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Vaticano confirma ter diretriz secreta para lidar com padre que tem filho

Papa Francisco reúne-se nesta semana com bispos para tratar dos casos de abuso sexual na Igreja; fim do celibato não deve estar na pauta.

VEJA.com | 19/02/19 - 21h13
Papa Francisco | Reprodução

O Vaticano reconheceu pela primeira vez a existência de um protocolo para lidar com os padres que tiveram filhos depois de terem jurado celibato. As autoridades da Igreja Católica afirmaram que as regras continuarão secretas e que este é um problema interno da instituição. Alessandro Gisotti, porta-voz do papado, disse ao jornal The New York Times que o “princípio fundamental” do documento, criado em 2017, é “proteger as crianças” que nasceram dessas relações.

Gisotti limitou-se a revelar que, de acordo com as diretrizes, os padres que têm filhos são obrigados a deixar suas funções religiosas para “assumir a responsabilidade como pais, dedicando-se exclusivamente à criança.”

A polêmica em torno do voto de castidade acontece na mesma semana em que o papa Francisco manterá uma reunião inédita com 115 bispos e representantes da igreja Ortodoxa e de ordens católicas femininas para tratar dos abusos sexuais cometidos por sacerdotes. Organizações de defesa das vítimas estarão do lado de fora, em vigília.

O papa discutirá as inúmeras acusações de estupro e assédio sexual que abalam a Igreja neste momento. Algumas das denúncias envolvem autoridades de destaque. Do encontro de quatro dias, que começa na quinta-feira, 20, o Vaticano espera também definir punições alternativas aos padres que têm herdeiros.

Não existem dados oficiais do número de filhos dos padres em exercício, mas um grupo de apoio a eles, o Coping International, tem 50.000 inscritos de 175 países. Alguns foram fruto de relações consensuais, mas outros vieram ao mundo por meio de abusos.

O fundador do site, Vincent Doyle, também filho de um padre, aposta que a grande quantidade de descendentes dos religiosos será “o próximo escândalo” a atingir a Igreja Católica. “Existem crianças por toda parte”, garantiu ele em entrevista ao Times.

Críticos do celibato obrigatório para os sacerdotes argumentam que essa regra contribui para os abusos sexuais e afasta potenciais padres da função, quando o contingente de religiosos está em declínio em alguns países. No catolicismo oriental as igrejas têm uma tradição antiga de padres casados, e o Vaticano já abriu exceções ao celibato para anglicanos casados que se converterem.

Mas não há indicações de que, no encontro desta semana no Vaticano, a flexibilização ou mesmo o fim do celibato esteja na pauta. No mês passado, o papa Francisco se opôs a qualquer mudança na tradição centenária.

“Pessoalmente, acho que o celibato é um presente para a igreja. Eu diria que não concordo com a permissão dos votos serem opcionais”, afirmou o pontífice. Ele acrescentou que as ressalvas se restringem aos “lugares muito distantes”, em que existe uma “necessidade pastoral” pela falta de padres.