A previsão de gasto militar para o primeiro ano de governo do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL) traz o maior aumento de despesa com pessoal em dez anos e uma redução expressiva do investimento em programas de reequipamento das Forças Armadas. Não fosse uma criatividade contábil dos militares, que conseguiram recursos com a capitalização de uma estatal para comprar novos navios, a despesa de investimento seria a menor desde 2009. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-1'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-13');A Folha de S.Paulo analisou a série histórica com a ferramenta de acompanhamento orçamentário Siga Brasil, do Senado. Para este ano, o Ministério da Defesa, ainda na gestão Michel Temer (MDB), planejou gastar R$ 104,2 bilhões, o quarto maior volume da Esplanada. Desse montante, R$ 81,1 bilhões irão para pessoal, R$ 13,3 bilhões, para gastos correntes (custeio) e R$ 9,8 bilhões, para investimentos. Os valores não incluem o contingenciamento de R$ 5,1 bilhões nos dois últimos itens, que podem ser revertidos ao longo do ano. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-2'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-4'); No caso dos gastos com pessoal, que incluem os 360 mil integrantes das Forças Armadas e aposentadorias, o aumento nominal em relação ao que o Siga Brasil registrou como pago em 2018 é o recorde da série, R$ 7,1 bilhões a mais. Os dados anteriores a 2019 estão corrigidos pela inflação. São 2,9 pontos a mais do que o que foi executado em 2018. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-3'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-6'); O Ministério da Defesa afirma que o aumento com pessoal reflete o projeto de recuperação salarial das Forças aprovado em 2016. A última parcela dos quatro reajustes começou a valer em janeiro. O projeto de reestruturação da carreira militar, enviado em conjunto com a proposta de reforma previdenciária da classe ao Congresso, prevê uma recomposição ainda maior, mas supõe que ela será compensada pelas novas regras de aposentadoria e por uma redução de 10% dos quadros em até dez anos. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-4'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-8'); "Se as Forças Armadas contassem com uma participação maior do PIB, e 2% é o volume considerado adequado para gastos conforme os padrões da Otan (aliança militar ocidental), haveria um maior aporte de recursos para projetos e a proporção de gasto com pessoal seria menor", afirmou a pasta, em nota. O Brasil fechou 2018 com cerca de 1,4% do PIB comprometido com defesa, e se a execução prevista para 2019 for integral, chegará a quase 1,5%, o patamar de 2009. Os 2% de meta da Otan, atingidos apenas por 7 de seus 29 membros, não incluem gasto com aposentadorias. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-5'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-17'); Como o custeio se manteve estável ao longo dos anos, é no investimento que o contraste com os gastos de pessoal fica mais marcante. A rubrica teria R$ 7,1 bilhões em 2019, não fosse a adição de um mecanismo chamado inversão –no caso, a capitalização de R$ 2,9 bilhões na Emgepron, uma estatal de projetos navais da Marinha fundada nos anos 1980. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-6'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-10'); Ela será a responsável pela aquisição de quatro corvetas, negócio assinado no mês passado que pode chegar a R$ 6,4 bilhões ao todo, e também de um navio polar. Em 2018, a mesma manobra já havia injetado R$ 2,7 bilhões na estatal, como forma de escapar do contingenciamento de recursos do teto de gastos, que não abrange capitalizações. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-7'); window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256607-14'); Assim, o ano passado registrou R$ 11,7 bilhões em programas militares, um salto ante os R$ 8,7 bilhões de 2017. "O mais importante é encontrar junto à área econômica uma previsibilidade plurianual para os investimentos estratégicos de defesa, haja vista que se tratam de contratos já assinados, muitos deles com governos estrangeiros", afirmou a pasta, ao comentar o impacto do teto de gastos imposto em 2017. window._r4Ads.call('div-gpt-ad-1618237256620-12');Com efeito, nos últimos anos foram justamente esses programas com envolvimento internacional que mantiveram um mínimo padrão de execução orçamentária, após diversos problemas. Em 2015, o grande corte no começo do governo Dilma Rousseff (PT) obrigou retenções que geraram atrasos. O principal programa da Embraer, a fabricação do cargueiro KC-390, teve seu cronograma atrasado –o primeiro avião será entregue neste ano, quando a previsão inicial era de a Força Aérea já ter recebido cinco unidades. O quadro foi sendo revertido a partir de 2016, já com Temer no poder. Para este ano, mesmo antes do contingenciamento, a previsão de gastos caiu. Em 2018, por exemplo, o programa de construção de 36 caças suecos Gripen, com participação da brasileira Embraer, recebeu exatamente o R$ 1,1 bilhão previsto no Orçamento. Neste ano, foi autorizado o gasto de R$ 642 milhões no programa. Ainda que haja sazonalidades típicas desses negócios, o grosso do investimento geralmente se dá justamente na fase inicial –o primeiro modelo brasileiro voará na Suécia em agosto, e as entregas estão previstas para ocorrer de 2021 a 2026. Vítima no passado recente, o KC-390 manteve neste ano seu nível de investimento. A FAB já desembolsou R$ 5 bilhões em desenvolvimento (retornáveis em royalties de exportação) e vai pagar mais R$ 7,2 bilhões pela compra de 28 unidades da aeronave. No caso do programa de submarinos convencionais, que também empatou o gasto autorizado em 2018, a queda é de R$ 898 milhões para R$ 362 milhões. Mas aqui há uma explicação parcial, que é o fato de que um dos quatro barcos já foi entregue para testes no fim do ano passado, e a linha de produção já está operacional. Explicação similar, o avanço nas entregas, pode ser aplicada ao programa de helicópteros multitarefa para as três Forças, parte, assim como no caso dos submarinos, do acordo militar assinado com a França em 2009. O Exército, maior Força e com presença dominante entre os ministros militares do governo Bolsonaro, tem sido menos favorecido no quesito. O Sisfron, sistema para monitorar fronteiras, se arrasta desde 2012 –dos R$ 551 milhões previstos em 2017 e 2018, foram gastos R$ 316 milhões, incluindo aí os restos a pagar, recursos atrasados de outros anos. Na quarta passada (17), o comandante da Força, general Edson Leal Pujol, reclamou da falta de recursos no discurso do Dia do Exército na frente de Bolsonaro. Para a indústria, o governo é um parceiro essencial. "Funciona assim em todos os países do mundo", diz Roberto Gallo, presidente da Abimde, associação do setor de defesa e segurança, que reúne cerca de 220 empresas.