Emanoela Pereira, de 31 anos, deixou o Brasil buscando melhores oportunidades de vida. Como muitas mulheres brasileiras, ela resolveu tentar a sorte. Em 2022, ela e o marido deixaram Florianópolis (SC), para viver em Portugal. Em busca de uma vida ainda mais próspera, o casal não se contentou com as terras lusitanas e fez uma aposta ainda mais arriscada: viver em Luxemburgo, um pequeno país que faz fronteira com Bélgica, França e Alemanha.
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A decisão foi tomada após ela descobrir que o marido, Wellyngton Pereira, tinha descendência luxemburguesa, o que permitiria a emissão da cidadania no local. Os dois também se encantaram com o rótulo de “país mais rico do mundo”. Nos dois últimos anos, dados do Fundo Monetário Internacional afirmam que Luxemburgo é o país com maior PIB per capita do mundo, cerca de US$ 141 mil (o equivalente a R$ 776 mil em cotações atuais). Só que nem tudo saiu como o previsto.
Assim que se mudaram, o marido conseguiu uma vaga em uma empresa de tecnologia. Já a brasileira enfrentou dificuldades para se realocar no mercado de trabalho local. Lá, é fundamental que os imigrantes falem francês, luxemburguês ou alemão, línguas mais faladas no país do que o inglês. Desempregada, Emanoela se viu solitária, enfrentando as baixas temperaturas e a cultura dos habitantes locais.
"Os luxemburgueses são muito fechados e o clima é frio. O inverno aqui é completamente cinza, três meses sem sol. É diferente de tudo o que eu já vi. Essa falta de sol mexeu muito comigo e foi muito difícil por causa da minha depressão”.
Os desafios de uma brasileira no país mais rico do mundo
Assim que chegou ao país, ela conta que estava disposta a buscar outros tipos de emprego comuns a brasileiros que vivem na Europa, como o atendimento ao público. Porém, colocar a ideia em prática foi impossível.
“Você precisa saber o francês se quiser trabalhar tanto em uma padaria ou em um supermercado, quanto em marketing. Isso foi uma frustração para mim. Eu e meu marido não chegamos a passar por dificuldades porque a área dele é muito valorizada. É um país muito caro, o aluguel é muito alto e chega a ser o dobro do custo que tínhamos em Portugal. Mas, ele ganhava bem”, conta.
“Se você não trabalha numa área bem valorizada, será difícil se manter aqui.”
Emanoela estima que o gasto mensal para ela e o marido, em despesas básicas como aluguel, alimentação e impostos, girava em torno de € 4 mil euros (R$ 25 mil). Desempregada, ela atuava apenas como influencer, já que começou a contar nas redes sociais como era ser uma imigrante na Europa.
Ela conta que também estranhou o comportamento dos locais. Além da falta do idioma para se comunicar, eles pouco se abrem a novas amizades, especialmente, com quem vem de fora. “Por incrível que pareça, me dei bem mesmo com os portugueses e fiz só alguns amigos brasileiros. A comunidade brasileira é significativa e todo mundo se conhece, por isso, acontecem burburinhos vez ou outra e eu não gostei”, comenta.
Ela disse que se decepcionou com a falta de acolhimento. “Infelizmente é algo que acontece aqui, algo muito difícil de lidar. Penso que imigrantes precisam ter laços. Estamos longe de tudo, das pessoas e da realidade em que crescemos. Me senti anulada. Passei um ano e meio frustrada profissionalmente. A vida continua para as outras pessoas e sinto que fui apagada”, avalia.
A vulnerabilidade refletiu diretamente no quadro de depressão de Emanoela, que já existia antes da mudança para Luxemburgo, mas que se agravou ao longo de 18 meses. “Para mim, o país mais rico do mundo, é um dos lugares mais depressivos também”.
Em 2019, a Inspeção Geral da Segurança Social de Luxemburgo apontou que 10% da população luxemburguesa tem diagnóstico de depressão, sendo este mais comum entre as mulheres. No mesmo ano, um estudo do Inquérito de Saúde Europeu, iniciativa conjunta de várias nações europeias e da União Europeia, classificou a população de Luxemburgo como uma das mais deprimidas do bloco.
Em busca de um lar
Emanoela e o marido entraram em um acordo sobre a vida em Luxemburgo, o que ela compartilhou com mais de 40 mil seguidores: “Nem sempre o melhor lugar, vai ser o melhor lugar para mim e para a minha saúde mental”.
Por isso, o casal tomou a decisão de deixar a vida em Luxemburgo e retornar a Portugal, onde o idioma e a relação, tanto com nativos, quanto com brasileiros imigrantes, sempre foi mais fácil e amistosa. “Eu tive a oportunidade de mostrar um país totalmente diferente para outras pessoas, acho que essa foi a melhor parte de viver aqui. Mas, é notável, que eu não gostei muito. Foi bem frustrante e ruim para a minha saúde mental, um fator importante para qualquer um".
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