Mundo

Júri inocenta jovem que matou dois em ato antirracista nos EUA; vídeo

Folhapress | 19/11/21 - 17h45
Reprodução / Twitter Metrópoles / SamPancher

O jovem branco de 18 anos que atirou em três homens e matou dois deles durante uma manifestação antirracista em Kenosha, nos EUA, em agosto de 2020, foi considerado inocente de todas as acusações pelo júri nesta sexta-feira (19).

Kyle Rittenhouse foi julgado por ter atirado com um fuzil AR-15 em Joseph Rosenbaum, Anthony Huber e Gaige Grosskreutz –os dois primeiros morreram em decorrência dos ferimentos. À época, ele tinha 17 anos.
O julgamento –que opôs o argumento da promotoria de que Rittenhouse atirou de forma imprudente nos homens à afirmação do adolescente de que ele agiu em legítima defesa– polarizou a América, expondo feridas abertas na sociedade americana em torno de questões controversas como direitos às armas.

Após mais de três dias de deliberações, o júri de 12 integrantes anunciou na tarde desta sexta o veredito do caso. Ele foi inocentado de duas acusações de homicídio, uma de tentativa de homicídio e duas de ameaça à segurança pública.

Os atos em Kenosha, em Wisconsin, começaram após Jacob Blake, um homem negro, ser baleado pelas costas por um agente branco durante uma abordagem policial dois dias antes, em uma ação filmada por testemunhas. Três meses antes, George Floyd havia sido assassinado por um outro policial branco.

Rittenhouse morava em Antioch, no estado de Illinois, a cerca de 33 km de Kenosha. Ele cruzou a divisa até o estado vizinho em resposta ao chamado de grupos civis, formados majoritariamente por pessoas brancas, que se organizaram nas redes sociais para convocar ativistas contrários à pauta dos protestos.

Esses grupos alegavam proteger propriedades de saques e depredações durante as manifestações. Rittenhouse estava armado com um fuzil AR-15. Imagens gravadas por testemunhas registraram o momento em que manifestantes tentaram desarmá-lo após ele atirar em um deles. O adolescente então fez disparos à queima-roupa contra seus perseguidores, o que resultou em duas mortes.

Ao fazer sua defesa no tribunal, na última quarta (10), Rittenhouse chorou copiosamente. Segundo ele, os assassinatos foram um ato de legítima defesa. Ele disse que havia sido ameaçado duas vezes de morte por Joseph Rosenbaum, 36, e que estava em meio ao ato para proteger uma concessionária de carros usados junto com outros homens armados.

O acusado também afirmou seu objetivo era oferecer ajuda médica a feridos –ainda que estivesse com um fuzil AR-15, de porte proibido para menores de 18 anos em Wisconsin. Questionado, ele respondeu que havia levado a arma para a sua proteção.

No entanto, para o promotor, o réu "estava procurando emoção" e "sabia que haveria violência naquela noite". Ele afirmou que o acusado "causou o incidente" e que, de acordo com a lei vigente no estado de Wisconsin, "não se pode reivindicar legítima defesa contra um perigo que você próprio cria"

Um vídeo exibido na corte mostrou o momento em que Rittenhouse atirou quatro vezes em Rosenbaum. Na cena, é possível ver que, na hora dos tiros, o acusado era seguido pelo manifestante antirracista, mas, conforme noticiou o canal NBC News, o especialista forense Doug Kelley afirmou ao tribunal ter concluído que Rosenbaum não era uma ameaça naquele momento.

No final de outubro, o juiz do condado de Kenosha, Bruce Schroeder, determinou que a acusação não poderia se referir aos baleados como vítimas, porque, em sua visão, o termo está carregado de pré-julgamento.

Em contrapartida, o promotor Thomas Binger pediu que a defesa de Rittenhouse também fosse proibida de descrever Rosenbaum, Huber e Grosskreutz como "desordeiros, saqueadores ou incendiários".
Para ele, os termos são tão ou mais carregados de juízo de valor do que "vítimas" e deveriam ser banidos, porque não há evidências de que os baleados estavam cometendo crimes quando foram atingidos.

O juiz Schroeder negou o pedido, mas condicionou o uso dos adjetivos considerados pejorativos à apresentação de elementos que comprovassem as afirmações dos advogados do réu.