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Campanha de Trump por "feliz Natal" é ignorada e não decola

25/12/17 - 20h00

"Acredite." Enormes letras douradas na fachada da Macy"s, uma das mais tradicionais lojas de departamento de Nova York, pedem fé. Quando fazia sua campanha pela Casa Branca, Donald Trump também pedia aos americanos que acreditassem que se ele fosse presidente veriam "feliz Natal" de volta aos anúncios das grandes lojas.

Mas nenhuma dessas vitrines que dão a volta num quarteirão inteiro de Manhattan desejam isso a ninguém, preferindo o mais genérico "boas festas", adotado para não ferir a sensibilidade de seus clientes que não comemoram o nascimento de Jesus Cristo.

Mesmo em meio a uma profusão de papais noéis, a palavra "Natal" parece ter sido banida, para desgosto do presidente, das vitrines que atraem multidões às ruas de Nova York nessa época de festa.

Na Saks Fifth Avenue, versões de uma Branca de Neve fashionista e anõezinhos idem seduzem os que passam por ali. A Barneys tem uma zebra colorida e um estranho híbrido de unicórnio com rinoceronte, enquanto a Bloomingdale"s tem manequins com penteados estilo anos 1970 diante de um fundo com motivos geométricos.

POLÍTICA NA CEIA

Trump tentou -sem sucesso- politizar o Natal. Nem Ivanka, sua filha e assessora no governo, aderiu à campanha do pai, postando em uma rede social um retrato dela diante de uma árvore de Natal com a legenda "boas festas" -Ivanka, afinal, se converteu ao judaísmo, religião de seu marido, Jared Kushner.

"Você pode celebrar o Natal, mas não acho que as pessoas vão seguir as regras dele", dizia Wilma Sánchez, que levou as duas filhas para ver as vitrines da Saks. "É uma tradição dar "feliz Natal", mas não acho que ninguém deveria ser obrigado a dizer isso."

Quando enfim aprovaram a reforma tributária, depois de uma longa batalha no Congresso na semana passada, o presidente voltou ao assunto dizendo que o corte de impostos, em grande parte para os mais ricos, seria como um "grande e belo presente de Natal" a todos os americanos.

Sentado com a namorada nas escadas da catedral de Saint Patrick, ponto estratégico da Quinta Avenida para avistar a maior árvore de Natal da cidade, o estudante Alex Licari tinha dúvidas sobre essa campanha de Trump.

"Sou a favor da liberdade, mas isso vindo do Trump parece um pouco exagerado, não tem um fundo religioso", dizia Licari. "São palavras vazias para ele. Ele está tentando trazer de volta o espírito do Natal, mas é meio estranho ele insistir dessa forma."

Não parece ser, de fato, o fervor religioso que anima o presidente. Sua ênfase no nascimento de Cristo visa estreitar laços com cristãos conservadores, parte do eleitorado que está entre as que mais apoiam o republicano.

Embora padres e pastores tenham ganhado a simpatia de Trump, os Estados Unidos se distanciam cada vez mais da fé. Uma pesquisa recente do Centro de Pesquisas Pew aponta queda no número de americanos que veem o Natal como uma festa religiosa.

Só 46%, menos de metade dos que celebram a data, dizem que o feriado é "mais religioso do que cultural" e só 51% desses têm planos de ir à missa, indicando, segundo o estudo, uma sociedade que pende para a secularização.

Nas calçadas abarrotadas, as multidões se acotovelando na disputa por promoções talvez diriam que a data não passa mesmo de uma grande festa comercial, mas o atrito entre "feliz Natal" e "boas festas" ainda gera certo debate.

"Vivemos na América e podemos dizer o que quisermos, então é bom dizer "feliz Natal". É o nascimento de Cristo", dizia Michael Harrison, um enfermeiro com chapéu de Papai Noel, que foi ver as luzes da árvore de Natal do Rockefeller Center. "Gosto da ideia do presidente. Não gosto dele, mas gosto da ideia."