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Drusos lideram rejeição a lei que define Israel como Estado judeu

04/08/18 - 20h23

Quando elaborou a Lei da Nacionalidade, legislação que está causando polêmica dentro e fora de Israel, o parlamentar Avi Dichter, ex-ministro da Segurança Interna e ex-chefe do Serviço de Segurança de Israel (Shin Bet), pensou que estaria prestando um serviço ao partido governista Likud, ao qual pertence.

Afinal, a lei nacionalista, que define oficialmente Israel como um Estado judeu, foi modelada sob medida para os eleitores do premiê Binyamin Netanyahu. Aprovada no dia 19 de julho, ela parece, no entanto, estar se tornando mais um fardo do que um trunfo.

A legislação –cujo nome oficial é Lei Básica: Israel como o Estado-Nação do Povo Judeu– é alvo de rejeição de cidadãos das diversas minorias não judaicas em Israel e da oposição judaica, que tem promovido protestos, cartas abertas e entrevistas. Eles reclamam da falta de palavra "igualdade" no texto.

Os mais ruidosos contra a lei são os drusos, uma comunidade de mais de 130 mil pessoas conhecida pela lealdade à nação e por votar, em grande número, pelo Likud.

Neste sábado (4), eles reuniram milhares em uma manifestação em Tel Aviv, com apoio da oposição.

Ao contrário dos árabes muçulmanos (a grande maioria dos 20% de árabes em Israel), os drusos se alistam em massa no Exército de Defesa de Israel (491 deles morreram em combate), fazem parte da diplomacia e de instituições nacionais. Vários oficiais drusos ameaçaram deixar o Exército por causa da lei, considerada um tapa na cara.

"Não queremos ser cidadãos de segunda classe. Queremos ser israelenses. Somos parte desse povo", disse o general da reserva druso Amal Asad, que escreveu post em rede social, dias antes, afirmando que, com leis como essa, Israel poderia se transformar num país com Apartheid.

"Li a lei com afinco e não encontrei a palavra democracia. Sou a favor de um lar nacional para o povo judeu, mas onde eu me encaixo?"

Asad, que perdeu um dos irmãos em combate na faixa de Gaza, também se queixa da promessa de Netanyahu diante da rejeição: a de criar uma lei à parte, oferecendo um pacote de benefícios aos soldados drusos e circassianos (outra pequena minoria) e apoio às instituições religiosas, educacionais e culturais das duas minorias.

"Bibi [Netanyahu] acredita que mandaremos nossos filhos ao Exército não para defender nosso país –porque, na opinião dele, este não é o nosso país–, mas para podermos receber migalhas. Bibi acha que nos acostumamos a pensar como escravos", escreveu Asad em outro post.

Justamente por causa da presença de Asad, Netanyahu se retirou de uma reunião com a liderança drusa para tentar superar a crise, na quinta (2), abrindo caminho para mais protestos dos drusos.

Na Declaração de Independência de Israel, de 1948, também não aparece a palavra democracia, mas o documento –lido pelo ex-premiê David Ben-Gurion ao anunciar a criação do país– declara que o "Estado de Israel (...) patrocinará o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes (...); garantirá liberdade de religião, consciência, língua, educação e cultura". Para os drusos, não havia necessidade de uma outra legislação além dessa.

Os drusos são uma comunidade autônoma que segue uma religião próxima ao Islã. Em Israel, a maioria deles não se considera árabe. Os drusos são conhecidos pela lealdade às nações onde vivem, algo que faz parte da própria crença.

A Lei da Nacionalidade diz que Israel é "o lar nacional do povo judeu" e que "o direito de exercer a autodeterminação nacional no Estado de Israel é exclusiva do povo judeu". A legislação também rebaixa o árabe, que deixa de ser um dos idiomas oficiais do país –status restrito ao hebraico.

Para os defensores da lei, no entanto, a oposição a ela é um exagero, já que apenas oficializa o que já era, na prática, senso comum.

"Eles inventam coisas que não estão escritas. Árabes, drusos e membros de minorias: vocês estão sendo enganados", escreveu Netanel Fischer, professor do Centro Acadêmico de Direito e Ciência Shaarei Mishpat.

"Essa lei deveria ter sido aprovada anos atrás. Desde o estabelecimento do país, Israel aprovou 13 leis básicas [Israel não tem uma Constituição] que lidam com a separação de poderes, como a dignidade humana e com a liberdade. Essa lei acrescenta um elemento que estava faltando: o caráter especial do Estado como pátria judaica."