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“Foi cena horrorosa de guerra”, diz homem que perdeu 5 parentes em Milagres

Tribuna do Ceará | 10/12/18 - 11h00
Reprodução

A tentativa de ataque a banco em Milagres deixou 14 pessoas mortas – oito bandidos e seis reféns (cinco de uma mesma família). O pernambucano João Daniel Neto, primo do empresário morto João Batista Magalhães, declarou ter visto “uma cena horrorosa de guerra” ao chegar à cidade no Ceará.

Em entrevista, João Daniel afirmou que a notícia da morte dos parentes foi dada por um policial amigo da família. “Soubemos que o João Batista tinha morrido em um sequestro em um assalto a banco. Fomos para Milagres para ver o que tinha acontecido. Pensávamos que só tinha vindo a óbito o João, quando chegamos lá vimos uma cena horrorosa de guerra. Seis reféns mortos, sendo cinco da nossa família. Foi um baque muito grande“.

João Batista de Sousa Magalhães, de 46 anos, e o filho, Vinícius Magalhães, 14 anos, estavam no Ceará para buscar Cícero Tenório dos Santos, de 60 anos, Claudineide Campos de Souza Santos, de 41 anos, e Gustavo Tenório dos Santos, de 13 anos, no Aeroporto de Juazeiro do Norte. Eles desembarcaram de voo com origem em São Paulo.

O carro foi interceptado na madrugada de sexta-feira (7), quando a família já retornava para Serra Talhada, no interior de Pernambuco. Todos foram feitos reféns e mortos no tiroteio entre bandidos e polícia. “O João foi pegar os parentes que todo o fim de ano vinham para a casa dele. Eles três comemoravam o Natal e o Ano Novo aqui com a gente”, lembra João Daniel.

Segundo o primo, o empresário tinha o hábito de ir de carro ao Aeroporto de Juazeiro. “Era comum. Eu chegava de avião e pedia para ele me buscar e vice-versa. Nós, de Serra Talhada, costumamos usar a ponte aérea Juazeiro-São Paulo e Juazeiro-Brasília”.

Clima na cidade pernambucana

Dois dias após a ação criminosa, a cidade de Serra Talhada se mantém em estado de choque, de acordo com o pernambucano. “Como se tivesse caído um avião. Você passa nas ruas e escuta aquele silêncio mortal dos habitantes, comércio fechado, todo mundo consternado, triste. Está um deserto, todo mundo calado, de cabeça baixa”.

João Daniel Neto lamentou ainda a declaração do governador Camilo Santana (PT) sobre o caso em Milagres. “O governador fez uma declaração inapropriada para o momento. Não sabemos ainda por qual lado vieram os tiros, se foram da polícia ou dos bandidos… Haviam seis inocentes ali. Ele podendo nos dar uma palavra de conforto, soltou uma pérola dessa? Estamos muito tristes com a colocação do governador. Foi uma palavra dita em um momento errado”.

Em entrevista na sexta-feira, Camilo Santana havia levantado a hipótese de que as vítimas não fossem reféns e disse que seria necessário aguardar as investigações antes que fosse feito algum julgamento do trabalho policial. “É estranho um refém de madrugada em um banco”, questionou. Ele exaltou o fato de a polícia ter evitado o ataque às agências bancárias. “O fato é que eles estavam preparados para assaltar dois bancos e não conseguiram assaltar nenhum”.

Entenda o caso

Um grupo fortemente armado chegou à cidade durante a madrugada e tentou atacar duas agências bancárias. De acordo com informações preliminares levantadas pela inteligência e que serão aprofundadas durante o inquérito da Polícia Civil, os assaltantes renderam pessoas que passavam pela BR-116 e levaram os reféns até os bancos.

O pai João Batista e o filho Vinícius Magalhães foram sepultados na manhã de sábado (8), em Serra Talhada. O enterro de Cícero Tenório, Claudineide Campos e Gustavo Tenório aconteceu na tarde de sábado em São José de Belmonte, cidade localizada a 60 quilômetros de Serra Talhada.

O grupo utilizou um caminhão para bloquear o acesso dos carros na rodovia. As viaturas do BPChoque entraram na cidade e, ao se posicionar próximo ao banco, se depararam com a ação criminosa em andamento. Houve troca de tiros entre suspeitos e os profissionais de segurança.

Durante o tiroteio, cinco criminosos foram baleados e vieram a óbito no local; outros dois foram atingidos por disparos, socorridos e morreram em unidades hospitalares. O oitavo suspeito morreu em outro confronto com a Polícia no município de Barro. Além dos criminosos, seis reféns foram feridos e morreram. Até o momento, oito pessoas foram presas.