada vez mais aumenta o número de pessoas que cruzam a fronteira”, confirma.

A economia no combustível é uma das razões, mas não a única. São muitos os que aproveitam a viagem e além de encher o tanque vão ao supermercado antes de voltar. “Os alimentos também são muito mais baratos no Brasil, o arroz, o macarrão, tudo...”, afirma o taxista. Com a exceção dos produtos de origem animal, que não podem ser introduzidos no país, os argentinos se abastecem de víveres no país vizinho para tentar driblar a inflação, que se aproximou dos 12% no primeiro trimestre do ano e já chega aos 35% entre maio do ano passado e agora.

Apesar da queda do preço do barril de petróleo em todo o mundo, na Argentina os combustíveis acumulam um aumento de 31% desde dezembro, quando Macri assumiu como presidente. No domingo, o litro de gasolina subiu de 17 a 20 pesos (4,27 a 5,02 reais) e a Premium de 20 a 24 pesos (5,02 a 6,03 reais). Os empresários do setor argumentam que uma das razões do aumento é que os custos de produção dispararam, enquanto para o Governo a principal causa é a desvalorização do peso, que chegou aos 50% desde dezembro. “Se o consumidor considera que esses preços são altos em comparação aos outros gastos de sua economia, deixará de consumir”, disse na terça-feira o ministro da Energia argentino, Juan José Aranguren, ao defender o quarto aumento de preços do combustível em 2016.