Empresário no ramo de usinagem e educadora em escola infantil, sem filhos, discretos e queridos por amigos e pais de alunos. Esse era o perfil do casal de empresários José Eduardo Ometto Pavan, de 69 anos e Rosana Ferrari, 61 anos, encontrados mortos a tiros em uma caminhonete em frente à casa onde moravam em São Pedro (SP).
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Os crimes foram em abril e, nesta terça-feira (17), um casal de advogados foi preso suspeito de ter encomendado os homicídios para, segundo a investigação da polícia, ficar com o patrimônio milionário das vítimas. A defesa de Hércules Praça Barroso e Fernanda Morales Teixeira nega envolvimento nos assassinatos.
Além dos advogados, a Polícia Civil também prendeu os dois executores do crime nesta terça-feira: Carlos César Lopes de Oliveira, de 57 anos, conhecido como Cesão, e Ednaldo José Vieira, o Índio, 54 anos. As prisões aconteceram em São Carlos e Praia Grande.
A reportagem da EPTV, afiliada da TV Globo, não conseguiu contato com a defesa dos suspeitos do homicídio.
Há pouco mais de dois meses, a morte do casal de empresários comoveu Araraquara (SP) e região.
Rosana costumava ser lembrada como uma educadora muito dedicada e José Eduardo como um empresário competente no ramo da usinagem.
Gentil e competente
Rosana era proprietária e diretora de uma escola infantil. À época do crime, as aulas da escola foram suspensas por dois dias.
Gentil e competente eram os adjetivos elogiosos que ela costumava receber. Depois que os assassinatos aconteceram, amigos, funcionários e mães de alunos lamentaram o impacto da violência sofrida e postaram homenagens nas redes sociais.
"Minha eterna gratidão Rosana por todo ensinamento, carinho e respeito pelo meu trabalho”, comentou Natália Teodoro.
Aurea de Oliveira Santos foi companheira de ofício de Rosana e também lamentou a morte.
“Meus sentimentos à família da Rosana. Trabalhei com ela pessoa maravilhosa, Doce e gentil. Sempre me chamava na sala dela e elogiava o meu trabalho de organização e limpeza da escola. Você vai deixar saudade e recordação na vida de cada criança da escola”, disse.
"Tristeza em saber disso! Rosana era diretora da escola do meu filho! Pessoa muito especial", acrescentou Camila Arruda.
Mãe de um ex- aluno da escola de Rosana, Giovana Ferreira Avaré reforçou o perfil querido da diretora. “Uma tristeza sem fim! Meu filho estudou na escola dela, uma pessoa muito honesta, esforçada e educada”, contou.
Trajetória consolidada
José Eduardo, por sua vez, tinha uma trajetória consolidada no ramo empresarial e acompanhava os projetos educacionais da esposa. Conhecido com Zé Eduardo, o empresário era filho caçula da família Ometto Pavan, tradicional família do ramo da usinagem.
Seu pai, Virgílio Pavan, foi um dos sócios da Usina Santa Cruz, hoje São Martinho. A família também tinha muita influência política e dois tios, Antônio Pavan e Novênio Pavan, foram prefeitos de Américo Brasilense (SP).
Durante o velório, Fernando Ometto, irmão do empresário, comentou que José Eduardo era muito discreto sobre a sua vida pessoal. "Ele era uma pessoa extremamente cuidadosa, muito quieto e não contava nada das coisas dele para ninguém."
Em uma rede social, Willian Lima lembrou da convivência com o empresário. "Ele foi meu patrão, gente boa demais. Meus sentimentos", escreveu.
Operação "Jogo Duplo"
Os suspeitos de envolvimento na morte dos empresários foram presos nesta terça-feira (17), durante a operação "Jogo Duplo", realizada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba (SP).
Os investigados devem responder por homicídio qualificado, associação criminosa, estelionato, falsidade ideológica, uso de documento falso e ocultação de cadáver.
Segundo a Polícia Civil, os mandantes do crime foram Hércules Praça Barroso e Fernanda Morales Teixeira, advogados que atuavam para os empresários há mais de 10 anos.
Conforme as investigações, os advogados falsificaram documentos para enganar as vítimas e conseguir se apropriar de cerca de R$ 12 milhões em imóveis e mais de R$ 2,8 milhões em pagamentos de custos processuais inexistentes.
Os bens das vítimas foram transferidos para os advogados por meio de uma holding — estrutura jurídica utilizada para gerenciar bens e separar o patrimônio pessoal do empresarial. Essa separação ajuda a "blindar" os bens de dívidas ou disputas em nome de pessoas físicas que compõem a sociedade.
“Imaginamos que eles arquitetaram o crime para se apossar de forma definitiva dos bens das vítimas, porque eles [vítimas] não tinham descendentes. Era um casal sem filhos. Os pais também já são falecidos e os bens deles estão no nome dos advogados. Eles morrendo, quem questionaria isso?”, explicou a delegada Juliana Ricci.
Com a apropriação dos bens concluída, segundo a Polícia Civil, os advogados encomendaram a morte das vítimas.
O g1 apurou, ainda, que em agosto de 2022 Fernanda Barroso foi incluída como sócia de uma empresa de José Eduardo e Rosana, no ramo imobiliário. Conforme informações da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), quando a inclusão aconteceu, o valor de participação de Fernanda no negócio era de pouco mais de R$ 120 mil.
O crime
A Polícia Militar encontrou os corpos de José Eduardo e Rosana em um veículo em uma chácara na serra de São Pedro, no dia 6 de abril.
Ao chegar no local, a PM constatou que o homem já estava sem vida e tinha as mãos amarradas. A mulher estava na caçamba do veículo.
A localização dos corpos ocorreu após as equipes da PM serem acionadas pelo dono de um bar da região, mas as informações foram enviadas à imprensa no dia 7 de abril. O homem, segundo registro da ocorrência, viu o corpo de uma das vítimas dentro de uma caminhonete Fiat Toro.
Testemunhas relataram que as vítimas eram frequentadoras assíduas da chácara.
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