Televisão

Mais antiga no ar, Record TV rejuvenesce com linguagem do digital

Tela Viva | 23/09/20 - 14h42
CEO da Record TV, Marcus Vinicius Vieira, conta que o grupo há mais de dez anos já atua de maneira muito forte e presente nas plataformas digitais | Divulgação

A Record é, aos 67 anos, a emissora mais antiga da TV brasileira no ar, carregando em si grande parte da história da nossa televisão. Mas tal como uma senhora em forma e atenta aos novos tempos, volta-se com muita ênfase às recentes formatos e linguagens presentes nas redes sociais, ao transpor para a tela da televisão a linguagem da mídia social, com seus grafismos, memes, emojis.

Com 108 emissoras afiliadas, a Record TV atinge 96% do território nacional. Presente em mais de 150 países, apresenta-se como a maior rede em língua Portuguesa no mundo por meio da Record TV Internacional, que está de forma exclusiva em países como Israel, Japão, Itália. Ainda, é a segunda maior exportadora de conteúdo nacional para televisão, levando sua produção de novelas a quatro continentes.

Atualmente, são 14 horas diárias de jornalismo ao vivo e, aproximadamente, 100 horas semanais de programação ao vivo (jornalismo + entretenimento). Somente nas instalações em São Paulo, a emissora tem cerca de três mil funcionários.

O CEO da Record TV, Marcus Vinicius Vieira, conta que o grupo há mais de dez anos já atua de maneira muito forte e presente nas plataformas digitais. Nesta entrevista, Vieira explica como a Record vem dando mais espaço da grade local para suas afiliadas – são de 5 a 8 horas de produção de jornalismo regional em cada uma das capitais e principais centros urbanos do país. E, também, de forma discreta, ele afirma que a empresa espera que as novas entrantes em comunicação e entretenimento no País tenham e sigam as mesmas obrigações legais já impostas a quem já estava no mercado há mais tempo.

TELA VIVA – Como a emissora se posiciona neste ano 70 da TV no Brasil? Quais os desafios e oportunidades do momento?

Marcus Vinicius Vieira – A TV brasileira chega aos 70 anos em um momento único. E histórico. Se até pouco tempo ainda era comum ouvir quem decretasse o fim da televisão, a pandemia mostrou exatamente o contrário, que a TV tem uma relevância enorme como difusora de informação e entretenimento. A Record TV sempre esteve ciente dessa importância e do valor de nosso compromisso com o público.

Fazemos 67 anos em setembro como a emissora com mais tempo em atividade no Brasil. Temos quase a mesma idade da TV brasileira. E se chegamos até aqui é porque o público conhece nosso compromisso em oferecer informação verdadeira, com agilidade e ao vivo – uma marca da emissora, além de programas que agradam diferentes perfis. Mesmo nas crises mais graves pelas quais o país passou, a Record TV sempre apostou em saídas e investiu, contrariando muitas expectativas.

A pandemia é mais uma crise que enfrentamos com essa estratégia. O tempo só nos trouxe maturidade para saber como fazer isso com responsabilidade, com a certeza que sairemos, ou melhor, já estamos saindo, mais fortalecidos desse momento. Isso não é só uma impressão: os números de audiência nos mostram exatamente isso. Tivemos a oportunidade de fidelizar nosso telespectador, de trazer um novo público que tem a TV como fonte de informação e lazer. E nosso conteúdo está disponível para o telespectador onde ele quiser: na televisão, no computador, tablet ou celular. Na TV aberta, paga, na internet ou no streaming. Oferecemos ao mercado novos formatos e também mostrando uma relação de parceria com os anunciantes, que sempre foi um diferencial.  

Que demandas são sentidas junto à rede de afiliadas nestes tempos e quais as novas necessidades locais dos parceiros? Como é possível atender às peculiaridades regionais sem perder a força da rede nacional? 

União e sinergia são fundamentais. As emissoras que são parceiras nos permitem alcançar o brasileiro em qualquer ponto do País, por mais distante que ele esteja dos grandes centros. Uma das nossas estratégias foi valorizar a informação regional, com amplo aproveitamento dos profissionais das praças em rede nacional. Nós somos a emissora com maior volume de produção regional do Brasil. Em cada um dos estados, em capitais, e em grandes centros urbanos produzimos pelo menos cinco horas de informação regional. Em alguns casos, essa produção regional chega a oito horas diárias. E seguimos mudando e investindo regionalmente. No final de agosto, por exemplo, os apresentadores dos matinais locais passaram a fazer entradas, ao vivo, no "Fala Brasil", que tem transmissão nacional e ganhou mais tempo no ar.

Quais as novas apostas e soluções oferecidas ao mercado anunciante, envolvendo as várias plataformas da Record (TV aberta, Record News, R7, Play Plus)? Como se tem avançado neste cross media para os clientes de publicidade?  

Já há algum tempo nossa estratégia é unificada, com o oferecimento de planos comerciais que integram multiplataformas. Nessa conexão crescente, incentivamos a inovação com espaço para cocriação com as marcas, com conteúdos flexíveis e que possam estar disponíveis em vários canais, em ações complementares, o que permite ao anunciante estar presente em multitelas, acompanhando toda a jornada do consumidor. Ele pode, por exemplo, assistir ao "Jornal da Record", acompanhar o desdobramento da notícia no portal R7, acompanhar a Live JR nas redes sociais, ficar ainda mais atualizado nas edições do JR 24h, disponíveis na TV e no portal, e ainda e acessar este conteúdo on demand no PlayPlus. É uma entrega completa, engajamos a audiência da televisão e continuamos a conversa nas redes. A Record TV é inovadora nesta estratégia digital de trazer emojis, memes, comentários na tela, tudo para deixar a TV mais interativa e próxima do público que quer participar e dar sua opinião. As marcas já reconhecem o valor deste engajamento. Citando "A Fazenda", as possibilidades são muitas. Temos muitas ativações previstas para as redes sociais, que é onde está o público que comenta sobre cada episódio, a torcida que vibra e que leva o programa a estar todos os dias como o assunto mais comentado do Twitter. O conceito multiplataforma entrega uma experiência mais completa para usuários e marcas anunciantes.

Como a emissora vem otimizando a capacidade de seu parque de produção? A experiência de se trabalhar de forma mais horizontal, com contratação de empresas terceirizadas, é um modelo a ser seguido na linha de dramaturgia e entretenimento/shows?  

Adotamos esse modelo e estamos bastante satisfeitos com os resultados. Da produção de novelas como "Escrava Mãe", que está sendo novamente exibida, ou "Amor sem Igual", que logo voltará ao ar, aos reality shows, essa estratégia foi muito bem-sucedida e podemos trabalhar com diferentes parceiros, que trazem até nós sua expertise e enriquecem nossos produtos.

Estamos superando os desafios que as medidas de proteção exigem e provamos, mais uma vez, nossa versatilidade. Com cuidado, responsabilidade, criatividade e investimentos em tecnologia, nossas produções estão retornando. Conseguimos finalizar as gravações de um reality show, o "Top Chef", estreamos um clássico da nossa programação, "A Fazenda". As novelas também voltaram a ser gravadas.

Para a Record TV, quais questões de regulamentação e legislação da Radiodifusão poderiam ser revistas/modificadas?

Em nossa visão, não existem problemas nas atuais regulações do mercado. Mas o mais importante é que todos os novos grupos de comunicação e entretenimento tenham obrigações equivalentes e sigam regras equânimes as que nós já estamos seguindo em nosso mercado há tanto tempo.

Temos parâmetros de publicidade, impostos, regras, limitações e também precisamos cumprir algumas obrigatoriedades. São itens que acreditamos devem ser seguidos por quem está chegando agora, com outras tecnologias, ou por quem ainda vai querer espaço na comunicação brasileira.

Quais as prioridades da emissora em termos de produção, coprodução e aquisição de programação? 

Nossa produção está focada no retorno dos programas da linha de shows, realities e novelas. Em relação a aquisições, fechamos com a Sony um contrato para exibição de um grande pacote de filmes, com mais de 60 títulos, com algumas superproduções ganhadoras do Oscar e ainda inéditas na TV aberta, além de termos na nossa grade algumas das mais prestigiadas séries do momento, como a franquia "Chicago". Mas nossa equipe também está sempre estudando e pesquisando formatos e ideias para o futuro. Temos parcerias com produtoras e criadoras de conteúdo no mundo inteiro. Casablanca, Teleimage, Endemol, BBC, Sony, Armoza, Freemantle, Universal, Amazon, Netflix, Discovery, Televisa, Univisión, Telefe,  são alguns exemplos de grupos que produzem, coproduzem ou exibem nossos programas, novelas e shows.  

A programação ao vivo e de jornalismo tem forte presença na grade. Quais os novos projetos na área?

Nos últimos meses estivemos envolvidos em um grande projeto de reformulação do jornalismo. Contratamos novos profissionais não apenas em São Paulo, mas também em outras praças. Investimos em tecnologia e em novos cenários. Esse processo ainda está em andamento, mas, mesmo com a pandemia, pudemos, por exemplo, estrear as novidades do "Domingo Espetacular", agora com Carolina Ferraz e Eduardo Ribeiro, que apresentam o programa em um cenário de realidade aumentada e com recursos de hiper-realismo. Outros programas terão novos cenários em breve. E ainda estreamos a nova temporada do "Repórter Record Investigação". Vale destacar ainda que investimos em integração com novas plataformas. A família do "Jornal da Record" ganhou programas como "JR Entrevista" e "Live JR", com formato multiplataforma, além do "JR 15 minutos", este último um podcast – outro nicho no qual estamos investindo bastante. 

A Record participa do consórcio Simba na venda de seu sinal HD para TV por assinatura. O modelo de negócio tem sido satisfatório, diante de um mercado que perdeu assinantes nos últimos anos ou a rede o vê como um mercado ainda promissor?  

A Record TV quer garantir acesso ao telespectador em todas as plataformas. A Simba é um dos caminhos na TV por assinatura.

Na área de negócios, como a Record vê o segmento de streaming e qual a participação do conteúdo nacional num ambiente onde cada vez mais os grupos internacionais avançam no Brasil?

O streaming é mais um meio de entrega de conteúdo, como existe a TV, o rádio. Temos o nosso serviço de OTT, o PlayPlus, com biblioteca de conteúdo da Record TV, produções originais, parcerias com Disney, ESPN. É um marketplace, um agregador. Entendemos que não há barreiras para consumo de conteúdo. As novelas "Os Dez Mandamentos" e "Jesus", por exemplo, tiveram ótimos desempenhos de audiência no Brasil, na América Latina, nos EUA. O meio streaming é apenas um facilitador e uma nova forma de consumo.