Nordeste

Comitê científico alerta para possível "efeito bumerangue" com reabertura em Maceió e outras capitais

Redação TNH1 | 03/07/20 - 09h29
Itawi Albuquerque/TNH1

Foi divulgado ontem (02) o novo boletim do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus (C4) do Consórcio Nordeste, com o alerta para um possível "efeito bumerangue" dos casos de covid-19 em Maceió e outras capitais, após a retomada das atividades do setor econômico proposta pelos estados. 

O estudo também recomendou a instituição imediata de lockdown - isolamento social mais restritivo - nas cidades de Maceió, Aracaju/SE, Caruaru/PE, Salvador, Feira de Santana, Itabuna e Teixeira de Freitas, estas quatro últimas na Bahia, baseados numa série de indicadores da Matriz de Risco do C4.

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A instituição recomenda a reversão de planos de afrouxamento do isolamento social em capitais e em municípios do interior que estejam apresentando curvas crescentes ou em estabilização da curva em altos patamares de casos e óbitos. Assim como o fator de reprodução (Rt) acima de 1, e que tenha excedido a taxa de ocupação (80%) de leitos de enfermaria ou UTI, considerada como limite máximo de segurança pelo estudo.

Com isso, segundo os pesquisadores, o afrouxamento para a reabertura do comércio só pode ser cientificamente justificado por um Rt sensivelmente abaixo de 1, com curvas de casos e óbitos apresentando quedas consistentes e de grande monta por mais de 14 dias, e com uma taxa de ocupação de leitos ao redor de 70%.

Alagoas

De acordo com o C4, no período de 14 a 27 de junho, Alagoas continuou a registrar crescimento de casos de coronavírus por todo o Estado. Apesar de um crescimento moderado de casos novos em Maceió (36%), cidades importantes do interior alagoano, como Arapiraca (77%) e Palmeira dos Índios (62%) apresentaram taxas altas de crescimento de casos.

Já em cidades com número de habitantes menor, como Campo Alegre (310% de aumento de casos), o crescimento dos casos continuou expressivo. A análise dos casos acumulados por 100 mil habitantes revelam taxas extremamente altas por todo estado, como em Marechal Deodoro (2.385 casos por cem mil), Jequiá da Praia (2.115 casos por cem mil) e Porto Calvo (1.704 casos por 100 mil).

Apesar da taxa de retransmissão de Maceió estar se aproximando de 1 (1.08), o mesmo parâmetro continua extremamente alto em várias cidades do interior do estado (ver gráfico abaixo).

Para o estudo, todos estes parâmetros indicam que Alagoas pode enfrentar um efeito "bumerangue" de grande monta, onde casos graves provenientes do interior levam a uma sobrecarga ou mesmo colapso do sistema hospitalar da capital.

No dia 29 de junho, segundo a pesquisa, os 5 maiores potenciais surtos de Alagoas estavam no interior do estado, nos municípios de Delmiro Gouveia, Girau do Ponciano, Palmeira dos Índios, Taquarana e União dos Palmares.

"Como na maioria dos estados nordestinos, Alagoas está começando a sofrer com as consequências do “efeito bumerangue”. Desta forma, devido a alta taxa de ocupação de leitos de UTI, verificada nos últimos dias, este Comitê recomenda o lockdown da cidade de Maceió, que deveria incluir barreiras sanitárias e controle de tráfego de carros particulares e ônibus intermunicipais pelas principais rodovias que deixam a capital em direção ao interior do estado", consta no texto.

Análise do Comitê

Apesar de ter apresentado um crescimento bem menor de casos, e de óbitos, nos últimos 14 dias, Maceió ultrapassou há dias o limite de ocupação máxima de leitos de UTI preconizado pelo comitê, com 80%.

Os dados mostram que a fração maior destas internações são de pacientes vindos do interior. Assim, Maceió pode sofrer um grande acúmulo de casos de covid-19 provenientes de outras cidades do estado.

"Este comitê recomenda a decretação de um lockdown na cidade, que incluiria o controle das rodovias que se dirigem ao interior do estado, ou a outros estados nordestinos (BR-101). Baseado em nossa análise de risco, não vemos a possibilidade de nenhuma flexibilização ser implementada, nem no interior, nem na capital de Alagoas neste momento", finaliza o boletim.