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Ana Clara, Theo, Bento, Arthur, Helena... Quarenta crianças e adolescentes estão entre os mortos na tragédia de Petrópolis

Extra | 24/02/22 - 17h35

Um menino esperto, brincalhão e especial. Esses foram alguns dos adjetivos usados pela família do pequeno Arthur Affonso Fernandes, de apenas 5 anos, para descrever o menino, que estava em casa junto da mãe, Ana Carolina da Silva Affonso, e da avó, Valdecir da Silva Affonso, de 75 anos, quando o imóvel onde moravam foi levado pela enxurrada que devastou a cidade de Petrópolis no último dia 15 de fevereiro. A casa deles ficava no bairro Alto da Serra, uma das regiões mais atingidas pelo temporal. Arthur é uma entre as 40 vítimas crianças e adolescentes já confirmadas na tragédia que já deixou, até esta quinta-feira (24), 208 mortos.

A cada história revelada, um novo drama e famílias inteiras devastadas. O bebê Theo Seraphim era o xodó de quem o conhecia. Ele era filho único de Ana Beatriz Seraphim, de 20 anos, que também morreu nos deslizamentos. Sem imaginar o que estaria pela frente, Ana Beatriz chegou a compartilhar um vídeo alertando sobre o temporal que caía sobre a cidade. Para os amigos, Bia, como era conhecida, tinha um bom coração e conseguia levar alegria a todos com a sua animação. Nas redes sociais, ela demonstrava todo o amor e afeto que tinha pelo filho.

Ana Clara Rufino da Silva, 6 anos, era a caçula de três irmãos. Ela morreu junto com a mãe, Eliane Regina Rufino, de 46 anos. Um irmão da menina segue desaparecido. Segundo testemunhas que participaram das buscas, as duas estavam de mãos dados no momento em que os corpos foram resgatados. Aos 5 anos, Larissa Azevedo Affonso havia acabado de concluir a alfabetização e colecionava camisas do Flamengo, seu time de coração, mas tinha uma predileção pelo uniforme em tons de rosa lançado pelo clube carioca. Morreu com a mãe, Michelle Azevedo.

Momentos antes de a casa desabar, Bento de Freitas Garcia, de 5 anos, havia falado, pela primeira vez, a palavra "papai". Bento era autista e tinha começado a frequentar a escola naquela terça-feira da tragédia. Ele morreu levado pela correnteza quando estava no colo do pai, o professor Alessandro Garcia. Além do menino, sua mãe Carolina, seu avô Élcio e sua irmã Sophia, de apenas 1 ano, também morreram. Nesta quarta-feira (23), foi celebrada uma missa. A história de Alexandre viralizou na web e uma campanha para ajudá-lo a se reerguer foi organizada.

Bernardo de Mello Coutinho, 11 anos, morreu soterrado ao lado de quase toda a família. A casa ficava no Centro, na Rua Barão das Águas Claras. Alegre, inteligente e carismático, Bernardo foi enterrado junto com o pai, o empresário Gustavo Coutinho. A mãe do menino também morreu. A irmã mais velha está internada, estável, em um hospital da cidade.

Com apenas 4 anos, Claudio Pereira Ramos morreu soterrado, assim como seu irmão Yuri, de 13, a mãe, Marise Pereira, de 42, e a irmã, Vitoria Cristine, de 11. O patriarca só sobreviveu porque não estava em casa, no bairro Sargento Boening, no momento da tempestade. "Meu pai está em estado de choque", relatou Tiago Ramos, enteado de Marise e irmão crianças. Antes do deslizamento, a mãe das crianças chegou a mandar uma mensagem dizendo que a enconsta havia começado a descer devido à chuva. Mas segundos depois ela parou de responder.

Daniel Maranguape era o caçula de três irmãos e morava na região do Alto da Serra com os pais e a avó. Com a enxurrada de lama que desceu pelo morro, o corpo do menino foi parar na casa de uma vizinha. Segundo a mãe, parecia que ele pressentia que algo iria acontecer. "Na última semana, o Daniel sentava no sofá e dizia: 'Mamãe. eu te amo'. Isso me dói.". A avó e uma das irmãs de Daniel também morreram.

O corpo da adolescente Stéphane Maranguape Silva, de 11 anos, irmã de Daniel, foi parar em outra casa após todas as paredes do imóvel onde morava com a família romperem com a avalanche de terra. Por conta da pandemia, desenvolveu um princípio de depressão e vinha tentando se recuperar. O pai tentou salvá-la na hora da chuva, mas foi arremessado a um buraco e não viu mais nada. Outra irmã, Milla, está desaparecida.

Filho mais velho de Débora Lichtenberger, Gustavo, de 6 anos, estava em casa com a mãe e a irmã caçula, Heloise, de 2, quando a casa onde moravam caiu após o temporal. Os três morreram. Da mesma forma, a bebê Helena Leite Carvalho Paulino havia sido planejada pela mãe por quase uma década. Ela morreu no colo da avó, Tânia, um mês antes de fazer 2 anos. A família estava com tudo pronto para a celebração.

Quem também organizava uma comemoração eram os parentes do pequeno Micael, que estava em casa com o pai e a tia quando tudo veio abaixo. Ele iria completar 2 anos de idade nesta quinta-feira (24).

Para a família do adolescente João Carlos de Melo Montes, de 15 anos, a imagem dos dois ônibus sendo arrastados pela correnteza ficarão para sempre na memória. O adolescente, que era chamado carinhosamente de "limão" pelos parentes, era alguém alegre, carinhoso e cheio de vida. Ee foi levado pela enxurrada que carregou os coletivos. Ainda tentou ajudar outros passageiros a saírem do veículo, mas não teve chance.