Saúde

Estoque de vacina contra meningite C em bebês tem situação crítica no país

26/07/18 - 21h26
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Um informativo do Ministério da Saúde enviado aos estados aponta que o país apresenta situação "crítica" de abastecimento da vacina meningocócica, recomendada a bebês para proteção contra meningite C.

O problema ocorre desde abril, quando foram distribuídas doses equivalentes a apenas 58% da cota mensal de cada estado, e piorou nos meses seguintes –chegando a atingir 10% da cota em maio, 15% em junho e 36% neste mês.

Diante do envio reduzido, secretarias estaduais e municipais de saúde em ao menos seis estados consultados pela reportagem admitem que o cenário já gera falta da vacina em alguns postos de saúde.

É o caso de cidades de Espírito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

Procurados, Pernambuco e Rio de Janeiro também afirmam ter baixos estoques, mas não responderam se houve falta nos postos até agora.

A situação tem levado a uma peregrinação de pais em busca da vacina. Desde a última sexta (20), a auxiliar administrativa Patrícia, que pede para não ter o nome completo divulgado, procura a vacina para a sua filha de três meses em unidades de saúde de Araraquara, no interior de SP.

Até agora, não conseguiu em nenhuma delas. "Hoje [quarta], falaram que chegaram apenas quatro doses, que já acabaram, e pediram que eu ligue na segunda-feira."

Questionada, a Prefeitura de Araraquara diz que, devido ao atraso no recebimento das doses, há falta de vacina em todas as 32 unidades de saúde do município. Diante disso, começou a anotar os dados para contato de quem procura os postos para informar quando houver reposição.

Outras cidades do estado também relatam estoques zerados. Em São José dos Campos, 20 dos 40 postos de saúde não têm a vacina. A prefeitura diz que tem orientado a população a ligar e confirmar a disponibilidade com os postos antes de sair de casa.

Na capital paulista, a prefeitura informa ter recebido apenas 16% das doses pedidas para este mês. "Apesar das ações para amenizar possíveis transtornos, como o remanejamento das doses de salas de vacina com menor demanda, o atendimento já começou a ser comprometido na cidade pela falta da vacina em algumas unidades", diz em nota.

Segundo a secretaria estadual de saúde de SP, o cenário ainda é de alerta. Até o momento, foram recebidas 101 mil doses para o mês de agosto –o equivalente a 36% do previsto. "A manutenção do abastecimento depende do envio de novas doses."

Já de maio a julho, a pasta diz ter recebido 339 mil doses –o total solicitado, no entanto, era de 896 mil.

Para a infectologista Karen Mirna Morejon, do comitê de imunizações da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a situação preocupa, uma vez que, em caso de falta prolongada, crianças podem ficar desprotegidas.

Ela lembra que, apesar de outras vacinas que protegem contra meningite no SUS, a meningocócica é a única da rede que protege contra a doença causada pela bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) do grupo C –tipo prevalente entre as meningites bacterianas e que desperta atenção devido à possibilidade de gerar quadros graves.

Em geral, a meningite é caracterizada pela inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. A doença pode ser causada por vários agentes, como vírus e bactérias. Os principais sintomas são febre, dor de cabeça, vômitos, náuseas, rigidez de nuca e manchas vermelhas na pele.

Na rede privada, a vacina contra esse e outros tipos de meningite, chamada de ACWY, custa em torno de R$ 350. Quem não pode custear esse valor, assim, fica sujeito a atrasos no calendário vacinal.

Na rede pública, a vacina meningocócica C é indicada em duas doses, aos três meses e cinco meses, além de um reforço aos 12 meses de vida e outro na adolescência.

Em meio à incerteza sobre onde há baixos estoques e onde há desabastecimento, a presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabela Ballalai, recomenda aos pais que procurem informações junto ao município e busquem a proteção para os filhos assim que o abastecimento for regularizado.

Segundo ela, mesmo com o atraso, crianças que já tomaram uma das doses não precisam recomeçar o esquema vacinal. Neste caso, é preciso apenas completá-lo com as demais doses para garantir que a proteção seja efetiva.

Em nota, o Ministério da Saúde informa que a vacina está sendo distribuída de forma reduzida devido a atrasos na entrega pelo laboratório produtor, a Funed (Fundação Ezequiel Dias). De janeiro a julho deste ano, foram enviadas aos estados 3,9 milhões de doses. No mesmo período do ano passado, foram 5,9 milhões.

Segundo a pasta, a previsão é que a situação seja normalizada em agosto. Até lá, o ministério orienta os municípios com estoques reduzidos a fazer a vacinação segundo a disponibilidade de doses.

Questionada, a Funed informa que o problema ocorre "devido a problemas atípicos na cadeia produtiva e logística" nos últimos três meses, "com consequente impacto no abastecimento e disponibilização para a população".

O laboratório diz ainda que o cenário é "temporário" e que a situação será toda regularizada até em agosto.

Ainda segundo o ministério, foram registrados 316 casos de meningite C em 2017, número semelhante ao do ano anterior. A pasta não informou quantos casos foram registrados neste ano.

Em junho, a Folha mostrou que a vacinação de crianças já atinge o índice mais baixo em mais de 16 anos. A taxa de cobertura da vacina meningocócica C, por exemplo, teve queda de 91,7%, em 2016, para 78,7% no ano passado.