Parte dos bilhões movimentados por Glaidson Acácio dos Santos, o 'Faraó dos Bitcoins', e sua organização criminosa serviram para comprar um jatinho de R$ 3,9 milhões, segundo um relatório da Polícia Federal obtido pelo GLOBO. A aeronave foi adquirida nos Estados Unidos por intermédio de Ricardo Rodrigues Gomes, mais conhecido como 'Piloto', que já esteve envolvido no tráfico de cocaína vinda dos cartéis do colombiano Pablo Escobar.
Em julho de 2021, a aeronave foi adquirida por meio de um contrato de arrendamento em nome da empresa BG&GAS LLC, da qual Glaidson era sócio. O avião chegou ao Brasil em novembro daquele mesmo ano, meses depois da deflagração da Operação Kryptos, que prendeu o 'Faraó', em 25 de agosto.
A aeronave bimotor, fabricada pela Raytheon Aircraft em 2000, tem capacidade para até oito passageiros, além de dois tripulantes. De acordo com os documentos apresentados à Receita Federal na importação da aeronave, seu valor era de R$ 3.950.838,97.
Experiente com aeronaves, Ricardo Gomes foi preso em 2006 pela Polícia Federal por envolvimento em um caso de tráfico de drogas em um avião da Varig, ocorrido em 1989. No avião da empresa brasileira, uma tonelada de cocaína foi encontrada por autoridades americanas, em Miami. 'Piloto' fazia parte do esquema que colocava carregamentos da droga oriundos dos cartéis colombianos, como o de Pablo Escobar, dentro de aviões que partiam do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio.
De acordo com a PF, Gomes conseguiu obter uma identidade falsa através da emissão de documentos em Minas Gerais. Em 2021, ele já se encontrava em solo americano com o novo nome de Paulo Gomes Júnior, quando passou a atuar para Glaidson dos Santos. 'Piloto' era auxiliado pela filha, Brynne Gomes, também sócia da BG&GAS LLC.
A primeira conversa entre 'Faraó dos Bitcoins' e o 'Piloto' sobre a compra da aeronave aconteceu em fevereiro de 2021. Glaidson dos Santos pediu para que ele procurasse por um avião de 19 lugares e capaz de viajar de São Paulo até a Europa. Ricardo Gomes fez contatos com representantes do Bank of American, empresa que detinha a aeronave, e atuou como intermediário na negociação. Ele também realizou voos noturnos com o bimotor e checou os seus atributos técnicos.
Após a chegada do aeronave no Brasil, ela rapidamente foi trocada de dono sucessivas vezes. Seu último proprietário, de acordo com a PF, é uma empresa americana. Além da compra da aeronave, 'Piloto' atuou auxiliando Glaidson dos Santos e sua mulher, Mirellis Zerpa, em uma série de outras tarefas, como a aquisição de vistos e green cards.