Brasil

Cid esqueceu que PM é treinado para defender vida, diz líder de amotinados 

Uol | 20/02/20 - 15h45

O líder do movimento dos policiais amotinados no Ceará, o ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante), afirmou hoje ao UOL que o senador Cid Gomes (PDT-CE) "esqueceu" que policial é treinado para proteger vidas e que os tiros que atingiram o ex-governador ontem foram uma reação.

"Quando [Cid Gomes] chegou no quartel, ele deu 5 minutos para que policiais esposas e filhos saíssem em paz. Disse que se passasse disso não se responsabilizaria. Depois ele pega esse trator e joga contra eles no quartel", afirma.

"Só que ele esquece que o policial é treinado para defender a vida das pessoas, quanto mais de colegas, esposas e filhos? [Os tiros] não foram uma ação, foram uma reação. Ele colocou um trator esmagando pessoas. Aquilo não foi um atentado contra aqueles policiais, foi contra todo e qualquer policial, esposas, filhos e qualquer trabalhador", dfisse o cabo Sabino, líder dos amotinados.

Cid Gomes foi baleado ontem quando tentou entrar no 3° Batalhão da Polícia Militar em Sobral (270 km de Fortaleza) com uma retroescavadeira. O lugar estava tomado por policiais militares que reivindicam aumento salarial e seus familiares. A região vive uma crise de segurança por causa do motim.

Sabino lembrou que, antes de chegar a Sobral, o senador fez um vídeo chamando "o povo de bem" de Sobral a se unir a ele para desocupar o quartel tomado por militares e famílias.

"Ele fez um vídeo incitando a população do município a combater, a enfrentar policiais. Anunciou que chegaria [às 16h] e que o povo fosse esperar ele no aeroporto, que ele ia resolver a situação."
"Quando chegou, [Cid Gomes] saiu nas ruas de Sobral falando, de cima de um trator, que ia resolver", disse.

Governador apoiou, diz líder

Sabino acusou o governador Camilo Santana (PT) de articular junto com o senador a invasão ao quartel de Sobral ontem à tarde. "Não tenho dúvidas de que Camilo apoiou [o ato de Cid Gomes]. Não foi uma atitude impensada: foi articulada. O senador colocou um vídeo nas redes sociais pela manhã, o governador deve ter sido o primeiro a ver. Você não acha que o governador não ligou? Com certeza teve todo o apoio do governo. Foi ação pensada e articulada", diz.

O cabo ainda criticou a ordem dada para que o Batalhão de Choque da PM fizesse a retomada do quartel de Sobral.

"Não houve fuga. Com a ação do Cid ontem, o governador —que é aliado de primeiro hora do senador licenciado— tomou uma atitude pior que o Cid, de que as forças especiais fossem a Sobral para tomar o quartel de policiais, mulheres e crianças. Em uma atitude de bom senso, os policiais resolveram desocupar por eles mesmos o quartel. Mas eles seguem no movimento, parados em suas casas", afirma.

Ainda segundo sabino, a adesão do movimento cresceu ainda mais hoje. "Os ânimos acirraram muito na própria categoria, na população, que viram ali a truculência contra os profissionais. Hoje temos uma adesão, em apenas 40 horas de movimento, de 65% da tropa, com o interior com mais de 80%" garante.

O UOL questionou a SSPDS para saber se o cálculo de adesão é similar ao apresentado pelo líder do movimento, mas não obteve resposta.

"Carnaval depende do governo"

Sobre a realização do Carnaval, Sabino diz que "depende só do governo".

"Quem decide quantos dias ficaremos parados é o governador do estado. Não queremos estar parados. Na realidade ele não quer nos ouvir para que seja construída uma proposta que possibilite ganhe real, valorização da categoria. A gente depende do governo. Se chamar hoje, a gente constrói", diz.

O cabo diz que além da proposta de reajuste salarial, a categoria tem uma demanda de melhorias estruturais. "Temos policiais atuando 70 horas semanais no interior. O governo não negocia, não nos recebe e mostra intransigência", finaliza.

Qual o motivo do motim?

Os PMs querem que o governo do Ceará refaça a proposta de reestruturação salarial enviada na terça-feira (18) para a Assembleia. O projeto de lei prevê aumento de salário para os soldados da PM e para bombeiros de R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022.

Mas os policiais querem que o pagamento seja feito em apenas uma parcela e que seja apresentado um plano de carreira para a categoria. Por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2017, greve é proibida para agentes das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e Corpo de Bombeiros.