Alagoas

Hélvio Auto atendeu 105 pessoas com picada de cobra em 2020; veja espécies mais comuns

Paulo Victor Malta com redação TNH1 | 16/07/20 - 14h24
Jiboia de 3 metros capturada pelos bombeiros em abril, em Arapiraca | Divulgação / CBM

Depois do episódio em Brasília quando uma naja deixou um estudante de veterinária em coma, os bichos peçonhentos voltaram a despertar interesse, apesar de esse tipo de acidente ser mais recorrente do que se pensa.

A exemplo do Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), referência para tratamento de acidentes ofídicos (ou seja, com animais peçonhentos) no estado, que recebeu do início do ano até esta quarta-feira, 16, exatos 105 casos de picadas de serpentes. 

Na unidade, os casos mais comuns são de picadas da espécie jararaca, com 48 casos em 2020. As cobras não peçonhentas vêm em segundo lugar em número de ataques com 37 casos.

A cascavel aparece em terceiro lugar com 15 casos, seguida da coral-verdadeira com 4 ataques. A surucucu foi responsável por uma única picada.

Marechal lidera ranking

Em 2020, Marechal Deodoro desponta como o município de Alagoas com maior número de casos atendidos pelo Hospital Helvio Auto, com 13 ataques de cobras venenosas, 11 deles causados por jararaca.

A cidade de São Miguel dos Campos está em segundo lugar, com 7 casos; 6 pessoas picadas por jararaca e 1 por serpente não peçonhenta. Já Maragogi aparece como o município com o maior número de ataques de Cascavel, com 3 casos.

Considerando que a estatística se refere apenas aos atendimentos no Hélivo Auto, outras cidades podem registrar mais, mas que não foram atendidas na unidade.

Bombeiros: aumento de ocorrências

O aumento no número de vítimas pode não ser apenas uma impressão depois do caso do Distrito Federal. Ao TNH1, o Corpo de Bombeiros Militar (CBM) informou ter registrado um aumento nas ocorrências neste ano. Nesse caso, não se tratam exclusivamente de picadas, mas boa parte de animais que invadem casas e locais urbanos, e os bombeiros são acionados. 

Do dia primeiro de janeiro a 15 de julho de 2019, o CBM foi acionado para 66 ocorrências envolvendo cobras de diversas espécies. Já em 2020, no mesmo período, o número saltou para 94 casos. São 28 casos a mais, um crescimento de 42%. 

Para o capitão Duarte, da assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, não há uma causa exata para explicar esse aumento, mas, acreditem, o isolamento social pode ter contribuído, considerando que a redução drástica de circulação de pessoas deixa, digamos, os bichos mais "à vontade".

"É um aumento considerável. Não temos uma explicação exata. Mas, uma suposição, pode estar ligada ao isolamento social. As pessoas em casa mais tempo, menos movimento. Mas só será possível confirmar comparando com os dados do próximo ano", afirmou o Capitão.



Agreste registra diminuição nos casos

No interior, talvez por conta da redução da frequência das pessoas no campo, sobretudo quem se divide entre as duas regiões das cidades, o quadro é menos assustador. 

O Hospital de Emergência do Agreste, em Arapiraca, recebeu este ano 44 pessoas picadas por serpentes, 38% nos casos em comparação com janeiro a junho de 2019, quando foram atendidos 72 pacientes.

Infectologista explica o que fazer em caso de picada

Ao ser picado por qualquer cobra, é imprescindível procurar socorro médico imediatamente. "As pessoas que são acometidas por ataques de serpentes não devem recorrer a crenças populares como passar fumo, espremer, utilizar torniquetes e outros. Devem procurar o serviço médico de saúde mais próximo, para administração do soro correspondente o quanto antes”, explicou a infectologista Luciana Pacheco.

O Hospital Helvio Auto dispõe de quatro tipos de soros diferentes para administração em pacientes de acordo com a espécie de serpentes, que são as mais comuns da fauna de nossa região: jararaca, cascavel, coral-verdadeira e surucucu.

Além do Hospital Escola Dr. Helvio Auto, por uma questão de rapidez e logística, outras unidades no interior do estado também dispõem de soros antiofídicos, como em Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios e Arapiraca.

Ao serem picadas, muitas pessoas trazem o animal vivo ou morto ao hospital para os especialistas identificá-lo, mas Dra. Luciana alerta que esta prática não é necessária: “as manifestações clínicas são soberanas, por meio dos sintomas nós sabemos qual tipo de veneno foi inoculado e qual a serpente responsável, não é necessário correr mais riscos para trazer o animal”, concluiu. 

Onde encontro o soro ? Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), além do Hospital Hélvio Auto, na capital, o soro antiofídico só é disponibilizado em unidades de 7 cidades do interior. Confira aqui a lista completa. 

Estudante recebeu alta 

O caso do estudante picado por uma cobra Naja Kaouthia de estimação, na semana passada, em Brasília, chamou a atenção pela gravidade da situação. Pedro Henrique Krambeck, de 22 anos recebeu alta  e na última segunda-feira (13), depois de seis dias internado.

O acidente ocorreu no dia 7 de julho. O jovem estava em uma chácara quando foi picado pela naja. Segundo os policiais, ele teria ligado para os pais avisando sobre o acidente. A região exata do acidente não foi divulgada pela Polícia Civil.

Quando chegou ao hospital, ele estava consciente. No entanto, o quadro se agravou rapidamente e Pedro entrou em coma.

Ele precisou receber soro antiofídico do Instituto Butantan, em São Paulo, por causa da picada da naja – uma das cobras mais venenosas do mundo, originária de regiões da África e da Ásia. A unidade era a única que possuía o soro no país.

. Em Alagoas, três pessoas foram internadas no Hospital Escola Hélvio Auto, no Trapiche da Barra, por sofrerem picada de serpentes nesse final de semana.

Pedro Henrique: livre do coma, estudante é investigado por suspeita de tráfico de animais

Suspeita de tráfico

A Polícia Civil do Distrito Federal investiga se Pedro Henrique, mordido por uma naja na semana passada, e as demais pessoas investigadas no possível esquema de tráfico internacional de animais cometeram o crime de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente, previsto no Art 132 do Código Penal, com pena prevista de prisão de três meses a um ano, podendo aumentar se houver agravantes.

Após ouvir na manhã desta segunda-feira (13/7), como parte do inquérito, um servidor do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA), que atuou no resgate da cobra naja, a Polícia Civil compreendeu que os investigados podem ter descumprido a legislação e ter cometido crime contra saúde pública. 

O que fazer ao localizar animal?

Segundo o capitão Duarte, do CB de Alagoas, é importante chamar os bombeiros ou a polícia e não tentar capturar o animal.  

"Não tente capturar em nenhuma hipótese, ligue para o Corpo de Bombeiros, no número 193, ou para a Polícia Militar, no 190. A equipe irá capturar o animal e devolver à natureza ou encaminhar ao centro de triagem do IBAMA", explicou o bombeiro.