Jornalista Rolf Kuntz:
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"Depois de três meses negativos, com perda acumulada de 1,2%, a indústria teve crescimento zero em janeiro e somou expansão de 2,9% em 12 meses, com resultados anuais positivos em todas as grandes categorias econômicas. Favorecida pelo aumento do emprego, da renda familiar e do crédito, a fabricação de bens de consumo avançou 3,5% nos 12 meses até janeiro, num movimento liderado pelo ganho de 11,7% do segmento de bens duráveis, como eletrônicos, eletrodomésticos e móveis. O volume produzido em janeiro foi 1,40% maior que o de um ano antes, mas a média móvel trimestral diminuiu 0,30%.
Com o crescimento obtido no ano passado, a indústria acumulou dois anos consecutivos de expansão e cinco resultados positivos no decênio encerrado em 2024. Projeções do mercado têm apontado mais um ano de avanço econômico e de aumento da produção industrial, mas com fortes pressões inflacionárias. O quadro poderá ser menos dinâmico, no entanto, se o governo moderar seu gasto para conter a alta geral de preços.
Não está claro, ainda, se o presidente Luiz Ináxio Lula da Silva se disporá a controlar a despesa pública e seu efeito sobre o crescimento econômico para combater a inflação. Por enquanto, analistas e operadores do mercado projetam inflação superior a 5,5% em 2025. As estimativas indicam taxas menores nos próximos anos, mas ainda superiores à meta oficial, mantida em 3%. O presidente da República já admitiu a disposição de concorrer à reeleição em 2026. Se essa decisão resultar em gastos com objetivos eleitorais, a tendência inflacionária continuará marcando a cena econômica.
Consideradas apenas as grandes categorias econômicas, o melhor desempenho apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o da indústria de bens de capital, isto é, do segmento fabricante de máquinas e equipamentos. Essa categoria cresceu 4,5% em janeiro, com produção 8,2% superior à de um ano antes, e acumulou expansão de 9,6% em 12 meses. Nos mesmos períodos, a fabricação geral de bens de consumo expandiu-se 3,6%, 2,2% e 3,5%.
O setor de bens de capital cresceu, portanto, mais velozmente que as outras áreas da indústria, indicando um empenho do empresariado em aumentar o potencial de produção e, portanto, de expansão econômica. Esse resultado ocorreu numa fase de juros elevados e ainda em alta. Essa piora das condições de financiamento já se reflete, provavelmente, na variação negativa de 0,30% da média móvel trimestral da produção da indústria.
A evolução das condições de crédito vai depender, ao longo do ano, de como os dirigentes do Banco Central (BC) avaliem as perspectivas de evolução das contas públicas. O aperto será mantido, podendo até se agravar, se o comitê responsável pela política de juros perceber um possível agravamento das condições fiscais. Nesse caso, os obstáculos à expansão dos negócios poderão ser ampliados.
Proteger o valor da moeda é a função principal da equipe do BC, mesmo ao custo de contenção da atividade econômica e da criação de empregos. O presidente Lula poderá preservar condições favoráveis aos negócios e ao emprego, num quadro de maior moderação, se contiver seu ímpeto gastador, cuidar mais da saúde financeira do governo e evitar a queima de dinheiro em objetivos eleitorais."
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