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Contra trégua em Gaza, ministro israelense renuncia

Folhapress | 14/11/18 - 22h21

O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, anunciou nesta quarta (14) sua demissão do governo Binyamin Netanyahu, um dia depois de um acordo de cessar-fogo com grupos palestinos para conter a escalada de violência na faixa de Gaza.

O ministro afirmou à imprensa que a trégua é uma "capitulação ante o terrorismo". "O Estado compra tranquilidade a curto prazo ao preço de graves danos a longo prazo para a segurança nacional."

O acordo, intermediado pelo Egito, foi anunciado na terça (13) por militantes palestinos em Gaza. O governo israelense não se pronunciou oficialmente, mas fontes diplomáticas confirmaram a trégua ao jornal Haaretz.

Lieberman tem solicitado uma resposta mais forte de Israel à rodada mais intensa de foguetes palestinos contra o país desde 2014.

"Nossos inimigos nos suplicaram para aceitar este cessar-fogo e sabem muito bem por que fizeram isso", disse.

O ministro também afirmou que é contrário à decisão israelense que permitiu que o Qatar enviasse, na última semana, ajuda humanitária de US$ 15 milhões (R$ 56 milhões) a Gaza.

Em um comunicado, o grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, qualificou a demissão de Lieberman de "vitória política".

Nascido na antiga União Soviética, Lieberman, que já foi ministro do Exterior, assumiu a pasta da Defesa em maio de 2016. Fontes disseram ao Haaretz que ele tem planejado esse movimento há algum tempo, sentindo que "não está levando a Defesa do país para onde ele quer".

A saída do ministro entra em vigor em 48 horas. Netanyahu assumirá o posto interinamente. A renúncia enfraquece o premiê e pode até levar a uma nova eleição.

Isso porque a demissão de Lieberman provavelmente significará a saída de seu partido da coalizão de Netanyahu. Sem essas cinco cadeiras no Parlamento de 120 membros, o premiê terá uma maioria de apenas um assento, o que pode levá-lo a adiantar as eleições nacionais, previstas para novembro de 2019.

Ao renunciar, Lieberman pediu eleições antecipadas.

A região não via uma troca tão intensa de foguetes desde 2014, quando uma guerra de 50 dias entre Hamas e Israel deixou mais de 2.000 mortos, a maioria do lado palestino.

A escalada de violência começou no domingo (11), após uma operação secreta do Exército israelense matar um líder do Hamas, e outros seis palestinos. Um tenente-coronel israelense também morreu na ação.

Com isso, os palestinos passaram a lançar na segunda (12) foguetes em direção a Israel, que respondeu com bombardeios. Militares israelenses afirmaram que 400 foguetes foram disparados pelos palestinos. A ONU e o Egito vinham negociando com os dois lados uma tentativa de cessar-fogo na região, que vive uma onda de violência desde 30 de março, quando os palestinos lançaram protestos semanais na fronteira com Israel.

Essas manifestações frequentemente terminaram em conflitos -mais de 220 palestinos foram mortos nesse período, além de dois soldados israelenses.