São João em Alagoas tem história

17/06/19 - 12h47

Festa nordestina por excelência, o São João é o momento onde os aromas, sabores e tradições da região ganham brilho especial. Das delícias de milho ao anarriê das quadrilhas, o estilo matuto toma conta dos nove estados nordestinos numa das maiores festas brasileiras.

Em Alagoas, as histórias de quem vive as festas juninas mostram que a tradição está mais viva do que nunca, arrastando multidões num universo cheio de paixões, superação e, claro, muito forró. A inicialmente singela homenagem aos três santos católicos [Santo Antônio, São João e São Pedro] com o passar do tempo ganhou novas cores e significados, se transformando numa indústria cultural onde a tradição é a principal matéria-prima.

Os alagoanos Cícero, Renata e Herbany são desses apaixonados pelos festejos juninos que dedicam à vida às tradições. E não importam os obstáculos, nada os impede de colocar o bloco, ou melhor, o palhoção na rua.

  • HERBANY: AS DORES E DELÍCIAS DE SER QUADRILHEIRA 

‘Foi como perder uma pessoa da família. Eu só conseguia chorar. Chorei cinco dias sem parar”. As falas emocionadas e tão sinceras são da maceioense Herbany Bittencourt, e mostram o tamanho da paixão dessa técnica em enfermagem de 38 anos, pelo São João. Tanto pesar que quase a deixou em depressão ao chegar à conclusão que sua quadrilha, a “Amor Junino”, não iria se apresentar em 2019, justamente no aniversário de uma década.

“Não conseguíamos integrantes para formar os pares, e aí decretamos o fim da quadrilha. Não me conformei, chorei cinco dias sem parar. Mas o amor pelo São João venceu e conseguimos, em apenas três meses colocar a quadrilha na rua”, conta a rainha da Amor Junino sem segurar a emoção nem as lágrimas.

A grande notícia de que a ‘Amor Junino’ iria se apresentar este ano foi dada pelos amigos de Herbany em grande estilo em uma surpresa onde só lhe restou chorar. Dê play e conheça essa linda história de amor às festas juninas: 

  • CÍCERO & RENATA: UM ‘CASAL MATUTO’ NA VIDA REAL

Brilho no olhar, coração palpitando e um sorriso que não larga o rosto. A descrição tanto serve para a paixão entre o casal Renata Domingos e Cícero Ramos, quanto para a relação deles com as festas juninas.

A história dele mas parece um causo daqueles que se conta à beira da fogueira> Ele, marcador, ou seja, o sujeito que narra os passos da dança da quadrilha; ela uma fã nata dos festejos, mas que não perdia mais uma apresentação onde o agora, esposo, estivesse. Mas proibida pelos pais de sair mundo afora com os grupos de quadrilha, ela teve que se contentar em fica como coadjuvante enquanto o namorado brilhava nos espetáculos. Ela queria casar entre as fogueiras juninas, mas o trabalho do noivo nas quadrilhas obrigou a antecipar o matrimônio para maio, e assim fizeram, em 2018.

E este ano Renata, agora casada, independente, vai fazer sua estreia nas quadrilhas, sob o comando do esposo e marcador, Cicero Ramos. Com cinco hérnias de disco, ela fez aulas de pilates para poder suportar a maratona.

“Eu ia em quase toda apresentação para acompanhar, até que nos aproximamos. Mas eu nunca dancei. Este ano, comecei a fazer pilates para poder aguentar dançar. Sempre foi meu grande sonho, tudo o que eu queria. E este ano vou realizar. Mesmo que seja somente uma vez, mas quero viver este momento. O São João é uma paixão nossa, nós vivemos as festas juninas intensamente”, diz Renata, com o sorriso de quem está prestes a realizar um sonho.

Cícero, que mantém um ateliê, é envolvido com quadrilhas juninas há uma década. E divide a paixão com esposa pelo universo junino. “Nossa casa já está no clima, toda enfeitada. E gostamos do forró raiz, de tudo o que diz respeito à cultura junina. É meu meio de vida, e é também uma paixão que vivenciamos todos os anos”, diz Cícero não menos apaixonado que Renata.


QUER VER MAIS HISTÓRIAS? 

Gostou das histórias dos alagoanos apaixonados pelo São João?  Confira a websérie que o Boticário preparou para encantar os amantes das festas juninas. 

A websérie  Cordéis de São João  traz  momentos inspiradores como a "Quadrilha da Liana" e "As coreografias de Abraão". Todas inspiradas em histórias reais. Dê play e se emocione. 


  • QUADRILHAS: O MATUTÊS É, NA VERDADE, FRANCÊS

Mesmo com toda a sua originalidade matuta, você sabia que a festa junina tem elementos de diversos países?

Em Alagoas, o forró pé-de-serra e uma disputa acirrada e cheia de cores de mais de 20 quadrilhas tornam mais viva do que nunca o espírito junino no Estado.

Cada vez mais competitivas, a quadrilha estilizada, mistura os tradicionais passos da dança com um festival de cores e numa evolução de enredo com tintas teatrais, modernizando uma dança que muitos não sabem, tem origem francesa!

A dança era típica na corte da França, na Paris do século XVIII, onde quatro pares exibiam uma dança de salão. No Brasil foi introduzida no período da Regência, fazendo sucesso nos salões nacionais. Em seguida ela desceu dos palácios e grandes bailes e caiu no gosto popular e, claro, evoluiu para um estilo brincante, lírico e cheio de cores. O tradicional casamento matuto nada mais é do que uma sátira ao casamento de conveniência, típico da burguesia, achincalhando com vários tipos sociais. A influência francesa está inclusive nos famosos passos da dança, o anarriê e alanvantú. Veja no quadro abaixo:


(Foto: Pei Fon/Secom Maceió)

GASTRONOMIA: MILHO É A ESTRELA DA FARTA MESA JUNINA
 

Óbvio que o milho é a estrela da gastronomia junina. Mas a mesa farta e em cada região os comes de bebes variam. Em Alagoas a pamonha, a canjica, o bolo, e o próprio milho assado ou cozido. A depender do estado o cardápio pode contar com paçoca, amendoim e curau.

A alagoana Cícera Leobino de Oliveira, há 40 anos cozinhando comida típica, conta o segredo para a musa da culinária junina, a pamonha: “nada é industrializado. O milho é verde, o leite de coco é da própria fruta. Ingredientes naturais são o segredo. Para quem ficou com água na boca, confira uma receita superfácil de fazer.


SONS REGIONAIS: GONZAGÃO AINDA REINA

As danças e simpatias juninas acontecem ao som de muita música regional. No Nordeste os clássicos do Rei do Baião, Luiz Gonzaga sempre animou os palhoções e ainda hoje anima festas, que agora também aderiram ao sertanejo romântico e universitário.

O disco “Luiz Gonzaga – Quadrilhas e marchinhas vol2” [dê play e ouça abaixo] traz clássicos de Gonzagão como “Olha pra o céu”, “São João na Roça” e “Matuto de opinião”.


Mas a trilha sonora do arrasta-pé pode variar de acordo com a região. No Sudeste do país, por exemplo, são comum as composições de João de Barro e Adalberto Ribeiro (“Capelinha de Melão”) e Lamartine Babo (“Isto é lá com Santo Antônio”). O que importa é a animação.

EDIÇÃO DE VÍDEO: WANDO CAJUEIRO