Brasil

Canal de pernambucano no Youtube ensina tudo sobre o frevo

Programas são apresentados pelo passista Otávio Bastos, um amante do ritmo

Diário de Pernambuco | 18/02/19 - 15h16
Otávio Bastos lança um programa por semana, com duração máxima de dez minutos. | Divulgação

O recifense Otávio Bastos é passista e um importante defensor do frevo. Tanto que, resolveu criar um canal no Youtube para traduzir o tema de forma atraente e acessível a qualquer pessoa. O Mexe com tudo tem 1,4 mil inscritos e foi criado há um ano e quatro meses. A ideia não é entreter o público. A educação sobre o frevo é o carro-chefe dos programas, com duração máxima de dez minutos e postados uma vez por semana. No ano passado, o Mexe com tudo levou o 3º Prêmio Ayrton de Almeida Carvalho de Preservação do Patrimônio Cultural, promovido pela Fundarpe.

Otávio, 40 anos, começou a dançar frevo aos 17. “O que me fez criar o canal no Youtube é que grande parte das informações sobre o ritmo estão em publicações de no máximo mil exemplares, a maioria acadêmica, cuja linguagem não é fácil e nem atraente. Muitas vezes a linguagem nem se conecta com a forma como se fala hoje”, explica. A premiação da Fundarpe, inclusive, reconheceu como ousada a estratégia de produzir esse tipo de conteúdo cultural em um espaço “tão carregado de informações” como o Youtube.

Alguns dos assuntos do programa são o suposto fim do frevo, a história dos bonecos gigantes, do confete e da serpentina, a contemporaneidade do frevo, entre outros. Otávio tem uma longa carreira como passista. É discípulo de Nascimento do Passo e passou dez anos dançando com Antônio Carlos Nóbrega. Além de dar aulas de frevo no Paço, no Recife Antigo, também viaja para o exterior todos os anos para promover e ensinar o ritmo. As turmas no Paço do Frevo sempre são formadas uma semana após o carnaval. As aulas promovem uma melhoria da capacidade cardiorrespiratória e os participantes ainda perdem calorias usando a criatividade. É uma ótima oportunidade para quem não gosta de academia.

Otávio usa o chamado estilo cinquentão em suas aulas. Nesse tipo de frevo, a pessoa não precisa ser um acrobata ou ir ao chão para dançar. “O passista usa a munganga, como alguém que esquece o que ia falar em uma palestra e improvisa no meio. A ideia principal não é dançar para o outro olhar, mas encontrar prazer no próprio corpo dançando”, compara.

No final das aulas, as luzes do salão são apagadas e as pessoas dançam no escuro. Muitas vezes, diz ele, o aluno não sente apenas vergonha de se apresentar na frente do outro, mas de ver a si mesmo dançando, daí o apagar das luzes. “A ideia é dançar para si. Não para tu. É a experiência de ser mais importante que o olho do outro”, explica. O próprio Otávio é um ponto fora da curva. Quando começou a frevar, era alto - tem 1,93 m -  e magro, diferentemente dos demais passistas, fortes e mais baixos. “Por isso inventei a minha forma de dançar, que tinha total relação com o estilo cinquentão”, lembra.

Pouco a pouco, diz ele, as pessoas que participam das aulas se descobrem e quebram a ideia de serem perfeitas. “Ao quebrar esse conceito, o aluno descobre quem ele é - que nem sempre é o que você gostaria - mas que tem uma beleza também, uma forma de se movimentar somente dele, como um tipo de poética pessoal dançante, onde cada um tem sua impressão digital.” O canal Mexe com tudo pode ser encontrado com esse nome no Youtube.