Brasil

Entregador agradece apoio após ser vítima de racismo: ‘É indignação o que a gente sente’

Cliente proibiu a entrada do entregador em condomínio de luxo por ele ser negro

G1 | 28/10/20 - 09h56
Foto: Reprodução

O entregador Elson Oliveira, de 39 anos, vítima de racismo ao tentar tentar entregar um pedido em um condomínio de luxo de Goiânia, agradeceu o apoio recebido nas redes sociais após o caso vir à tona. Apesar das mensagens, ele diz que a situação o magoou. Por meio de mensagens de aplicativo, uma cliente o chamou de macaco e proibiu a entrada dele no residencial. A Polícia Civil investiga quem escreveu o texto.

“É indignação o que a gente sente. É muito dolorido para a gente que trabalha nessa área passar por uma situação como essa”, disse.

Entregadores protestaram, na tarde desta terça-feira (27), em frente ao condomínio em que estava prevista a entrega dos sanduíches encomendados de uma hamburgueria. Eles fizeram um buzinaço e estenderam uma faixa contra o racismo.

Em nota, o residencial informou que está à disposição para colaborar com as investigações. O aplicativo Ifood informou que já identificou e baniu a usuária suspeita de enviar as mensagens e que entrou em contato com a empresa para prestar apoio psicológico ao entregador.

Como o nome da cliente não foi divulgado, o G1 não conseguiu localizá-la para que se posicionasse sobre a denúncia.

Enlson relata que nunca tinha passado por uma situação semelhante. “Na hora, não acreditei. Voltei de cabeça baixa. É muito dolorido quando acontece com você. Você não espera que isso vá acontecer, porque tem muitos meios de comunicação que falam sobre isso e as pessoas continuam com esses atos”, lamentou o entregador.

Inconformada com a situação, a gerente decidiu postar as conversas na internet. Elson se comoveu com a repercussão. “Quero agradecer a todos que estão se sensibilizando pela situação. Primeiramente à minha colega, Carol, que divulgou esse caso nas redes sociais. Obrigado a todos”, disse.

Registro na polícia

O dono da hamburgueria, Éder Leandro Rocha, a gerente e o entregador foram, na tarde desta terça-feira, registrar o caso na Polícia Civil e prestar depoimento. Representantes de movimentos dos direitos dos negros também compareceram à delegacia par cobrar providências.

A delegada Sabrina Leles informou que vai pedir dados junto ao aplicativo para tentar identificar a cliente que fez os ataques e conseguir o endereço, pois a equipe da sanduicheria tem poucos dados registrados no pedido.

De acordo com a delegada, ela ainda encaminhou dois ofícios, um ao condomínio e outro ao aplicativo de entrega. O objetivo é identificar se há algum morador no residencial com o nome e endereço informados no pedido e também ter acesso ao banco de dados de usuários do Ifood para verificar quem fez o pedido e utilizando qual login.

Em nota, a administração do condomínio informou que repudia qualquer ato de racismo e que "a administração busca os dados da cliente que fez o pedido à hamburgueria para verificar se trata-se, de fato, de um morador".

"O residencial também solicitará ao aplicativo de entrega de comida que informe a localização exata do cliente na hora do pedido, pois seu sistema permite que o solicitante esteja em local diferente do endereço da entrega", diz o comunicado.

Mensagens racistas

O caso aconteceu na noite de domingo (25). Elson foi levar o pedido, mas o endereço estava incompleto no cadastro. A gerente da hamburgueria, Ana Carolina Gomes, enviou uma mensagem pelo aplicativo pedindo o número da quadra e do lote e solicitando a entrada do funcionário.

A cliente, então, digitou: “Esse preto não vai entrar no meu condomínio. Mandar outro motoboy que seja branco. Eu não vou permitir esse macaco”.

Diante das respostas, a gerente cancelou o pedido, dizendo que não aceitaria o ato de racismo. Ela conta que teve até dificuldade em relatar a situação ao entregador. “Ele chegou aqui e disse: ‘Ah, é difícil a pessoa não querer que eu entregue porque eu não sou branco’”, disse.