Brasil

Bombeiros têm dia de buscas intensas em escombros de prédios

Folhapress | 13/04/19 - 23h08

Ao menos sete mortos, a mais nova com 7 anos, e uma busca intensa por estimados 17 desaparecidos. Assim transcorre o dia seguinte ao colapso de dois prédios do condomínio Figueiras do Itanhangá, em Muzema, uma região sob guarda da milícia na zona oeste do Rio, na sexta (12).

O coronel Luciano Sarmento, coordenador de operações do Corpo de Bombeiros, disse neste sábado (13) que o cenário era "propício para nós encontrarmos vida". "O tempo é nosso inimigo", reconheceu a jornalistas quando já se contavam mais de 30 horas de buscas. Contudo, da forma que as construções tombaram, não dava para descartar a formação de pequenos bolsões de ar.

O coronel lembrou de relatos de pessoas que sobreviveram até sete dias em condições parecidas. Em Muzema, há crianças que sobreviveram aos pais. Caso de Isabele, 4, que perdeu o pai, Hiltonberto Rodrigues Souza, e a mãe, Maria de Nazaré Sá Sodré, além do irmão Hilton Guilherme, 12.

Drama também de Clara Ramos Rodrigues, 10, a Clarinha. O pai dela, Cláudio Rodrigues, 40, foi um dos moradores levados com vida para o hospital, mas que acabou não resistindo. A mãe dela, Dilma Rodrigues, 35, passaria por uma segunda operação no sábado.

Sobrinho de Cláudio, Bruno Rodrigues, 29, conta à reportagem que eles se mudaram para o Figueiras na semana anterior ao desabamento. O pastor havia dado o carro como entrada e planejava pagar parcelas de R$ 3.000 para quitar o apartamento, diz o sobrinho.

Todos dormiam quando a estrutura do edifício emitiu fortes estalos. Em instantes, estava tudo abaixo. "Ele caiu abraçando a filha, para protegê-la com seu corpo", diz Bruno.

Cláudio presidia a Assembleia de Deus de Missões em Muzema. Execia também outro papel de liderança: vice-presidente da associação de moradores da comunidade.

Após o temporal que dias antes deixou dez mortos no Rio, o líder evangélico passou madrugadas limpando ruas e ajeitando sua igreja -que sofreu perda quase total, segundo seu sobrinho. Com as chuvas, a água na região subiu até a cintura em alguns pontos.

Cláudio chegou em casa às 3h30 de sexta. Pretendia voltar para a igreja pela manhã para continuar o trabalho. Não deu. Ex-jogador de futebol com carreira na Europa, ele largou tudo quando Clarinha nasceu e foi ser pastor, conta Bruno.

Isabele, 4, virou símbolo da tragédia que mobilizou mais de cem militares, além de drones e cães farejadores, para operações de resgate de corpos e possíveis sobreviventes.

Isabele foi resgatada com machucados no rosto, e só. Seu irmão Hilton Guilherme passou mais de 15 horas soterrado. Chegou a ser socorrido com vida dos escombros, por volta das 23h de sexta. Estava consciente, falava com bombeiros, mas morreu no hospital Miguel Couto pela madrugada.

Horas depois, os corpos dos pais dos dois foram reconhecidos no IML (Instituto Médico Legal) pela família do casal, originário do Maranhão.

A caçula da família estava sendo cuidada por Erismar Correa Souza, 28, que mora com a irmã de Hiltonberto. "Ontem mesmo a gente se encontrou, ele pintou minha moto, falou que ia se mudar de lá", conta Erismar à reportagem.

Já Isabele não parava de perguntar do pai. Achava que ele estava fazendo uma reforma no prédio onde moravam, segundo o tio Raimundo do Nascimento, 38. Também mencionava "o homem que salvou ela debaixo da poeira", um bombeiro, conta o irmão da mãe dela.

Isolada por ora das notícias sobre a família, a menina está numa casa em Rio das Pedras "brincando depois que colocamos gelzinho na cara dela", afirma Erismar.

Tanto Rio das Pedras quanto Muzema, comunidades vizinhas, ficam sob domínio de milícias. Os veículos de resgate passavam por dificuldades para chegar aos prédios tombados. Ainda havia muita lama, consequência das chuvas que atingiram o Rio no começo da semana.

Já são mais de 30 horas de buscas. Sobreviventes relataram que as construções ainda estavam em obras. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar quem eram os responsáveis pelo condomínio.

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), esteve na área na manhã desta sexta. Saiu sem falar com a imprensa e foi vaiado por moradores da região. A prefeitura informou apenas que os prédios eram irregulares.