Polícia

'Bate e volta': defesa de advogado preso contesta áudios de inquérito

Redação TNH1 | 10/06/20 - 09h19
Presídio Baldomero Cavalcanti | Arquivo

A defesa do advogado Fidel Dias de Melo Gomes, preso sob a suspeita de integrar um suposto esquema de transferências de reeducandos mediante extorsão, afirmou que os áudios citados no inquérito, que comprovariam a denúncia, estão fora de contexto. Fidel Gomes foi solto na última sexta-feira, 5, após a Justiça conceder habeas corpus.

As mensagens de voz citadas teriam sido apresentadas por um reeducando que denunciou o grupo de advogados. Fidel e mais três advogados foram presos na última semana, no dia 3 de junho, na "Operação Bate e Volta". De acordo com o delegado Gustavo Henrique, da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic), que coordenou a operação, todos os presos já foram soltos.  

Segundo a nota divulgada pela Associação dos Advogados Criminalistas de Alagoas (ACRIMAL), os trechos de áudios transcritos estariam distorcidos e Fidel não teria sociedade com os outros investigados, apenas relação de amizade com um deles.

Ainda de acordo com a defesa, em breve serão apresentados certidões e documentos que demonstram que Fidel não tem envolvimento com os crimes e que seu nome nunca esteve envolvido em operações de transferências de presidiários.

"Com seis anos de advocacia criminal nunca houve fatos que lhe colocasse em questão  em aspecto ético. Não tem bens incompatíveis com renda declarada, confiando que tudo será devidamente esclarecido e seu nome retirado desse episódio", finalizou o comunicado.

A Polícia Civil informou que o inquérito está sob sigilo e os áudios não podem ser disponilizados. "Nós procuramos fazer tudo dentro da mais estrita legalidade. Temos consciência de que não houve irregularidades na condução das investigações, pois primamos pela legalidade, também temos ciência de que não podemos violar o sigilo da investigação", contou o delegado Gustavo Henrique.

Advogados são suspeitos de extorquir presos

Os delegados Gustavo Henrique e José Carlos, responsáveis pela investigação que apura suposto esquema de transferência de presos, informaram no último dia 5, em coletiva à imprensa, que os advogados podem responder por até três tipos de crimes, incluindo extorsão aos presos. 

"Podem responder por crime de associação criminosa, tráfico de influência ou exploração de prestígio, ainda estamos analisando qual desses seria o mais adequado para essa situação, e o crime de extorsão. Nós entendemos claramente que os presos foram extorquidos, foram constrangidos para pagar um valor que nós entendemos que era indevido. E havia uma grave ameaça, porque caso os presos não pagassem, poderiam surgir requisições e exigências legais, digamos assim, que poderiam atrapalhar a vida do preso em eventual progressão de regime. Entendemos que havia sim uma extorsão", disseram os delegados.   

Eles também apontaram ainda que as investigações indicam altos valores nessas negociações.  "Temos áudios que foram entregues por presos. [...] Dentro desses áudios se relata e algumas negociações nos levaram a crer que de fato havia um esquema com essa finalidade, de facilitar principalmente transferências entre presídios. [...] Haviam as negociações. Ora se pedia dinheiro, ora se pedia imóveis, ora se pedia veículos. Confesso que não fizemos o cálculo, mas as pessoas ouvidas, os presos principalmente relatam cada um dos valores que pagaram em cada transferência. R$ 60 mil em uma, R$ 15 mil em outra, R$ 20 mil em outra, R$ 100 mil em outra. Confesso que não paramos para calcular, mas há sim o relato". 

Ainda de acordo com os delegados José Carlos e Gustavo Henrique, um dos investigados conseguiu esclarecer bem a situação em depoimento e não deve ser indiciado. 

"(O grupo pode ser maior?) A priori nós trabalhamos com o grupo de quatro investigados. É possível que um deles seja excluído da investigação. Vou até citar o nome, é possível que ele não seja indiciado. Após o interrogatório dele, a gente entendeu que foi bem esclarecedor. É o Dr. Rossemy. [...] Estamos praticamente convencidos de que o Dr. Rossemy deve sair sim do polo passivo da investigação, tendo em vista que o interrogatório dele foi bastante esclarecedor. Ele realmente nos convenceu de que não tinha essa participação nesse esquema. Por isso o nome do Dr. Rossemy está sendo citado aqui. Os demais, lamentavelmente, não podemos mencionar. A partir do momento que ele sai do polo passivo da investigação, no momento o temos como declarante. Ao concluir a investigação, coisa que está muito próxima de acontecer, se nós tivermos realmente a certeza de que o Dr. Rossemy não participava do esquema, como nós hoje temos convicção de que não participava, ele poderá ingressar em juízo no processo penal na condição de testemunha", explicou. 

A polícia respondeu que o principal benefício dos presos nessas negociações era a ida para um presídio que, mesmo sendo ilegal, houvesse possibilidade de uso do aparelho celular.