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Líder militar do Sudão renuncia um dia após queda de ditador

Folhapress | 12/04/19 - 22h50
Reprodução/PressTV

O líder do golpe militar que derrubou o ditador Omar al-Bashir na quinta-feira (11) anunciou sua renúncia nesta sexta (12).

Awad Ibn Auf, ministro da Defesa que assumiu a chefia do governo instaurado pelo Exército, renunciou depois de manifestantes terem tomado as ruas da capital Cartum dizendo que o governo militar era uma continuação da ditadura de mais de 30 anos no país.

"Para garantir a coesão do sistema de segurança, e das Forças Armadas em particular, de fraturas e brigas internas, e confiando em Deus, vamos começar esse caminho de mudança", afirmou Ibn Auf em discurso televisionado.

O general Abdel Fattah Abdelrahman Burhan assumiu em seu lugar. Não há sinais de que os protestos irão arrefecer, já que os manifestantes exigem a instauração de "um governo transitório civil".

Na quinta, Ibn Auf havia anunciado um governo militar de transição que duraria dois anos, além da imposição de um estado de emergência por três meses e da suspensão da Constituição por tempo indeterminado.

Mais cedo na sexta, a junta desmentiu ter dado um golpe de Estado para destituir o mais longevo ditador da África, em uma tentativa de apaziguar a comunidade internacional e os manifestantes.

"O papel do conselho militar é proteger a segurança e a estabilidade do país", disse Omar Zinelabidine, chefe do comitê político da junta militar. "Iniciaremos um diálogo com os partidos políticos para estudar como governar o Sudão. Haverá um governo civil, e não vamos interferir em sua composição."

O vice-embaixador do Sudão na ONU, Yasir Abdalla Abdelsalam Ahmed, disse ao Conselho de Segurança da ONU que um processo de transição democrática requer o apoio da comunidade internacional. "Nenhum partido será excluído do processo político, incluindo grupos armados", afirmou, em reunião convocada para discutir os acontecimentos no país.

"Além disso, a suspensão da Constituição pode ser levantada a qualquer momento e o período de transição pode ser abreviado, dependendo do desenrolar dos fatos e dos acordos alcançados."

Os militares afirmaram que Bashir está detido, mas que não será entregue ao Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), que tem um pedido de prisão do ex-ditador por crimes de guerra.

Bashir, 75, que enfrentava manifestações ininterruptas nos últimos quatro meses, liderava o país com mão de ferro desde que chegou ao poder com um golpe em 1989. Um dos motivos que deram início aos protestos foi a crise econômica –a inflação subiu para 70% nos últimos anos. O estopim das manifestações foi o aumento do preço do pão, cujos subsídios haviam sido cortados pelo governo."

Além disso, o país perdeu importantes receitas do petróleo após a independência do Sudão do Sul, conquistada em plebiscito em 2011.