Saúde

EUA aprovam tratamento inédito para depressão pós-parto

A brexanolona é a primeira substância desenvolvida exclusivamente para tratar mães que apresentam o distúrbio após dar à luz

VEJA.com | 20/03/19 - 23h34
Gravidez | Pixabay

A FDA, agência americana que regulamenta medicamentos e alimentos, aprovou o primeiro tratamento exclusivo contra depressão pós-parto. O remédio brexanolone, comercializado pela Sage Pharmaceuticals com o nome comercial Zulresso é injetável. Ele é administrado via endovenosa, ao longo de 60 horas. Por isso, sua disponibilidade é exclusiva de um programa de saúde restrito do país, onde o medicamento só poderá ser aplicado em consultórios e clínicas específicos.

A substância é uma forma sintética do hormônio humano allopregnanolona, desenvolvida especificamente para o tratamento desse distúrbio. Os efeitos colaterais incluem boca seca, ondas de calor, sedação excessiva ou perda súbita de consciência durante a administração.

A grande vantagem do novo medicamento é o efeito rápido: começa a reduzir os sintomas da depressão em apenas 48 horas. Até o momento, eram utilizados antidepressivos comuns, em especial os que agem na serotonina, neurotransmissor associado à sensação de bem-estar. O remédio, porém, leva um longo período para produzir efeito – não menos que duas semanas. A diferença no calendário quanto ao começo do efeito é uma enormidade para quem sofre do terrível abatimento e tem um recém-nascido nos braços.

A brexanolona foi testada em 226 mulheres com idade entre 18 e 45 anos, com bebês de até 6 meses de vida. Todas elas haviam sido diagnosticadas com depressão pós-parto com vários graus de intensidade. As pacientes com depressão grave que receberam uma única dose da medicação tiveram redução considerável na intensidade do transtorno – apesar da presença de efeitos colaterais como sonolência e tontura.

Conclusão: as portadoras de depressão severa passaram a sofrer da forma moderada ou leve do distúrbio. É como se uma mulher que não conseguisse levantar-se da cama para lidar com o filho pequeno passasse a fazer isso com alguma facilidade. Ela ainda tem o problema, sim, mas nada que a impeça de cuidar do filho. Como ainda não existem dados sobre a segurança do tratamento para a criança, as participantes tiveram de interromper a amamentação durante o tratamento.

Depressão pós-parto
Uma das principais hipóteses para as causas da depressão pós-parto é a gangorra nos níveis de hormônios no organismo feminino. Durante a gravidez, a mulher tem um aumento brutal de uma substância chamada alopregnanolona. Ela tem relação direta com um neurotransmissor de efeito calmante no organismo, o Gaba.

No período pós-parto, a queda da alopregnanolona é abrupta e algumas mulheres não se adaptam à diferença radical, o que leva à instabilidade emocional. O medicamento agora anunciado funciona como uma alopregnanolona sintética. Porém, casos severos de depressão pós-parto podem ter tido sua origem ainda durante a gravidez, segundo trabalho publicado na revista científica The Lancet Psychiatry. Ou seja, o tratamento poderia, em tese, começar antes mesmo do parto.

Apenas 30% das mães passam ­absolutamente incólumes por essa fase inicial tão delicada e intensa. As demais sofrem de depressão ou de tristeza. A tristeza, decorrente sobretudo da exaustão, das incertezas em relação a ter um bebê e da adaptação à nova vida, é completamente diferente da doença. Conhecida como baby blues, a tristeza é um sentimento deflagrado na primeira semana após o nascimento do bebê, em geral no terceiro dia, e termina espontaneamente por volta de duas semanas depois.

A persistência ou a intensificação do abatimento são sinais de alerta para um quadro mais grave que requer tratamento (veja o quadro ao lado). Deixada a seu próprio curso, a depressão chega a incapacitar para as atividades cotidianas, destrói laços afetivos, solapa a autoestima e provoca alterações abruptas de humor. Em cerca de 1% dos casos, as mulheres desenvolvem psicose pós-parto e podem chegar até a matar o bebê.