Futebol Internacional

Conheça a história de Kanté, volante vencedor da Champions League com o Chelsea

Ogol | 30/05/21 - 21h50
Reprodução Twitter

A história começa como a de muitos descendentes de imigrantes africanos que buscam uma melhor vida em Paris: rejeição social em meio a uma infância dura, com muito trabalho e pouco tempo para sonhar. Mas N´Golo Kanté pegou os limões mais azedos e os transformou em uma bela limonada. O volante, campeão da Liga dos Campeões no sábado, tem uma das histórias mais espetaculares do futebol. O sorriso de quem segura a "orelhuda" carrega com ele uma bagagem que muitos diriam que é insustentável. 

O nome de N´Golo já indica, por si só, que a vida de Kanté seria uma vida de superação, que exigiria muito sacrifício até o momento de glória. A inspiração de seus pais no nome veio de N´Golo Diarra, o ex-escravo que se tornou rei do Império Bambara no Mali entre 1766 e 1795. 

Kanté nasceu em Paris no dia 29 de março de 1991. Seus pais haviam se mudado do Mali para a capital francesa em busca de uma vida melhor. A mãe era faxineira, e o pai, um catador de lixo. Kanté teve uma infância dura, que teve, na verdade, como os momentos mais felizes os que o menino ajudava o pai nas ruas parisienses. Aos 11 anos, Kanté perdeu o pai. 

Ao longo da vida, e mesmo já depois de se tornar jogador profissional, Kanté teve de conviver com a partida de entes queridos. Irmãos que foram deixando a família cada vez menor. Kanté nunca se abateu e, desde os 11 anos, aprendeu a ser resiliente. A não se abater, mesmo com todas as sacudidas que a vida dava nele. É a tal da limonada...

Sucesso tardio no futebol 

Kanté, como dito, superou uma infância com muitos percalços nas periferias de Paris. Encontrou a saída, também como muitos filhos de imigrantes, no esporte. Tinha como grande sonho se tornar jogador de futebol profissional. E só. Não sonhava em ganhar a Copa do Mundo, ou mesmo a Liga Francesa. Queria jogar profissionalmente. 

Ainda antes de perder o pai, Kanté começou a jogar futebol no JS Suresnes, um time amador da região onde vivia, recomendado por um professor da escola. Por lá ficou até os 16 anos. 

Kanté sofreu para conseguir dar o próximo passo na carreira e encontrar um time para se profissionalizar. Foi recusado por equipes medianas da França até que o modesto Boulogne o acolheu. 

Em 2013, ou seja, há pouco mais de oito anos atrás, Kanté ainda estava jogando a terceira divisão francesa pelo Boulogne. Na temporada 2013/14, subiu de divisão para defender o Caen. 

O voo até a Inglaterra

Kanté defendia o Caen em 2015, já com a equipe na elite do futebol francês, quando um olheiro do Leicester City foi ver uma partida do clube. E não para observar o meia. 

David Mills, como lembrou anos mais tarde, foi ver um zagueiro, mas acabou sendo chamado a atenção pelo "baixinho Kanté". Não teve dúvidas, então, de quem levar para Leicester. 

"Eu fui ver um zagueiro, e aquele baixinho no meio-campo chamou a atenção de todo mundo, apesar do tamanho. Era mais ou menos assim: 'Quem dividiu a bola? Kanté. Quem roubou a bola? Kanté. Quem cortou a bola? Ah, é o Kanté de novo'", contou para o Leicester Mercury

Kanté foi, ainda em 2015, ao King Power Stadium por cinco milhões de libras. Sim, cinco milhões de libras. Na época, o meia já tinha 24 anos. Mas era apenas o começo do sonho... 

O melhor meia da Inglaterra 

N´Golo Kanté ficou apenas uma temporada em Leicester. Jogou o suficiente para dar razão a Mills: era, de fato, um jogador onipresente. Desde cedo, aprendeu a lutar por seu espaço no mundo, e nos gramados não era diferente. 

Sob o comando de Ranieri, Kanté fez uma Premier League fenomenal e o Leicester, de maneira inédita, acabou campeão inglês em uma das histórias mais incríveis do futebol.

Eleito o melhor jogador da Premier League em 2016, Kanté se mudou para Londres como reforço do Chelsea, que pagou seis vezes o que os Foxes haviam gastado para buscar o meia na França. 

Na temporada seguinte, Kanté repetiu o feito: foi campeão inglês e eleito o melhor jogador da Premier League. O "baixinho" que superou todas as adversidades de uma vida difícil nos subúrbios parisienses passou a colecionar troféus. 

Kanté, é verdade, nunca perdeu a humildade. Manteve-se avesso às câmeras, não por soberba, mas por timidez. Mas seguiu sendo registrado pelo futebol fenomenal. 

Pelos Blues, levantou também a Copa da Inglaterra e a Liga Europa. Em 2018, depois de ter perdido mais um irmão, Kanté manteve o foco no futebol e foi protagonista no título da Copa do Mundo pela França. 

Campeão inglês e do mundo vestindo azul, seja em Leicester, Londres ou Paris, Kanté alcançou outro feito magnífico no sábado: foi campeão da Liga dos Campeões, eleito o melhor jogador em campo. 

O sorriso tímido ao posar com a taça traz junto toda uma bagagem. Toda uma história de superação que é exemplo para muitos. Kanté é, na verdade, a essência do futebol. Do menino pobre que superou a infância difícil, as perdas e a realidade do futebol amador. Não se abateu com os "nãos" que a vida deu, seguiu lutando e, no fim, viveu todos os sonhos que nem ele mesmo sonhava. Sem deixar, porém, de ser o menino que ajudava o pai a recolher lixo nas ruas de Paris. O sorriso de Kanté é, não mais, que o sorriso de um final feliz.