Meio Ambiente

O que já é possível aprender com a tragédia que manchou o litoral nordestino

Divulgação | 16/11/19 - 10h37
Agência Alagoas

O óleo que tem manchado as praias do Nordeste e provocado danos imensuráveis à biodiversidade nos últimos meses continua afetando o litoral brasileiro, chegou também ao Espírito Santo. De acordo com o Ibama, mais de 490 localidades foram atingidas. Desde que a Paraíba notificou as autoridades sobre a presença do óleo no município de Conde, no dia 30 de agosto, o problema tem se agravado, tornando-se o maior desastre ambiental do litoral brasileiro, afetando dez estados. Enquanto buscam-se soluções, o que já é possível aprender com essa tragédia?

Para o membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, Alexander Turra, com o desastre, identificamos a necessidade de estarmos institucionalmente prontos para responder rapidamente a situações como esta. “A falta de capacidade técnica ou de assessoramento apropriado logo após a identificação do derramamento foi um grande problema, inclusive para a implementação do Plano Nacional de Contingência [PNC]. Essa demora, agravou os impactos e pode retardar a recuperação dos ecossistemas afetados”, afirma.

A transparência na comunicação também é determinante em casos como esse. “É fundamental que exista um centro de crise que estabeleça canais de comunicação interna, informe a sociedade sobre o que está acontecendo e envolva a comunidade científica na busca por soluções. Dessa forma, é possível trabalhar para uma resposta rápida ao problema. No caso do derramamento de óleo, ficamos reféns de informações desconexas e fragmentadas sobre o fato”, analisa o especialista.

Nesse sentido, a tragédia no litoral brasileiro demonstra também que é fundamental a participação de profissionais de diferentes áreas atuando em busca de soluções criativas e inovadoras para o problema. “Precisamos ter foco no que importa. Diante de fenômenos como esse, discussões ideológicas não são apropriadas. Os esforços devem ser focados em como conter esse tipo de acidente”. explica Turra.

Proteção enfraquecida

Enquanto os impactos pelo derramamento de óleo ainda estão sendo mensurados, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, publicou uma atualização no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas e de Importância Socioeconômica do Ecossistema Manguezal (PAN Manguezal), o que segundo o professor, diminui a proteção ao ecossistema.

Com a alteração, foi solicitada a revogação do objetivo 9 do PAN, que prevê iniciativas para a erradicação da carcinicultura – criação de camarão em cativeiro nos manguezais. “Essa pressão adicional sobre os manguezais vai dificultar ainda mais a recuperação da vida marinha impactada pelo incidente com o óleo”, finaliza o membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.