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Caso Daniel: mulher do assassino quer indenização em patrimônio do jogador

Correio Braziliense | 29/02/20 - 15h40
Daniela Sevieri/Banda B

Ao lado de Cristiana e Allana, o advogado da família Brittes, Cláudio Dalledone Júnior, concedeu coletiva na noite dessa sexta-feira (28/2) para falar sobre a decisão de os réus acusados de envolvimento na morte do jogador Daniel Correa irem a júri popular. O defensor afirmou que irá entrar na Justiça com um pedido de indenização contra o espólio (patrimônio) do jogador.

Dalledone alega que a decisão juíza Luciani Martins de Paula de retirar a acusação do crime de homicídio contra Cristiana Brittes, esposa do assassino confesso Edison Brittes, permite a ação judicial. “Ela merece uma indenização”, diz o advogado. Cristiana e Allana ficaram caladas e não demonstraram nenhuma reação ao longo da coletiva. Elas irão a julgamento por fraude processual, corrupção de menor e coação do curso do processo.

Ao longo de todo o processo desde a prisão, a defesa alegou que Daniel tentou estuprar a mulher. Mas essa versão foi descartada ao longo das investigações feitas pela Polícia Civil e Ministério Público do Paraná. Durante a coletiva nesta sexta-feira, a defesa mudou o tom e não citou nenhuma vez a palavra estupro.

Dalledone falou em “importunação sexual” e “abuso”. Segundo ele, Cristiana é a maior vítima na história. “Ela foi importunada sexualmente, ela teve a imagem dela defasada por esse sujeito (Daniel), ela é vítima de crime do sujeito. A situação que se desenrolou (a morte do jogador) ela terá suas justificativas de esclarecimento”, afirma.

“Mas o reconhecimento de parte do poder judiciário de que Cristiana não participou do homicídio é dizer, com todas as letras, que o jogador Daniel importunou sexualmente, cometeu crime, sim, e a ação dele desencadeou esse outro absurdo que foi, infelizmente, o assassino de sua pessoa”, prossegue. A reportagem tenta contato com a defesa do Daniel para comentar as falas e acusação contra o jogador. 

“Daniel não é um anjo”

O defensor lamentou a morte do jogador, mas disse que ele a causou. “Ele (Daniel) morreu tragicamente, mas ele lançou as coordenadas da sua própria vitimização. Ele abusou de uma mulher que dormia vulnerável, porque embriagada (estava) na cama. Ele abusou dessa mulher, gravou um áudio, fez fotografia e divulgou”, alega.

Dalledone reiterou a acusação contra o jogador. “Ele cometeu crimes antes de ser pego e de ter ocorrido essa tragédia que todos nós lamentamos, mas Daniel não é um anjo não. Nessa histórias não existe anjos e nem demônios. Eu quero avisar a todos que agora é hora de pedir desculpas para Cristiana, ela não é pivô de coisa alguma. Quem apertou o botão da tragédia de tudo isso foi o jogador Daniel”, diz.

“Quem pedirá desculpas a Cristiana Brittes?”

O advogado também questionou, em nota (veja abaixo), quem se desculpará sobre acusações feitas contra Cristiana, em especial pela imprensa. “Cristiana Brittes foi vítima de machismo, de preconceito, teve sua condição de mulher mutilada por uma opinião pública preconceituosa e reportagens criminosas em muitos casos. Cristiana foi e é a maior vítima de toda essa trágica história marcada pelo desrespeito a condição da mulher”, diz trechos da nota. 

Relembre o caso Daniel

O jogador Daniel Corrêa Freitas foi encontrado morto e degolado em 27 de outubro, em São José dos Pinhais (PR), após participar da festa de aniversário de Allana Brittes, em uma boate de Curitiba. A comemoração continuou na casa da família Brittes.

As investigações apontaram que ele foi agredido na casa após ser flagrado na cama com Cristiana Brittes. O assassino alega que Daniel tentou estuprar a mulher, versão que a polícia e o Ministério Público descartam.

Edison Brittes, Cristiana Brittes e Allana foram presos quatro dias após o crime. Logo depois, às investigações levaram à prisão de mais três pessoas que estavam na casa e teriam participado da execução do jogador.

Inicialmente, a Polícia Civil denunciou seis pessoas: a família Brittes e os três presentes na casa que teriam participado da agressão. O Ministério Público do Paraná, porém, decidiu denunciar também Evellyn Brisola Perusso, a jovem que trocou beijos com o jogador horas antes da morte.

O que diz a lei

O crime de importunação sexual é caracterizado pela realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem sua anuência. Quem praticá-lo poderá pegar de 1 a 5 anos de prisão. Já o crime de estupro é constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. A pena vai de 6 a 10 anos de prisão.

Veja na íntegra nota da defesa de Cristiana

"A Defesa Técnica de Cristiana Brittes recebe a decisão de impronuncia da acusação de homicídio com naturalidade e certeza genuína de sua inocência. Cristiana foi a primeira vítima naquela fatídica noite quando teve seu quarto invadido e foi importunada sexualmente por Daniel Correia Freitas enquanto dormia. Cristiana Brittes foi vítima de machismo, de preconceito, teve sua condição de mulher mutilada por uma opinião pública preconceituosa e reportagens criminosas em muitos casos. 

Restou provado que Cristiana Brittes foi feita de bode expiatório em uma acusação monstruosa que a levou ao cárcere de maneira covarde e injusta. Cristiana foi massacrada por apresentadores irresponsáveis  que espalharam criminosamente notícias falsas que feriram sua honra e condição de mulher, mas acima de tudo, sua condição de ser humano. 

Cristiana é inocente da monstruosa acusação de homicídio qualificado. Cristiana foi e é a maior vítima de toda essa trágica história marcada pelo desrespeito a condição da mulher. “Quem pedirá desculpas a Cristiana Brittes?”,

Cláudio Dalledone Júnior"