Dezenas de presos são mantidos algemados a viaturas da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em um terreno na cidade de Porto Alegre, como mostra reportagem do portal GaúchaZH. Alguns estão no local há semanas, aguardando vagas em unidades prisionais.
Para realizar a custódia, 33 policiais militares deixam de fazer rondas para se revezar no local, submetendo-se a condições de trabalho insalubres.
Os detentos dormem nos compartimentos dos veículos de vários tipos: camburões, caminhonetes, furgões, carros pequenos, e compartilham garrafas de plástico ou caixas papelão para urinar, por conta do acesso restrito ao banheiro. Quando o recipiente está cheio, um policial escolta um dos presos até o mictório, para esvaziar. Defecar, só uma vez por dia, segundo relatou um detento de 31 anos, há 20 dias no local.
"A última vez que saí dessa viatura foi às 18h30min de ontem. Não estou mais urinando nas garrafas, não vou me submeter a sair daqui com doença. Todo mundo fez um crime e todo mundo tem de pagar, mas isso aqui está desumano demais", reclamou um preso que estava há 31 dias ali.
"Não estamos mais na época dos escravos para estarmos acorrentados. A gente já está preso", argumenta outro. Na terça-feira (24), quando esteve no local, a reportagem contou 18 viaturas com 95 presos algemados.
Policiais também não contam com estrutura
33 brigadianos de diversos batalhões faziam a guarda dos capturados na terça. Também há no local, permanentemente, alguns policiais com treinamento de elite para garantir o controle do espaço e evitar possíveis fugas.
A estrutura de que dispõem é algumas cadeiras plásticas, bancos e mesas velhas de madeira, para turnos, em geral, de 12 horas. "A gente poderia estar na rua, mas está aqui. Acabar com isso é bom para todo mundo. E o problema é que acaba sempre a culpa em cima da Brigada", relata um policial.
Procurada, a Secretaria da Administração Penitenciária pronunciou-se por nota:
A SEAPEN informa que continua envidando todos os esforços para resolver de forma definitiva a situação dos presos que são custodiados em viaturas e delegacias. Como já é de conhecimento da maior parte da sociedade gaúcha, trata-se de questão complexa, que não depende de vontade política, mas de uma série de fatores que estão sendo objeto da dedicação total da secretaria, criada exclusivamente para tratar da questão prisional. Para se ter uma ideia, até o momento, já foram encaminhados ao sistema mais de 12 mil pessoas presas, desde o início do ano, através do sistema Desep Vagas 24h. Mas a solução para o caso específico passa pela implementação do Nugesp (Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional), cuja minuta se encontra em fase de análise dos diversos entes do sistema de Justiça para sua implantação ainda em 2019. Também a entrega do Presídio de Sapucaia, com suas 600 vagas vai contribuir para amenizar o problema. Com isso, teremos possibilidade de absorver a demanda de presos que hoje se encontram em DPs e viaturas. A ideia é que o novo núcleo seja instalado exatamente na mesma área onde hoje estão estes presos, no terreno junto ao IPF.
O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Mario Ikeda, disse que a custódia era feita em um local pior, em via pública, e hoje está mais seguro e afastado da população. Sobre a situação dos PMs, ele falou que a Brigada gostaria que tivessem condições melhores, mas, "lamentavelmente", é o que dispõem.