Nordeste

Estudante de Pernambuco é destaque na lista Under 30 da revista Forbes

UFPE | 11/01/20 - 21h15
MAN Truck & Bus/Divulgação

A estudante de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e empresária pernambucana Simony César, 27 anos, é destaque na lista Forbes Under 30 Brasil. A lista da publicação traz 90 jovens promissores de 15 categorias diferentes, e a criadora da Nina, que permite denunciar casos de assédio na mobilidade urbana, figura entre os nomes de destaque na área de tecnologia e inovação. A Nina também está entre as oito startups escolhidas no mundo todo (dentre as 300 que se candidataram) pelo MAN Impact Accelerator, programa de aceleração da MAN Truck & Bus (braço de veículos pesados da Volkswagen), e participa de treinamentos para escala de sua empresa na Alemanha, Portugal e África do Sul, entre outras localidades, por oito meses.

A Nina, desenvolvida por ela, atualmente integra o aplicativo de transporte público Meu Ônibus Fortaleza, que teve um aumento de 25% nos downloads depois da parceria, e traz mais segurança para os mais de 1 milhão de usuários. Basta apertar um botão para que vítima ou testemunha denunciem o ato de violência: as imagens captadas pelas câmeras dos veículos são gravadas e enviadas à Polícia Civil para viabilizar a identificação do agressor. “A Nina traz dados inéditos para o Brasil. Até então tínhamos estimativas, agora é algo com alta precisão que vem ajudando, além da segurança, no planejamento da cidade como um todo. É possível mapear as áreas de maior vulnerabilidade urbana e melhorar a iluminação desses locais, por exemplo”, aponta.

A empresária conta que a Nina surgiu de uma preocupação familiar. Nascida e criada no bairro de Dois Unidos, com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Recife, ela é filha de uma ex-cobradora de ônibus e se preocupava desde criança com a violência à qual sua mãe era exposta. “Eu cresci tendo que me preparar pra ver minha mãe pela última vez quando ela ia trabalhar, essa é a realidade. Já na universidade, um dos meus primeiros estágios foi numa grande empresa de ônibus, na qual eu pude ter acesso à logística de administração e tráfego. Vi que as demandas de assédio não eram tratadas. Com a minha vivência já da infância, depois presenciando isso com um misto de indignação e impotência, resolvi agir”, relata.

RECONHECIMENTO – A pernambucana nos últimos anos colecionou destaques nacionais e internacionais. Ela foi indicada pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) ao Brics Young Innovator Prize 2018 – prêmio que reconhece jovens cientistas que desenvolveram soluções inovadoras para melhorar as condições de vida nos países emergentes - e foi finalista na categoria Sociedade Civil no Prêmio Viva 2019, uma parceria do Instituto Avon com a revista Marie Claire, e do Voe Gol Novos Tempos 2018, voltado para jovens que querem democratizar a mobilidade no Brasil. Confira a entrevista:

1. O que representa para você estar na lista Under 30 da revista Forbes?

Significa poder gritar para todo mundo a questão da desigualdade social, que a gente não parte do mesmo ponto e que tem muita gente que está para trás ainda e isso tem que mudar. Nessa perspectiva, traz também esperança: agora que estou aqui, vou gritar - para quem quiser e quem não quiser ouvir - que a classe C, D e E também pode, através de programas sociais, com muito esforço e estudo, alcançar espaços. A Forbes é um, mas há muitos outros. O que não pode é a gente ficar calado diante de tanta desigualdade social e na perpetuação da pobreza. A gente tem que quebrar esse ciclo e dizer que a gente pode mudar esse cenário. Meritocracia, nessa perspectiva posta no capitalismo, é uma falácia.

2. Como está sendo participar do programa de aceleração da MAN Impact Accelerator?

Está sendo indescritível. Eu nunca estudei inglês em cursinho, meu inglês foi de ver filmes e ouvir música. Estava com muito medo porque o processo de aceleração é todo em inglês. Mas todo mundo foi extremamente receptivo e sempre olhou para mim com muito cuidado e atenção. Não só eu estou aprendendo, mas parece que, do outro lado, eles também, querendo entender a perspectiva de pessoas de origem periférica com relação à mobilidade do transporte público da América Latina. Está sendo uma rica aprendizagem poder trocar essa experiência. Vamos entrar agora na etapa de desenvolver parcerias com outras empresas que são estratégicas para a gente.

3. Como funciona a consultoria para quem deseja instalar a Nina?

A Nina em si não é a tecnologia, mas uma empresa que tem um braço de consultoria e gênero, e a gente tem um produto tecnológico. Esse produto não opera sem uma consultoria: para entrar em qualquer cidade, a gente faz o estudo do local, diagnóstico, levantamento de equipamentos públicos, se há uma política pública com relação ao combate de violência de gênero na mobilidade urbana, se há um protocolo, quem atende etc. Se não há, a gente cria e desenvolve com o poder público. Se há, a gente faz melhorias. Depois de fazer toda essa articulação com o poder público é que a gente usa nossa tecnologia para integrar esse protocolo que a gente estabeleceu na cidade.

4. Quais são as perspectivas da ferramenta Nina para 2020?

A gente está em fase de expansão para mais cinco cidades, em uma parceria com o Cittamobi. Não posso citar ainda os nomes, mas infelizmente o Recife não está nessa lista. Espero que os governos municipal e estadual possam em breve usar essa tecnologia pernambucana e que possam um dia deixar de usar, pois o grande objetivo da Nina é esse: deixar de ser necessária. A Nina não é só uma tecnologia de reporte de casos de assédio, mas uma plataforma rica em dados sobre violência de gênero na mobilidade urbana. O que a gente quer de fato é influenciar políticas públicas, pois as cidades não são projetadas para as mulheres e nem por mulheres, em sua maioria. Se a gente consegue pensar em quem está na base da pirâmide social, que é essa mulher negra e periférica, a gente consegue fazer uma cidade mais inclusiva para todo mundo.