De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas surdas, no Brasil, passa dos dez milhões. Apenas no ano de 2002, a Lei nº 10.436 foi sancionada, reconhecendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão no país. Desde então, a expectativa era de avanços. Mas, mesmo com a lei, a comunidade surda ainda enfrenta muitas dificuldades para acessar serviços básicos.
Nesta semana, em que é celebrado o Dia Nacional do Surdo, o enfermeiro e professor de Libras, Joilsom Saraiva, destaca que ainda há muitas barreiras a serem quebradas. Na área da saúde, por exemplo, muitos surdos deixam de procurar atendimento médico por causa das dificuldades de comunicação com os profissionais. “Fazendo estudos e pesquisas, constatei que, no Brasil todo, só existem dois médicos que atendem em Libras. Há a escassez de profissionais preparados para atender à população surda. E a gente precisa ter esse olhar, precisa que essa inclusão aconteça”, enfatizou.
Joilsom é o único enfermeiro, em Maceió, que atende ao surdo com a Língua Brasileira de Sinais. Ele foi o responsável por capacitar, durante dois meses, colaboradores da Cordial Sociedade Beneficente do Coração de Alagoas, com o curso básico de Libras - foco na saúde.
Além de ser um momento de agregar conhecimento, o curso significa um marco na saúde alagoana e nos serviços ofertados pelo SUS. “Quebrar essa primeira barreira, que é a do acolhimento, mostra que a Cordial se importa, sim, com a inclusão. O surdo vai poder chegar para ser atendido e vai poder dizer seu nome, o que está sentindo, alguns sinais da área de saúde, e vai ser então encaminhado para o médico”, explicou o professor.
“Todos os participantes conseguiram entender que a inclusão precisa acontecer na nossa sociedade, nos nossos meios, e a instituição será agora referência em Maceió do atendimento em libras”, disse Joilsom.
Juliana Santos trabalha na recepção da Cordial e participou do curso básico de Libras, com foco na saúde. “Foi um curso muito enriquecedor para a nossa vida pessoal e profissional. Eu tive alguns contatos com pessoas surdas, mas nunca tinha tido contato com a Língua Brasileira de Sinais. E hoje vejo tudo de uma forma diferente. O curso, pra mim, foi fundamental pois me ensinou a ter mais empatia com o próximo, igualdade social e entre outras coisas positivas”, falou Juliana.
Outro participante do curso foi Adeilton Matias, líder de portaria. Ele é o responsável por acolher todos que chegam em busca de exames ou consultas cardiológicos na Cordial, que atende 100% pelo SUS. “O surdo precisa se comunicar e nós, ouvintes, precisamos entender o outro e a importância disso. Eu nunca tinha tido uma experiência tão gratificante como essa. Hoje, se eu encontrar com um surdo eu posso me comunicar, pelo menos com o básico que aprendi. O curso contribuiu para o meu dia a dia, para o meu trabalho, e vai ser muito importante para o resto da minha vida. Eu gostei tanto que vou dar continuidade ao aprendizado”, disse Adeilton.
Segundo a gerente administrativa financeira da Cordial, Maria Lúcia Barroso, o curso surgiu a partir da ideia da implantação de um protocolo de acessibilidade na instituição. “Nosso intuito é criar um local de trabalho onde todas as pessoas, apesar de suas habilidades individuais, tenham a oportunidade de entender as diferenças, com intenção de oferecer equidade de chances para atendimento”, enfatizou a gerente.
“Todos ganham: os colaboradores, a sociedade e a Cordial. Os colaboradores porque o conhecimento é o nosso maior tesouro. A sociedade, pois proporciona um clima inclusivo para os nossos clientes promovendo que todos tenham acesso às mesmas oportunidades. E por último a instituição, que acredita que cuidar sempre faz bem ao coração", finalizou Maria Lúcia.