Brasil

Chico Buarque é o novo ganhador do Prêmio Camões

Folhapress | 22/05/19 - 09h10
Reprodução Facebook

Chico Buarque é o novo vencedor do Camões, principal troféu literário da língua portuguesa, anunciou o júri na tarde desta terça-feira (21), após reunião na sede da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Chico foi eleito por unanimidade e vai receber € 100 mil (R$ 452 mil).

Passaram-se horas desde para quem alguém conseguisse avisar a Chico que ele era o vencedor. Luiz Schwarcz, seu editor, Marieta Severo, sua ex-mulher, dois assessores e o júri do Camões desde 16h tentavam contato com Chico -mas ele está em Paris para passar seu aniversário, que é em junho, e não atendia as ligações. Só por volta de 19h30 eles conseguiram falar.

"Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar", disse o compositor, em breve nota enviada por sua assessoria de imprensa.

O Camões, criado em 1988, elege todo ano um autor de qualquer país falante do português. A escolha é um reconhecimento da obra completa do autor, em vez de apenas a uma obra específica. O último brasileiro eleito havia sido Raduan Nassar, autor de "Lavoura Arcaica", em 2016. No ano passado, o Camões foi para Germano de Almeida, escritor de Cabo Verde.

Em nota, o júri do troféu disse que escolheu Chico tanto pela qualidade de sua obra quanto pela sua "contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa". Os jurados destacaram ainda o "caráter multifacetado" de seu trabalho, que passa pela poesia, o teatro e o romance. "Seu trabalho atravessou fronteiras e mantém-se como uma referência fundamental da cultura do mundo contemporâneo", diz o júri, na nota.

Entre os autores que já ganharam, Chico é o primeiro que tem na música popular sua obra principal -Jorge Amado, que venceu em 1994, chegou a fazer composições com Dorival Caymmi, mas é mais conhecido por seus livros. O mesmo acontece com Ferreira Gullar, vencedor em 2010, que chegou a compor músicas de sucesso para Fagner -mas também é conhecido principalmente por sua obra poética.

"Evidente que esse prêmio é um reconhecimento pela poesia dele nas letras de música, que também são literárias, não só pelos livros. São poemas. Grandes poemas. A música 'Construção', por exemplo, é um poema até raro de se fazer", diz o escritor Antonio Cicero, um dos membros do júri, ele também compositor.

Cicero argumenta ainda que o debate sobre se a canção é ou não um gênero literário já deveria estar encerrado.

"Os primeiros poemas ocidentais conhecidos, alguns dos melhores já feitos, que são os gregos, com os épicos de Homero e os líricos como os de Safo, eram poemas musicados. A palavra lírica vem de lira. A poesia lírica era toda cantada. Seria uma tolice pretender que a letra de música [não seja vista] como grande poema", afirma.

Além de Antonio Cicero, participaram do júri Clara Rowland e Manuel Frias (Portugal), Antônio Carlos Hohlfeldt (Brasil), Ana Paula Tavares (Angola)​ e Nataniel Ngomane (Moçambique).

​Além de compositor de vários dos maiores clássicos da música brasileira, Chico também tem uma breve -mas premiada- obra literária. Seu último livro foi "O Irmão Alemão", mas já publicou também "Budapeste" e "Leite Derramado", entre outros.

O Camões parece se espelhar no Nobel de literatura, que, em 2016, deu o prêmio a Bob Dylan. Como no caso do troféu sueco, não será inesperado se a notícia agora fustigar um debate sobre se a canção pode ser tratada como gênero literário -e se honrarias do tipo estão corretas em premiar músicos.

SAIBA QUEM FORAM TODOS OS VENCEDORES DO CAMÕES:

  • 1989 - Miguel Torga, Portugal
  • 1990 - João Cabral de Melo Neto, Brasil
  • 1991 - José Craveirinha, Moçambique
  • 1992 - Vergílio Ferreira, Portugal
  • 1993 - Rachel de Queiroz, Brasil
  • 1994 - Jorge Amado, Brasil
  • 1995 - José Saramago, Portugal
  • 1996 - Eduardo Lourenço, Portugal
  • 1997 - Artur Carlos M. Pestana dos Santos, o Pepetela, Angola
  • 1998 - Antonio Cândido de Melo e Sousa, Brasil
  • 1999 - Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal
  • 2000 - Autran Dourado, Brasil
  • 2001 - Eugênio de Andrade, Portugal
  • 2002 - Maria Velho da Costa, Portugal
  • 2003 - Rubem Fonseca, Brasil
  • 2004 - Agustina Bessa-Luís, Portugal
  • 2005 - Lygia Fagundes Telles, Brasil
  • 2006 - José Luandino Vieira, Angola
  • 2007 - António Lobo Antunes, Portugal
  • 2008 - João Ubaldo Ribeiro, Brasil
  • 2009 - Armênio Vieira, Cabo Verde
  • 2010 - Ferreira Gullar, Brasil
  • 2011 - Manuel António Pina, Portugal
  • 2012 - Dalton Trevisan, Brasil
  • 2013 - Mia Couto, Moçambique
  • 2014 - Alberto da Costa e Silva, Brasil
  • 2015 - Hélia Correia, Portugal
  • 2016 - Raduan Nassar, Brasil
  • 2017 - Manuel Alegre, Portugal
  • 2018 - Germano Almeida, Cabo Verde