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Mudança no BC: "Se correr, o bicho pega. Se ficar..."

Em 28 de Dezembro de 2024 às 18:00

Empresário Nuno Vasconcellos:

"O ano de 2025 começará com o Brasil diante daquela que talvez seja a encruzilhada mais decisiva de sua história. Dependendo do rumo que seguir, poderá dar um passo definitivo em direção à maturidade e ingressar no clube dos países ricos, desenvolvidos e em condições de oferecer bem-estar e prosperidade a todos os seus cidadãos. Dependendo, porém, das decisões que vierem a ser tomadas a partir do dia 1º de janeiro, a vaca rumará para o brejo e só sairá de lá à custa de muito sacrifício.

Boa parte da responsabilidade sobre o que o futuro reserva ao país estará nas mãos do economista Gabriel Galípolo — que substituirá Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central. Indicado para o cargo pelo presidente Luíz Inácio Lula da Silva e já devidamente sabatinado pelo Senado, ele será responsável por virar a última página escrita pelo ex-presidente Jair Bolsonaro que ainda permanece aberta em Brasília.

Seu mandato à frente da instituição não coincide com o do presidente da República e irá até o fim de 2029.  Mas nem será preciso esperar tanto para saber se sua passagem pelo BC será coroada de êxito. Um ano no posto já será suficiente para saber em que direção ele terá ajudado a conduzir o país: se no caminho da austeridade técnica necessária para dar credibilidade à moeda brasileira ou se na direção da esbórnia monetária que tanto custou ao país antes da decretação do Plano Real, há exatos 30 anos.

A missão de Galípolo não será fácil. Além das atribuições protocolares de qualquer presidente do Banco Central — que por si só já são extremamente espinhosas —, ele terá que obter resultados bem melhores do que os de seu antecessor. Se durante o primeiro ano de seu mandato, a taxa de juros continuar em elevação como esteve ao longo de 2024, ele será criticado por adotar o mesmo receituário do 'bolsonarista' Campos Neto.  

Se, ao contrário disso, der início a uma política gradual de redução da Selic — como muita gente acredita ser possível fazer sem gerar pressões inflacionárias insuportáveis —certamente ouvirá a acusação de ter cedido à pressão de Lula. Como reza o dito popular, se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come.   

Sim! Desde que tomou posse para seu terceiro mandato como presidente da República, em 2023, Lula tem tratado o Banco Central e seu presidente Campos como se fossem a Geni da música de Chico Buarque de Hollanda. Na semana passada, no mesmo dia em que deixou o hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde esteve internado por cinco dias e se submeteu a uma cirurgia de emergência para drenar um coágulo na cabeça, o presidente concedeu uma entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, e voltou a criticar o BC — que na véspera havia elevado a taxa de juros em um ponto percentual, para 12,25% ao ano. E, mais do que isso, indicado a possibilidade de elevar novamente a taxa em um ponto percentual nas duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária.

'Não há nenhuma explicação para isso. A inflação está quatro e pouco. É uma inflação totalmente controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia, não é do governo federal. Mas nós vamos cuidar disso também', disse Lula. A declaração do presidente, como não poderia deixar de ser, foi muito mal-recebida. E, pior do que isso, apontada como a responsável pelos solavancos vividos pelo mercado nos dias seguintes.

Críticas ao presidente do BC vindas de Lula não causam espanto nem são suficientes para causar um solavanco no mercado como o que se viu na semana passada. Estranho seria, isso sim, se o presidente, ao invés de criticar, elogiasse a decisão do colegiado liderado por Campos Neto. De certa forma, as críticas de Lula até fazem sentido: caso ele admitisse que o BC está certo ao elevar os juros, teria que admitir que seu governo está errado ao não cortar as despesas que forçam a alta das taxas. O que causou alvoroço desta vez foi a última frase do comentário do presidente.

O que será que Lula quis dizer com 'vamos cuidar disso também'? Será que a frase não passou de um arroubo verbal como os que o presidente comete de vez em quando? Ou será que foi, como muita gente apostou que fosse, a expressão do desejo sincero de intervir na instituição e forçar Galípolo a uma administração tíbia como foi a de Alexandre Tombini no governo de Dilma Rousseff?..."

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