O Ceará voltou a ser alvo de ataques criminosos oito meses depois da onda que com mais de 280 ações e que fez agentes da Força Nacional de Segurança serem deslocados para o estado.
Desde a noite de sexta-feira (20), ao menos 35 ataques foram cometidos contra ônibus, carros em concessionárias, caminhões, prédios públicos e privados e torres de telefonia. Eles ocorreram na capital, na região metropolitana e no interior.
Até a conclusão desta edição, 28 pessoas haviam sido detidas, e quatro adolescentes, apreendidos, sob suspeita de participação nos ataques. Um dos suspeitos deu entrada em hospital com 70% do corpo queimado após tentativa de queimar dois ônibus na cidade de Canindé, a 120 km de Fortaleza.
Na última ação, na tarde desta terça (24), um carro de entrega dos Correios foi queimado em Fortaleza. Dez cidades, incluindo a capital, sofreram ataques. A frota de ônibus estava reduzida em 30% no início da noite desta terça, e vários pontos e terminais estavam cheios. Linhas consideradas mais perigosas circulavam com escolta policial.
Pela manhã, uma concessionária teve carros incendiados em um bairro rico de Fortaleza, e ao menos 16 veículos acabaram atingidos. O alvo é diferente daquele das ações de janeiro, que se concentraram, na maioria, no interior e em regiões periféricas da capital.
Ao menos dez ônibus e micro-ônibus já foram incendiados em todo o estado desde sexta (20). A Secretaria de Segurança solicitou que policiais militares de férias ou de folga se apresentem para ajudar no patrulhamento das ruas.
São alvos de ataques também caminhões de lixo e carros de concessionárias de energia e água e esgoto.
O Governo do Ceará atribui o movimento a membros de facções criminosas por motivo semelhante ao de janeiro: o endurecimento de regras em unidades prisionais.
"O governo tem agido dentro e fora das prisões cearenses, cortando comunicação, isolando e transferindo chefes criminosos, punindo de forma rigorosa atos de indisciplina e acabando com todo e qualquer tipo de regalia nos presídios", disse o governador Camilo Santana (PT) em rede social.
Um arquivo de áudio vazado do Secretário de Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque Araújo, atribui os ataques a uma das três facções que atua com mais força no Ceará, a GDE (Guardiões do Estado). A inteligência da polícia, entretanto, ainda apura se há, como em janeiro, uma coalizão de forças entre a GDE, o PCC e o Comando Vermelho para os novos ataques.
Nesta terça, a Secretaria de Administração Penitenciária anunciou a transferência de 257 presos ligados à GDE de presídios de Pacatuba, Quixadá e Aquiraz, no interior. "Isolamos os internos pertencentes a esse grupo. Com esse controle, nós criamos o ambiente seguro e impossibilitamos qualquer comunicação com o mundo externo", disse Albuquerque.
Segundo fontes do governo, foi encontrado com presos bilhete com um "salve" para que os ataques ocorressem em "comércios, shoppings, postos de gasolina, supermercados e concessionárias". Há preocupação de que, desta vez, prédios privados, com maior circulação de pessoas, sejam alvos preferenciais.
Ao assumir o segundo mandato, em janeiro, Camilo Santana criou a Secretaria de Administração Penitenciária justamente para endurecer as regras nas unidades prisionais. O governador identificou que boa parte da violência do estado tinha como fator regalias que alguns presos tinham nas unidades e a facilidade de contato com o exterior.
Alguns lideres de facções, após os ataques do começo deste ano, foram transferidos para presídios federais. Uma tentativa de fuga, registrada há algumas semanas, pode ter sido o estopim da nova onda, já que após isso houve endurecimento de algumas unidades para coibir novas tentativas.