Mundo

Vídeo: Rússia e EUA vivem cena de 'Mad Max' em estrada na Síria

Folhapress | 20/02/20 - 15h56
Reprodução / Youtube

Rivais desde os tempos da Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia quase foram às vias de fato na Síria, país árabe imerso em uma guerra civil desde 2011. No caso, numa inusitada disputa entre dois carros de combate em alta velocidade, com bandeiras dos países rivais desfraldadas ao vento.

A cena, digna da série de "road movies" distópicos "Mad Max", ocorreu nesta semana em Qamishli, uma cidade junto à fronteira da Turquia no nordeste da Síria. Ela foi filmada por um consultor de serviços humanitários que se identifica no Twitter como Mohammad.

Ele passava com seu carro por um comboio militar russo, que incluía um veículo pesado de transporte de tropas. O grupo encontrou à sua frente dois Oshkosh, uma espécie de superjipe 4x4 blindado americano para operação em áreas minadas, e teve de reduzir.

De repente, um furgão 4x4 blindado russo Tigr ultrapassa pelo acostamento o primeiro Oshkosh, mas o segundo o fecha, o tirando da estrada. Felizmente, os motoristas não decidiram resolver suas diferenças com mais ênfase: ambos os veículos são armados com metralhadoras de calibre 7.62 mm.

O veículo russo é fabricado desde 2006, e serve basicamente para transporte de tropas e atinge até 140 km/h. Já o americano é um animal de outro porte, pesando o dobro (14,7 toneladas) do que o produto de Moscou, rodando no máximo a 105 km/h.

Num mundo que passou 40 anos sob o temor de um conflito entre russos e americanos que potencialmente levaria à extinção da humanidade, o entrechoque soa quase surreal. Mas simboliza bem as confusões potenciais inerentes à presença de potências estrangeiras na Síria.

Apesar de os EUA terem retirado o grosso de suas tropas do país, ainda há unidades como a filmada por Mohammad nas regiões ao norte. Já os russos patrulham as áreas fronteiriças junto à Turquia em um frágil acordo com Ancara, que está em desintegração devido ao risco de guerra aberta entre turcos e sírios.

A Turquia tem mais de 5.000 homens na província rebelde de Idlib, que está sob ataque pelas forças de Damasco e é o último bastião de revolta contra a ditadura de Bashar al-Assad. Os russos apoiam os sírios com ataques aéreos, o núcleo de sua presença militar na Síria, mas também têm tropas espalhadas em pontos da região norte do país.

O incidente filmado é o mais recente de uma série de desentendimentos entre russos e americanos, usualmente em postos de controle e estradas da região.

"A intenção da coalizão [de forças lideradas por americanos] é de-escalar qualquer encontro não planejado com outras forças", afirmou o porta voz Myles Caggins, coronel do Exército americano, ao site Military Times.

Segundo a agência russa Tass, o porta-voz do Kremlin não quis comentar o episódio. Russos e americanos, além de israelenses, franceses e britânicos, tentam coordenar há anos suas ações no espaço aéreo sírio, para evitar acidentes -Moscou já perdeu um caça-bombardeiro, abatido pela Turquia, e um avião de reconhecimento, derrubado por forças de Damasco que buscavam afastar um ataque de Israel.