A reportagem da Folha apurou que análises feitas pela Petrobras apontaram a Venezuela como provável origem do petróleo que aparece nas praias do Nordeste desde o início de setembro. A estatal realizou uma série de testes bioquímicos em amostras coletadas nas praias e, oficialmente, afirmou apenas que não era óleo produzido no Brasil.
Em relatório sigiloso ao Ibama, porém, a estatal enviou resultado de análise comparativa com o petróleo venezuelano, que tem características diferentes das encontradas no brasileiro. A conclusão reforça a suspeita de que o óleo que chegou às praias do Nordeste tenha vazado de algum navio.
A declaração feita pelo presidente Jair Bolsonaro nessa segunda (07) reforça um diagnóstico divulgado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no fim de setembro, quando o órgão informou que o óleo não era brasileiro. "Nós estamos investigando, analisando, porque tem um DNA. Por exemplo, não é produzido em nenhum poço brasileiro. E não é comercializado de fora para cá esse tipo de óleo também", afirmou.
"Então, [temos] uma certeza: não é do Brasil. Não é responsabilidade nossa. A análise continua para saber se a gente consegue detectar de que país é, de onde veio, qual navio petroleiro que derramou esse óleo lá?"
O presidente não descartou ainda a possibilidade de que o Brasil peça indenização caso seja detectada a origem do óleo, mas disse que isso está sendo tratado pelo ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente). "Logicamente, aí entra nessa legislação ambiental, que o ministro do Meio Ambiente, que está agora na região, está voando para cá, ele poderá informar melhor vocês sobre isso."
Bolsonaro disse que a causa do vazamento não é conhecida, deixando em aberto a possibilidade de ser algo criminoso ou acidental.
Para o presidente, seria "natural" que o comandante de um navio avisasse em caso de vazamento, mas lamentou que nada tenha sido comunicado às autoridades brasileiras. Ele afirmou também que há um impacto negativo dos vazamentos para o turismo na região.
No começo de setembro, manchas de óleo começaram a aparecer em praias do Nordeste. De lá para cá, as manchas foram identificadas em pelo menos 132 locais de 61 municípios em 9 estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Entre as praias atingidas estão alguns dos destinos turísticos mais famosos do Nordeste, como Pipa e Natal (RN), Carneiros, Porto de Galinhas e Boa Viagem (PE), e João Pessoa (PB). Ontem, o petróleo chegou à Foz do Rio São Francisco, em Alagoas.
A fauna também foi afetada pela presença do óleo. Foram encontradas mortas nove tartarugas marinhas e uma ave (Bobo-pequeno). Outras seis tartarugas foram resgatadas com vida.
As primeiras manchas apareceram no dia 2 de setembro em Pernambuco. Desde então, o CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente) está investigando em conjunto com a UEPE (Universidade Estadual de Pernambuco) a origem do petróleo.
A hipótese é que o produto tenha sido descartado de forma ilegal em alto-mar há mais de um mês. O ICMBio e a Marinha estão investigando o caso.
Eduardo Elvino, diretor de controle de fontes poluidoras da CPRH que estuda o problema desde o início em parceria com a UFPE, diz que será possível dizer com precisão onde ocorreu o vazamento ou o descarte do óleo dentro de no máximo 20 dias, o que poderá indicar qual foi a embarcação responsável.
Veja o mapa mais atualizado de registros de manchas no litoral do Nordeste: