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Brasileiros atingidos por tiros em Paris serviram de "escudo" para o resto do grupo

15/11/15 - 17h57

Brasileiros atingidos por tiros em Paris serviram de (Crédito: Reprodução)

Brasileiros atingidos por tiros em Paris serviram de (Crédito: Reprodução)

Os dois brasileiros atingidos por tiros nos atentados em Paris na sexta-feira (13) ficaram na linha de frente dos atiradores, segundo relatos de pessoas que estavam no mesmo grupo que eles, no restaurante Le Petit Cambodge, um dos locais atacados.

O arquiteto Gabriel Sepe Camargo, 29 anos, e a estudante de psicologia Camila Issa, feridos a tiros, integravam um grupo de oito pessoas (sete brasileiros e um francês) que estava em uma mesa na calçada do restaurante, situado na esquina das ruas Bichat e Alibert, no 10° distrito de Paris.

De acordo com a posição em que estavam à mesa, ficaram bem de frente para quem vinha da Rue Bichat, de onde surgiram os atiradores, de acordo com pessoas que estavam no local ouvidas pela BBC Brasil.

Eles acabaram se tornando o alvo principal dos atiradores, que, segundo o relato de testemunhas, seriam dois homens. Acabaram sendo atingidos pelo primeiro impacto dos tiros disparados e, involuntariamente, "protegeram" os demais membros do grupo, evitando que fossem feridos pelas balas.

Camargo foi baleado no pulmão direito e na perna. Ele foi operado e está fora de risco, segundo um médico ouvido pela BBC Brasil.

Camila teria levado vários tiros — alguns de raspão e um na mão. Ela também foi operada e passa bem.

Gabriel e Camila seguem hospitalizados se recuperando dos ferimentos. Os pais de ambos chegam neste domingo a Paris.

O atentado na rua Bichat foi o primeiro da série de ataques cometidas em Paris, às 21h25 no horário local (19h25 em Brasília) de acordo com a cronologia divulgada pelos investigadores.

O primeiro ataque foi no bar Le Carillon e, logo em seguida, foi alvejado o restaurante Le Petit Cambodge, bem em frente ao bar. De acordo com autoridades, 14 pessoas morreram no local.

Segundo investigadores, cerca de uma centena de cápsulas de balas foram encontradas nessa área.

Os dois estabelecimentos ficam em uma área bastante animada em Paris, próxima ao canal Saint-Martin, frequentada por parisienses e estrangeiros.

Conta

Os brasileiros estavam prestes a deixar o restaurante quando o ataque ocorreu. O grupo estava terminando de beber um vinho e prestes a pedir a conta.

"Estávamos com frio na calçada, não havia aquecimento no local", contou à BBC Brasil Diego Mauro Muniz Ribeiro, mestrando em arquitetura que está em Paris por três semanas para pesquisas na área. Diego também acabou ferido ligeiramente por estilhaços de vidro.

O grupo escolheu o Le Petit Cambodge por acaso, sabendo que a área está muito na moda em Paris.

"Vimos muito sangue e vítimas no chão", afirmam Ribeiro e o também mestrando em arquitetura Guilherme Pianca Moreno, que primeiro se jogaram no chão e depois conseguiram se refugiar em um supermercado ao lado durante o tiroteio. Eles estão muito abalados por causa do ataque.

A brasileira Amanda Antunes, estudante de arte em Paris, também estava com Gabriel e Camila na mesa.

Ela conta ter se refugiado dentro do restaurante e ficado o tempo todo com o rosto colado no chão, ouvindo as rajadas de tiros "que pareciam não ter fim". Ela não sabe dizer quanto tempo pode ter durado o tiroteio e não viu nenhum atirador.

— A fachada do restaurante é toda de vidro e havia muito barulho de vidro explodindo e estilhaços por todos os lados. Fiquei o tempo todo com medo que o atirador entrasse no restaurante para matar quem estava ali.

Os tiros, porém, foram disparados apenas da rua, o que evitou um número maior de mortos.

Quando perceberam que o grupo não estava completo, Ribeiro e Moreno voltaram ao restaurante.

Entre os feridos no chão estavam Gabriel e Camila. Um dos amigos levou Gabriel, ferido de forma mais grave, para dentro do restaurante. Depois disso eles foram atendidos por equipes de emergência.

Outros sobreviventes dos ataques no Le Carillon e no Le Petit Cambodge descreveram "cenas surreais" com corpos pelo chão e sangue por todos os lados.

O francês Anthony, de 29 anos, também estava em uma mesa do lado de fora do Le Petit Cambodge.

"Um carro parou bruscamente bem no meio da esquina. Vi dois homens saírem do veículo. Eles tinham no máximo 25 anos", diz o francês.

Segundo ele, um dos homens teria ficado próximo ao carro enquanto metralhava e o outro percorreu alguns metros na rua antes de começar a disparar.

— Só pensei uma coisa: correr e não olhar para trás. Ouvi tiros incessantes enquanto corria.