Polícia

Operação 'Bate e Volta': delegados entendem que advogados extorquiam presos

Redação TNH1 | 05/06/20 - 18h18
Imagem ilustrativa | Arquivo TNH1

Em desdobramento da operação Bate e Volta, deflagrada pela Polícia Civil na última quarta-feira (3) e que resultou nas prisões de três advogados, os delegados Gustavo Henrique e José Carlos, da Delegacia de Investigações e Capturas (Deic), concederam entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (5) e deram mais detalhes sobre a investigação que apura suposto esquema de transferência de presos. Na visão das autoridades, os advogados podem responder por até três tipos de crimes, incluindo extorsão aos presos. 

"Podem responder por crime de associação criminosa, tráfico de influência ou exploração de prestígio, ainda estamos analisando qual desses seria o mais adequado para essa situação, e o crime de extorsão. Nós entendemos claramente que os presos foram extorquidos, foram constrangidos para pagar um valor que nós entendemos que era indevido. E havia uma grave ameaça, porque caso os presos não pagassem, poderiam surgir requisições e exigências legais, digamos assim, que poderiam atrapalhar a vida do preso em eventual progressão de regime. Entendemos que havia sim uma extorsão", disseram os delegados.   

Eles apontam ainda que as investigações indicam altos valores nessas negociações. 

"Temos áudios que foram entregues por presos. [...] Dentro desses áudios se relata e algumas negociações nos levaram a crer que de fato havia um esquema com essa finalidade, de facilitar principalmente transferências entre presídios. [...] Haviam as negociações. Ora se pedia dinheiro, ora se pedia imóveis, ora se pedia veículos. Confesso que não fizemos o cálculo, mas as pessoas ouvidas, os presos principalmente relatam cada um dos valores que pagaram em cada transferência. R$ 60 mil em uma, R$ 15 mil em outra, R$ 20 mil em outra, R$ 100 mil em outra. Confesso que não paramos para calcular, mas há sim o relato". 

Ainda de acordo com os delegados José Carlos e Gustavo Henrique, um dos investigados conseguiu esclarecer bem a situação em depoimento e não deve ser indiciado. 

"(O grupo pode ser maior?) A priori nós trabalhamos com o grupo de quatro investigados. É possível que um deles seja excluído da investigação. Vou até citar o nome, é possível que ele não seja indiciado. Após o interrogatório dele, a gente entendeu que foi bem esclarecedor. É o Dr. Rossemy. [...] Estamos praticamente convencidos de que o Dr. Rossemy deve sair sim do polo passivo da investigação, tendo em vista que o interrogatório dele foi bastante esclarecedor. Ele realmente nos convenceu de que não tinha essa participação nesse esquema. Por isso o nome do Dr. Rossemy está sendo citado aqui. Os demais, lamentavelmente, não podemos mencionar. A partir do momento que ele sai do polo passivo da investigação, no momento o temos como declarante. Ao concluir a investigação, coisa que está muito próxima de acontecer, se nós tivermos realmente a certeza de que o Dr. Rossemy não participava do esquema, como nós hoje temos convicção de que não participava, ele poderá ingressar em juízo no processo penal na condição de testemunha", explicou. 

A polícia respondeu que o principal benefício dos presos nessas negociações era a ida para um presídio que, mesmo sendo ilegal, houvesse possibilidade de uso do aparelho celular.  

"Especificamente nos autos da investigação, no inquérito policial, o que se tem efetivamente são as transferências de determinados presídios para outros presídios que, na visão dos presos, dos reeducandos, é melhor para eles estarem em um presídio A ao invés de estarem no presídio B ou C. Sendo que o principal foco era o seguinte: o preso que estava no presídio do Agreste, ele queria voltar para algum dos presídios da capital. Aí havia esse acordo com os advogados para facilitar essa transferência. Por quê? Estando em algum presídio da capital, para o preso é melhor por uma série de fatores, especialmente pelo fato de poderem utilizar aparelhos celulares para se comunicarem com o meio externo e, consequentemente, levar a ter atividades criminosas. O principal benefício era sair de um presídio que o preso considera pior para ele, para ir a um presídio que considera melhor", disse o delegado Gustavo Henrique. 

Gustavo Henrique ainda informou que as investigações começaram após denúncia feita pela juíza da 16ª Vara Criminal da Capital. 

"A partir dessa denúncia feita pela magistrada da 16ª Vara Criminal da Capital. A partir da provocação dela, os colegas delegados que à época estavam aqui na Deic, tomaram depoimento de alguns presos reeducandos que confirmaram essas informações. A partir desses depoimentos desses presos, uma série de outras diligências e outras provas foram colhidas, como por exemplo os áudios que o delegado José Carlos mencionou, a inquirição de outras testemunhas, e agora essa semana os interrogatórios dos investigados. Inclusive, em alguns desses interrogatórios, os próprios investigados confirmam, senão na íntegra, mas pelo menos de forma parcial, o conteúdo dos áudios que foram apresentados pelos reeducandos. Inclusive, nenhum dos investigados negam que as vozes constantes nesses áudios fossem suas. Alguns deles chegam a confirmar as informações dos áudios, senão integralmente, mas pelo menos de forma parcial. De modo que, juntando todas essas informações, temos hoje a convicção de que realmente existia sim esse esquema", completou. 

O delegado Gustavo Henrique também confirmou que alguns dos presos envolvidos nessas supostas negociações são de alta periculosidade.

"Os reeducandos que constam dentro da investigação como declarantes, posso falar com propriedade porque já investiguei a maior parte deles quando era coordenador da delegacia de narcóticos, são presos realmente considerados de alta periculosidade, alguns deles, inclusive, com vínculos com facções criminosas. Um deles especificamente já teve vínculo de liderança com uma facção criminosa nacionalmente conhecida. Era um dos líderes aqui no Nordeste". 

Ainda de acordo com os delegados José Carlos e Gustavo Henrique, um dos investigados conseguiu esclarecer bem a situação em depoimento e não deve ser indiciado. 

Os três advogados presos nesta semana foram soltos depois da Justiça conceder habeas corpus. O quarto investigado, que estava foragido, não chegou a ser levado ao Sistema Prisional porque teve o alvará de soltura concedido quando ainda se apresentava à delegacia.