Os mandados de prisão expedidos pela polícia alemã dizem respeito a uma variedade de crimes: roubo, chantagem, fraude e, inclusive, assassinato. A polícia classifica alguns deles como movidos por interesses políticos, outros como violentos. Mas todos têm uma coisa em comum: seus autores são extremistas de direita.
A lista, distribuída pelo Ministério do Interior da Alemanha, em maio, a pedido do Partido Die Linke, de extrema-esquerda, inclui 596 mandados de prisão para 462 criminosos de direita, o que mostra o aumento do extremismo desde que a Alemanha aceitou cerca de um milhão de imigrantes, em 2015.
“Está havendo um debate que divide a opinião pública a respeito dos refugiados que se dirigem para a Europa, principalmente para a Alemanha, e ao mesmo tempo, foi constatado um pico, menos reconhecido, das atividades e da violência por parte de indivíduos direitistas”, afirmou Gerd Wiegel, especialista em extremismo da direita.
Dos 462 transgressores contra os quais foram expedidos os mandados, 104 são procurados por crimes classificados como violentos e 106 por crimes classificados como de motivação política.
Enquanto é dada muita atenção aos crimes praticados por migrantes ou às ameaças do extremismo islâmico, o aumento da atividade dos extremistas de direita ocorre às surdinas. A escassa divulgação das estatísticas enfatiza a falta de coesão da atuação da polícia federal e de outras agências alemãs, além das deficiências do sistema descentralizado criado depois da Segunda Guerra Mundial.
Cada um dos 16 estados alemães controla a própria força policial, e as autoridades federais não divulgam as estatísticas nacionais. Em vez disso, elas são elaboradas em cada estado e divulgadas somente quando solicitadas por parlamentares, o que significa que o panorama dos desafios em que esbarra a segurança do país não é necessariamente completo.
Por exemplo, as estatísticas fornecidas pelo Ministério do Interior, em junho, atendendo às solicitações do Partido Verde, da oposição, mostraram um número ainda maior de mandados de prisão contra extremistas classificados como religiosos — 1.155 —, sendo que 804 destes foram emitidos em colaboração com a Interpol, que busca pessoas que teriam combatido na jihad, no Oriente Médio.
Ao mesmo tempo, o número de ataques violentos realizados por extremistas de esquerda declinou no ano passado, com 167 mandados, depois de um aumento considerável em 2015, como mostra o relatório do Partido Verde.
O Ministério do Interior registrou 1.698 crimes violentos por motivações políticas da direita em 2016, em comparação com 1.029 em 2014, aumento provocado, segundo Hajo Funke, professor emérito da Universidade Livre de Berlim, por um “clima de ódio” em relação aos refugiados.
A relutância das autoridades alemãs a perseguir grupos de direita foi comprovada principalmente em novembro de 2011, quando foi revelado que um grupo de terroristas de direita foi responsável por dez anos de violência durante os quais oito homens de origem turca, um grego e uma policial perderam a vida.
O processo por assassinato da única sobrevivente da célula, Beate Zschäpe, começou em 2013 e ainda não se encerrou, e as agências de notícias informaram recentemente que as famílias das vítimas estão processando o governo por diversos equívocos e pela demora nas investigações.
Por outro lado, a prisão de extremistas de direita no país pode ser particularmente difícil, na opinião de vários especialistas, por causa das rigorosas leis antinazistas que os obrigam a agir nas sombras.
“Hoje, ao constatarmos também o aumento do número de indivíduos que cometem estes crime, e a impossibilidade de eles serem encontrados, crescem as preocupações com os mais perigosos, levados a atuar na clandestinidade”, afirmou Jonathan Birdwell, do Instituto para o Diálogo Estratégico em Londres.