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Diplomatas americanos preparam documento contra decreto de Trump

30/01/17 - 22h49

A oposição ao decreto do presidente Donald Trump que restringe o ingresso de pessoas no país cresceu nesta segunda-feira, 30, nos EUA, incluindo a notícia de que diplomatas de carreira estão elaborando um documento contra a medida. A Casa Branca defendeu a restrição a estrangeiros afirmando que entrar nos EUA é um “privilégio, não direito” e o objetivo da mudança é se antecipar a ameaças terroristas.

Além dos diplomatas, criticaram hoje o decreto procuradores de Justiça, parlamentares e o ex-presidente Barack Obama. Na primeira manifestação pública com críticas abertas ao novo governo desde que deixou o cargo, Obama afirmou que os valores americanos estão em jogo e ressaltou que discorda da discriminação de pessoas com base em sua fé ou religião.

O decreto bloqueou a entrada no país por 90 dias de cidadãos de sete países de maioria islâmica e interrompeu o recebimento de refugiados de todo o mundo por 120 dias. O programa para os sírios que fogem da guerra civil foi suspenso por tempo indeterminado.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que a intenção de Trump foi estar “à frente da curva” na tentativa de evitar ameaças terroristas. “Não sabemos quando nossa hora vai chegar. Não sabemos quando um indivíduo vem para nos atacar”, afirmou. “O presidente não vai esperar, ele está ficando à frente das ameaças. A chave é não esperar até que algo aconteça.”

Mas um número crescente de críticos afirma que a decisão terá o efeito oposto, por reforçar a narrativa de grupos extremistas de que os EUA estão em guerra contra o Islã e dificultar a colaboração com países de maioria muçulmana que lutam contra o Estado Islâmico (EI).

Dezenas de diplomatas de carreira do Departamento de Estado pretendiam ressaltar os riscos do decreto no documento, que será entregue por meio de um canal interno que permite a manifestação de divergências em relação às posições oficiais do governo.

“Uma política que fecha nossas portas a mais de 200 milhões de viajantes legítimos na esperança de bloquear um pequeno número de viajantes que pretendem causar dano a americanos usando o sistema de vistos para entrar nos EUA não vai alcançar o objetivo de tornar nosso país mais seguro”, disse trecho do documento divulgado pelo Washington Post. “Olhando além da eficácia, esse veto se opõe aos valores fundamentais e constitucionais americanos que nós, funcionários federais, juramos defender.”

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O SITE Intel Group, que monitora a ação de extremistas na internet, disse que jihadistas já estão usando o veto imposto por Trump como instrumento de recrutamento e se referindo à medida como prova de que os EUA professam o ódio contra os muçulmanos.

Estudo do conservador Instituto Cato afirmou que refugiados e imigrantes de países de maioria muçulmana não constituem uma séria ameaça à segurança dos EUA. Segundo a entidade, a probabilidade de alguém ser assassinado por um refugiado no país é de 1 em 3,64 bilhões. “Essa discriminação e arbitrariedade não pode ser justificada de maneira racional”, afirmou o estudo.

A constitucionalidade e a legalidade do decreto foram questionadas hoje por 16 procuradores de Justiça estaduais, que pretendem recorrer ao Judiciário para tentar revogá-lo. “A liberdade religiosa foi, e sempre será, um alicerce de nosso país”, afirmou documento divulgado por eles.

Depois de recuar na aplicação do decreto a detentores de green card, o governo deve abrir exceção para cidadãos do Iraque que trabalharam ao lado de tropas americanas no país.

Confusão

A Casa Branca minimizou o caos provocado pelo decreto, que levou à detenção de dezenas de pessoas em aeroportos dos EUA e à proibição de viagens de inúmeras outras com vistos válidos, que estavam prontas para embarcar em diversos aeroportos do mundo.

A medida também deixou em suspenso a vida de refugiados que já haviam sido aceitos e agora estão impossibilitados de se mudar para o país. “É pena que algumas pessoas tenham sofrido inconvenientes, mas no fim nós estamos falando de um par de horas”, afirmou Sean Spicer.