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Homem mandou enteada para escola antes de matar filhas feitas reféns em SP

Maurício Businari / Folhapress | 25/05/22 - 23h58
Reprodução / Redes Sociais

O homem que manteve reféns as filhas, de 5 e 6 anos, e depois as matou na casa da família, em um bairro periférico da cidade de Taquarituba, interior de São Paulo, tinha enviado uma enteada de 12 anos, irmã das meninas, para a escola pouco antes de cometer os crimes. A polícia ainda tenta descobrir os motivos que levaram o trabalhador rural, 28, a cometer o crime.

As meninas moravam com a mãe, de 31 anos e também trabalhadora rural, em uma casa simples no bairro Santa Rita de Cássia, região periférica da cidadezinha de 23 mil habitantes. A mulher havia se separado do pai das crianças assassinadas.

Há seis meses, ele passou a manter um relacionamento com outra mulher, com quem vive na cidade vizinha de Itaí, a 22 km de distância.

Na segunda-feira (24), após trabalhar a manhã toda na lavoura, por volta das 14h30, o homem disse à atual esposa que iria até o mercado, mas não voltou. Segundo a cônjuge declarou à polícia, ele teria ligado à noite para o celular dela, pedindo que ela o fosse buscar na casa da ex-esposa, na cidade vizinha. Como ela não tinha condução, acabou não indo.

Na manhã seguinte, conseguiu pegar um ônibus, para buscar o marido. Mas já era tarde. O lavrador tinha feito as filhas reféns horas antes dela chegar.

Em depoimento à polícia, a atual esposa declarou que ela e o acusado vivem juntos há 6 meses e que, nesse tempo, ele nunca bebeu ou se mostrou agressivo.

A cônjuge relatou, porém, que desde sexta-feira (20) ele vinha apresentando um comportamento diferente. Inclusive havia bebido antes de deixar o imóvel do casal em Itaí, na segunda-feira.

"Este foi um caso que chocou toda a cidade", disse à reportagem Carlos César da Silva, 53, conselheiro tutelar de Taquarituba que acompanhou a operação montada pela polícia para resgatar as crianças. "Essa ocorrência começou por volta das 7 horas da manhã. Vizinhos começaram a sentir cheiro de gás vindo da residência e chamaram a polícia".

A ocorrência mobilizou viaturas e agentes da Polícia Militar, Polícia Civil, SAMU, Corpo de Bombeiros e o GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais) de São Paulo.

Segundo o Boletim de Ocorrência ao qual a reportagem teve acesso, o acusado ameaçou explodir o imóvel com as filhas dentro. Ele dizia também que uma enteada de 12 anos estaria com ele dentro do imóvel, mas depois a polícia descobriu que ela foi liberada para ir à escola.

"Ele disse para a ex-mulher que tinha vindo visitar as filhas", contou o conselheiro tutelar. "Ele pediu para pernoitar na casa. Ela aceitou. No dia seguinte, ela acordou cedo e foi para o trabalho na roça, deixando as crianças com ele. Ela confiava no pai das meninas, ele nunca deu sinal de problema psiquiátrico ou coisa assim".

A polícia manteve negociação por horas com o acusado. No final da noite, as equipes decidiram entrar no imóvel, pois ele não apresentava provas de que as reféns estariam vivas. Um scanner de presença chegou a ser utilizado, para verificar a movimentação dentro da casa. Porém, os agentes confirmaram que o único a se movimentar no interior do imóvel era o pai das meninas.

Ao entrarem no imóvel, os policiais imobilizaram o homem com um tiro de bala de borracha e uma arma de choque. Ele estava armado com uma faca. As meninas foram encontradas mortas, com cortes no pescoço. Uma delas estava na cama e a outra, no chão do quarto onde dormiam. A casa estava revirada, com cacos de vidro espalhados pelo chão.

Após passar por exames de corpo de delito, o acusado foi preso em flagrante e irá responder pelos crimes de duplo feminicídio, cárcere privado e tentativa de explosão. Ele foi salvo pela polícia de uma tentativa de linchamento por parte dos moradores da cidade. Segundo a corporação, cerca de 500 pessoas se reuniram ao redor do quarteirão isolado pelos policiais e, ao saberem do desfecho, quiseram fazer justiça com as próprias mãos.

Alexandre Aurani, chefe dos investigadores da Delegacia Seccional de Avaré, informou à reportagem que, até o momento, o acusado não declarou os motivos que o levaram a matar as filhas.

"Ao ser preso, ele chegou a ser questionado de maneira informal, mas ficou dizendo que não se lembrava de nada. Depois se valeu do direito de permanecer em silêncio", contou Aurani. "Ainda temos muito a ser investigado e depoimentos a serem colhidos. A mãe não pôde dar ainda seu depoimento. Hoje pela manhã a polícia fez os exames necroscópicos nos corpos das crianças".

Segundo o chefe dos investigadores, o pai das meninas passou na tarde desta quarta (25) por uma audiência de custódia. A prisão em flagrante foi convertida em preventiva, o que significa que ele permanecerá detido. No momento, ele está recolhido na delegacia de Avaré. Mas deve ser levado ao CDP (Centro de Detenção Provisória) de Cerqueira César, onde permanecerá à disposição da justiça.

De acordo com a polícia, o lavrador não tem defesa constituída até o momento e, portanto, não pôde ter sua versão ouvida pela reportagem.

A mãe passou mal ao saber da morte das filhas e teve que ser atendida na Santa Casa da cidade. Na noite de terça-feira fez um post emocionado despedindo-se delas no Facebook, com um vídeo contendo imagens das crianças. A prefeitura da cidade anunciou luto oficial pela morte das meninas.

Os corpos das crianças passaram por necropsia na manhã desta quarta-feira, chegaram nesta tarde à funerária onde serão velados e, de lá, seguiram para o município de Chavantes, onde ocorrerá o enterro.