Mundo

Putin anuncia 20 novas bases militares para enfrentar forças da Otan

Folhapress | 02/06/21 - 14h04
Wilson Dias/Agência Brasil

A duas semanas do encontro entre os presidentes Vladimir Putin e Joe Biden, a Rússia anunciou que irá construir 20 novas bases militares perto de suas fronteiras europeias, visando conter o que chama de crescente ameaça da Otan (aliança militar liderada pelos EUA).

A medida vem de encontro à crescente tensão entre o Kremlin e o Ocidente, que tem um novo capítulo no apoio dado por Putin ao belarusso Aleksandr Lukachenko, seu aliado.

Na semana passada, o ditador forçou o pouso de um avião civil irlandês em Minsk e prendeu um jornalista crítico ao regime que estava na aeronave, junto com sua namorada.

A ação foi um ponto alto na repressão aplicada por Lukachenko desde os protestos que irromperam no país após mais uma eleição ganha de forma suspeita por ele, no poder desde 1994, em agosto passado.

A União Europeia anunciou sanções a Belarus e Putin, após um suspense de uma semana, encontrou-se com ele na sexta (28).
Subjacente ao movimento do russo está o desejo de consolidar seu controle sobre o vizinho, talvez absorvendo-o dentro de um planejado Estado unitário em fermentação desde 1999.

Com isso, estaria estabelecida de vez um tampão estratégico entre a Europa e a Rússia. A Ucrânia cumpre esse papel de forma precária desde que Putin amputou a Crimeia, de resto uma região russa étnica, e a trouxe para seu controle após perder um governo aliado em Kiev em 2014.

O plano foi exposto sem muitos detalhes pelo ministro Serguei Choigu (Defesa) em encontro com líderes militares na segunda-feira.

Ele afirmou que a Otan tem aumentado significativamente o número de voos hostis e envios de navios de guerra para suas fronteiras. Apontou para os crescentes exercícios militares –só na semana passada, milhares de soldados da Otan treinaram em todo o continente.

As ações, disse segundo a imprensa russa, "destroem o sistema de segurança internacional e nos forçam a tomar as contramedidas relevantes". "Vamos formar 20 novas unidades no Distrito Militar Oeste até o fim do ano", afirmou.

Baseado em São Petersburgo, o distrito se soma ao Sul com as duas unidades mais importantes de defesa terrestre russas. Ele cobre a fronteira da Finlândia à Ucrânia, quando passa o bastão para o Sul, que vai até o Cáucaso e inclui a Crimeia.

Somadas, as regiões têm seis exércitos, cada um com cerca de 100 mil homens ou mais. O resto do maior país do mundo, coberto por outros três distritos, soma outros seis exércitos e um comando aeronaval conjunto ao norte.

Choigu não disse quantos homens seriam enviados para a região, apenas citando que cerca de 2.000 equipamentos militares estariam envolvidos.

A região já viu bastante ação neste ano. Putin deu uma demonstração de força a fazer um aumento dramático, talvez de 100 mil homens, em toda região oeste e sul para um exercício de três semanas que visava dissuadir a Ucrânia de tentar invadir as áreas rebeldes pró-Rússia no leste do país.

O impasse permanece e o russo mostrou os dentes, mas as forças foram retiradas –deixando para trás boa parte dos blindados e tanques, que serão usados no megaexercício anual das forças russas, que pela rotação usual será na região.

O Zapad (Oeste) 2021 promete um novo ponto de tensão com o Ocidente, assim como sua versão de 2017. Apesar de regular e previsto, ele inclui forças da Belarus, o que adicionará um tempero político ainda maior às manobras.

O Kremlin sustenta que elas são apenas de caráter defensivo, mas poucos no Ocidente acreditam, apesar da previsão de envio de observadores.

A todo esse caldo se soma a postura beligerante de Biden, que após fechar um acordo para estender o último tratado de limitação de armas nucleares com Putin entrou em uma rota crescente de colisão com o Kremlin.

Chamou o presidente russo de assassino e estabeleceu sanções devido à prisão do líder opositor Alexei Navalni, ocorrida após ele voltar da Alemanha de um tratamento após ter sido envenenado na Sibéria.

O verdadeiro foco de Biden ao se mostrar durão é a China, a quem o americano considera a verdadeira rival estratégica dos EUA. Só que seus atos levaram Putin a lembrar o Ocidente de suas capacidades, que ameaçam diretamente os interesses europeus, não menos porque eles dependem do gás e do petróleo russos.

Além disso, embora seja uma aliança historicamente desconfiada, houve uma maior aproximação entre Moscou e Pequim, levando a especulações se a protagonista da primeira Guerra Fria poderia se unir à antagonista americana na Guerra Fria 2.0 em ações conjuntas de desestabilização.

Conhecedor como poucos dos símbolos do poder internacional, Putin usa o anúncio como aperitivo de sua disposição para o encontro do dia 16 com Biden em Genebra, marcado a pedido do americano.