Roberto Cardoso, delegado da 15ª DP (Gávea), afirmou que a investigação sobre a morte de Sabine Boghici, 49, "sinaliza, por enquanto, 100% para suicídio". Acusada de dar um golpe na mãe, ela morreu após cair do quinto andar do prédio em que morava, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, na quinta (14).
Desde março, após passar oito meses presa, Sabine aguardava em liberdade o julgamento sobre as acusações de estelionato, roubo, extorsão, associação criminosa e cárcere privado contra Geneviève Boghici, 84.
O processo teve início após a idosa afirmar que fora vítima de um golpe, arquitetado pela própria filha e supostas videntes, que teria desviado obras de arte, dinheiro e joias do inventário familiar entre janeiro de 2020 e abril de 2021.
Por intermédio de sua defesa, Sabine sempre negou as acusações. Ela afirmava que os relatos de Geneviève eram uma represália à contestação da sua inventariança e ao seu casamento homoafetivo com outra suspeita dos crimes denunciados pela idosa.
Segundo Geneviève, foram realizadas R$ 9 milhões em transferências bancárias. Também foram retirados da galeria de arte da família 16 quadros, entre eles, "Sol Poente" (1929), de Tarsila do Amaral. O prejuízo fora avaliado em R$ 720 milhões, na época.
Além da obra de Tarsila, que estava debaixo da cama de uma das suspeitas presas, a polícia encontrou outras 12 obras. Três não foram recuperadas após serem vendidas ao Malba (Museu de Arte Latino-americana), em Buenos Aires, na Argentina.
Sabine casou-se com Rosa Staneco em comunhão universal de bens. Rosa –única denunciada que continua presa– também é conhecida como Mãe Valéria de Oxóssi. De acordo com a Promotoria, ela orientava Sabine em supostas agressões à Geneviève. Em sua versão, a idosa disse que era coagida fisicamente a realizar movimentações financeiras.
Rosa e Sabine se casaram no dia 17 de dezembro de 2021. Segundo apontamento da defesa de Sabine nos autos do processo, ela fez um testamento em que deixava toda a sua herança para o filho adotivo de Rosa, uma criança de sete anos.
Após sair da prisão, em março, Sabine passou a morar no apartamento que pertencia a uma filha de Rosa. Por determinação da Justiça, ela não tinha contato com a esposa. Sua defesa tentava autorizar visitas no presídio.
De acordo com o delegado que investiga a morte de Sabine, ela estava sozinha no apartamento ao cair do quinto andar do prédio.
"O porteiro e o vizinho disseram que não viram nada de mais. O apartamento estava em ordem, não tinha nada revirado. A janela estava intacta. Não há nenhum indício sobre homicídio. Ela era depressiva. Mais testemunhas serão ouvidas para a gente ter um diagnóstico mais preciso", disse Cardoso.
Os resultados de exames cadavéricos e do laudo pericial de local estão sendo aguardados. Uma carta, supostamente escrita por Sabine e endereçada à Rosa, foi encontrada no apartamento.
Sabine seria submetida a um exame de sanidade mental em novembro. A decisão foi tomada em maio pelo juiz Guilherme Schilling, da 23ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, após um pedido da defesa de Geneviève.
A reportagem apurou que o intuito da defesa, caso fosse constatada eventual insanidade mental de Sabine, seria anular o casamento com Rosa, além do testamento deixado para a criança.
O dinheiro da família tem origem no trabalho do marchand Jean Boghici (1928-2015), que foi um dos principais colecionadores de obras de arte do Brasil. Nascido na Romênia, ele foi marido de Geneviève e pai de Sabine.
A herança deixada é avaliada em R$ 1 bilhão, de acordo com processo judiciário, sendo as beneficiárias além de Geneviève, Sabine e outra filha. O inventário era administrado pelas três.
O enterro de Sabine está previsto para este final de semana –se não for realizado às 16h deste sábado (16), será no mesmo horário, no domingo (17), disse uma pessoa próxima.
SUICÍDIO - ONDE BUSCAR AJUDA - Recomendação dos psiquiatras é que a pessoa busque qualquer serviço médico disponível
NPV (Núcleo de Prevenção à Violência) - Os NPVs são constituídos por ao menos quatro profissionais dentro das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e de outros equipamentos da rede municipal. Para acolher e resguardar as vítimas, os núcleos atuam em parceria com o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Conselho Tutelar, a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
Pronto-Socorro Psiquiátrico - Ideação suicida é emergência médica. Caso pense em tirar a própria vida, procure um hospital psiquiátrico e verifique se ele tem pronto-socorro. Na cidade de São Paulo, há opções como o Pronto Socorro Municipal Prof. João Catarin Mezomo, o Caism (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental) e o Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya.
Mapa da Saúde Mental - O site, do Instituto Vita Alere, mapeia serviços públicos de saúde mental disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos, além de ações voluntárias realizadas por ONGs e instituições filantrópicas, entre outros. Também oferece cartilhas com orientações em saúde mental.
CVV (Centro de Valorização da Vida) - Voluntários atendem ligações gratuitas 24 h por dia no número 188, por chat, via email ou diretamente em um posto de atendimento físico.