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Livros de Machado de Assis ajudaram autor da novela das sete a criar diálogos exóticos entre os personagens

Folhapress | 29/10/18 - 17h38
Machado de Assis | Reprodução

Os "congelados" da novela "O Tempo Não Para" (Globo), que acordaram mais de cem anos depois de "caírem no sono", não tiveram que se adaptar só às roupas e aos costumes dos tempos modernos. A novela mostra com bom humor que a língua portuguesa falada hoje é totalmente diferente da usada durante o século 19. Um exemplo: no leilão de joias de Cesária (Olívia Araújo), Agustina (Rosi Campos), ao ver os lances dados pelas peças, solta a frase: "Vai encher a burra de cobres!". Damásia (Aline Dias), agora escrava liberta, não percebe o quanto é explorada por Coronela (Solange Couto) e, quando Elmo (Felipe Simas) questiona o contrato das duas, a mocinha diz com firmeza: "Sinhá tem razão, estou apalavrada com ela".

Diferentemente de se aproveitar de diálogos de outras novelas de época, o autor Mário Teixeira conta que se preocupou em usar palavras mais coloquiais, utilizadas no dia a dia daquele século. "Algo que me seduz muito é quando as palavras fogem do dicionário", conta o autor, lembrando que algumas citadas pelos "congelados" nem no dicionário ele encontrou. "Só entendi o termo após me aprofundar no contexto", completa. E revela suas fontes. "Usei basicamente os livros da época, o 'Quincas Borba' [1891], o 'Memorial de Aires' [1908], livros do Machado de Assis, que têm mais a temperatura das ruas, menos intimistas que os livros mais conhecidos dele." Com o decorrer da trama, os personagens devem soar mais modernos, mas é difícil que percam sua essência. "É normal que incorporem termos, mas sem jamais perder a identidade léxica do seu tempo." E vão continuar distribuindo amor, como disse Paulina (Carol Macedo) a Marocas, sua amiga do século 19. "Você diz muitas palavras difíceis, mas te entendo no olhar".