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Entenda como Roberto Medina usará área do Rock in Rio para parque temático

Yuri Eiras/Folhapress | 28/09/24 - 21h49
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O idealizador do Rock in Rio, Roberto Medina, tenta viabilizar a construção de um parque temático de 385 mil metros quadrados no Parque Olímpico, na Barra, zona oeste do Rio de Janeiro. O plano tem apoio e autorização do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD).

O Parque Olímpico recebeu 14 modalidades nos Jogos do Rio-2016, como ginástica, ciclismo de pista, judô e basquete. Atualmente, recebe eventos esporádicos. Uma das arenas se transformou em escola municipal --ela não será afetada pela construção do parque temático.

Outras arenas temporárias foram desmontadas e tiveram as estruturas utilizadas para construção de escolas. As promessas foram cumpridas cinco anos depois dos Jogos.

O Parque Olímpico recebe edições do Rock in Rio desde 2017. A ideia de Medina é manter a estrutura do festival permanentemente no local a partir da próxima edição, em 2026, e ainda construir um resort e parque de diversões, com montanha-russa e roda-gigante, que funcionem o ano todo, não somente em períodos de festival.

O projeto foi batizado de Imagine e tem previsão de lançamento em 2028. Idealizadores calculam investimento de até R$ 1,3 bilhão para a construção.

A ideia do projeto foi anunciada antes da última edição do Rock in Rio, no início de setembro, e contou com a presença de Paes.

Apesar da pompa do anúncio, o projeto ainda não pode sair do papel: faltam a concessão do terreno, ainda em negociação, e a autorização da Câmara do Rio.

A obra do Parque Olímpico foi feita através de parceria público-privada: o consórcio Rio Mais, formado pela Novonor (antiga Odebrecht), Carvalho Hosken e Andrade Gutierrez, ficou responsável por construir os empreendimentos -além de arenas, centro de mídia, hotel e vila dos atletas. Em troca, teria o direito de erguer condomínios na região.

As instalações esportivas e não esportivas do Parque Olímpico da Barra custaram, ao todo, R$ 1,6 bilhão, segundo a matriz de responsabilidades da Olimpíada. O Rio Mais adquiriu financiamento de R$ 1,4 bilhão junto à Caixa Econômica Federal para fazer as construções.

Mas o mercado imobiliário esfriou, construtoras enfrentaram crises, o consórcio não conseguiu pagar e o empréstimo virou uma dívida que chega a R$ 2 bilhões, segundo afirmam envolvidos sob reserva.

Um consórcio formado pela Genial Investimentos e a Rock World, responsável pelo Rock in Rio, negocia com o Rio Mais como será oficializado o repasse da concessão do terreno. A dívida é o principal obstáculo: assumi-la, dividi-la ou negociar o perdão, ainda que parcial, com a Caixa.

Outro obstáculo para o projeto de Medina é que a Câmara do Rio ainda não votou o projeto de lei enviado em maio pelo Executivo, que regulamenta a política de construção no parque.

O projeto de lei prevê a criação do Parque do Legado Olímpico Rio 2016, que vai abranger todas as estruturas que foram utilizadas nos Jogos. Com a criação deste Parque, a prefeitura quer autorizar a operação urbana consorciada, ferramenta que transfere o potencial construtivo do Parque Olímpico para outras partes da cidade.

Ou seja: o novo dono do espaço, que teria direito de construir prédios altos no local mas decidiu por outro tipo de empreendimento --no caso, um parque temático-- pode transferir esse direito para erguer prédios altos em outra parte do Rio de Janeiro, como a avenida Brasil e outras regiões da Barra e Jacarepaguá.

A ferramenta da operação urbana consorciada é utilizada em outros empreendimentos já autorizados por Paes, como a reforma de ampliação do estádio de São Januário.

"Além do Rock in Rio manter suas estruturas permanentes, estamos valorizando o legado e deixando o espaço pronto para diversas manifestações de entretenimento", afirmou Roberto Medina no lançamento do plano.

"Já temos a estrutura do Parque Olímpico praticamente pronta para dar vida ao Imagine. Temos que assumir o entretenimento como a chave para alavancarmos a economia da cidade."

A empresa Rock World, de Medina, quer controlar pelo menos mais uma área no Rio: a construção de um autódromo em Guaratiba, zona oeste, foi autorizada por vereadores no ano passado, após projeto de lei enviado à Câmara por Paes.

O projeto do autódromo é da Rock World e a ideia é que o Rio volte ao circuito da Fórmula 1. Ativistas ambientais são contra o projeto.

No Parque Olímpico, o novo empreendimento de Medina não vai ocupar espaços que já são geridos pela prefeitura, como a escola, ou por outras concessionárias.

O Centro de Treinamento do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), vizinho ao Parque Olímpico, é administrado pelo Comitê. A concessão da prefeitura foi renovada em 2022 até 2048.

Ali ficam o CT de ginástica artística, onde treinam atletas da seleção brasileira, como Rebeca Andrade e Flávia Saraiva, e o Parque Aquático Maria Lenk, utilizado diariamente por equipes de natação, nado artístico e saltos ornamentais.

Ao lado do CT do COB fica a Farmasi Arena, casa de shows administrada pela GL Events, que também não vai ser modificada.

O projeto de Medina prevê dez setores de entretenimento em um espaço de 385 mil metros quadrados. Dentro do Imagine será construído um anfiteatro de 38 mil metros quadrados para 40 mil pessoas. A ideia é receber grandes shows internacionais.

Já em funcionamento, o parque Rita Lee, com pista de skate, muro de escalada e chafariz, também ficará sob o guarda-chuva dos organizadores do Rock in Rio.

Perto da lagoa de Jacarepaguá o plano é erguer um parque de diversões de 56 mil metros quadrados. Uma montanha-russa com efeitos especiais de luzes, fogo e água foi o principal destaque do lançamento do plano, em setembro.

O plano ainda prevê resort, polo gastronômico, uma arena gamer, um museu olímpico e o Global Village, uma cidade cenográfica que imita, em tamanho menor, marcos arquitetônicos dos seis continentes.

O Global Village já foi construído nas duas últimas edições do Rock in Rio, de 2022 e 2024, mas precisou ser desmontado já que o projeto de lei ainda impede de tirar o parque Imagine do papel.

O Rock in Rio acabou domingo (22), e desde terça-feira (24) funcionários desmontam das estruturas da Cidade do Rock. A previsão informal de organizadores é retirar tudo em até um mês.