Brasil

'O sonho acabou', diz marido de idosa assassinada dentro de casa na Bahia

Correio 24 Horas | 12/02/19 - 20h29
Reprodução/Correio 24 Horas

Quase 24 horas após encontrar a esposa morta dentro da própria casa, um sítio em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, o motorista Arnaldo Miguel do Nascimento, 69 anos, não consegue esquecer a cena.

Ele saiu para trabalhar durante a madrugada da segunda-feira (11) e deixou a esposa, a aposentada Sônia Maria Pontes, 62, em casa, dormindo. Quando retornou, já no fim da tarde, por volta das 18h30, ela estava sentada na cama do casal, com um travesseiro preso à cabeça, já morta.

Os dois braços, como Arnaldo faz questão de detalhar, estavam "bem presos" nas costas, amarrados com o fio de um ventilador. Emocionado, ele conversou com o site Correio 24 Horas e disse que nunca imaginou viver a tristeza de enterrar a companheira, com quem era casado há 46 anos.

No enterro, realizado nesta terça-feira (12), no Cemitério Bosque da Paz, ele lamentou a crueldade com a qual a mulher foi morta.

"Saí para trabalhar e o covarde esperou eu me afastar para fazer essa maldade com minha mulher. Foi horrível", dizia, aos prantos, a todos os amigos que se aproximavam para prestar condolências.

Pais de quatro filhos adultos, o casal morava sozinho na residência, localizada na 2ª Travessa 2 de Julho, no bairro de Areia Branca, há pelo menos 9 anos. A casa, de muros altos, em uma rua sem saída, era um sonho conquistado com muito trabalho, segundo o motorista.

Desde que encontrou o corpo da esposa, o viúvo não teve tempo de pensar em muita coisa: a vida parou, como ele resume. Não há informações e nem indícios de quem seja o assassino. A única informação é que ele fugiu do local do crime por volta de 6h30, usando o próprio carro da idosa, um Onix prata, placa PKI 2674.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que a 27ª Delegacia (Itinga), responsável pela investigação do crime, trabalha com a possibilidade de latrocínio. Ainda de acordo com a polícia, além de carro e celular, outros objetos de valor, que não foram informados, também foram levados.

Vizinho aponta: 'Tinha alguma coisa errada'

Arnaldo não tem informações concretas, mas acredita que o crime foi cometido assim que saiu de casa, às 3h30.

Embora tenha ficado o dia fora de casa, de acordo com ele para resolver problemas pessoais, um detalhe indica que o crime foi cometido entre 4h e 6h da manhã: um vizinho da família garante que viu o momento em que o assassino fugiu com o veículo do casal.

Em conversa com o CORREIO, o aposentado Carlos da Conceição de Jesus, 63, disse que era por volta de 6h30 quando ouviu o barulho do portão de dona Sônia, como chamava a vizinha de porta.

"Eu tinha acabado de voltar da Seasa e minha esposa avisou que tinha alguma coisa errada. Quando saí para olhar, vi o carro saindo e o portão aberto. Fui lá, achei estranho, cheguei até a piscina, mas não vi ninguém. Encostei o portão e voltei pra minha escada", lembrou.

Carlos resolveu, então, ligar para o telefone fixo dos vizinhos. Ninguém atendia. Achou ainda mais estranho. Em seguida, ele telefonou para pessoas próximas, mas ninguém tinha notícias de Sônia e Arnaldo.

Quando voltou para casa, o motorista arrombou a porta do quarto, que estava trancada, e encontrou a esposa morta. Por medo, sequer mexeu nela. Ligou para os filhos e chamou a polícia de imediato.

Comoção

No enterro, os três filhos do casal permaneceram na capela, ao lado do corpo da mãe. Apenas uma filha, que mora na Espanha, não pôde comparecer ao sepultamento, que reuniu cerca de 80 pessoas.

Com uma rosa na mão, Arnaldo recebeu muitos abraços de familiares e amigos. A todos, repetia as circunstâncias em que encontrou o corpo da mulher.

Nos últimos momentos da despedida, enquanto o caixão descia rumo à cova, com o auxílio de uma corda, o motorista sussurrava as últimas palavras para a esposa: "Meu amor, você me aconselhava tanto a largar o trabalho e passar mais tempo em nossa casinha, e agora, você está aí, indo embora", lamentou.

Pouco depois, se afastou e, em prantos, disse em baixa voz, para si mesmo: "O sonho acabou".