Futebol Nacional

Massagista campeão em 1971 e 2021 no Atlético celebra fim da espera

Folhapress | 07/12/21 - 13h55
Pedro Souza / Atlético MG

Belmiro de Oliveira, 70, não permite que ninguém fale mal dos atletas do Atlético-MG. "Não aceito que xinguem. Para mim, o Atlético não tem jogador ruim. Nunca", afirma. Os dias têm sido gloriosos para Bel do Galo, como ele mesmo gosta de ser chamado. Desde a última quinta-feira (2), data em que a equipe conquistou o título brasileiro, ele reconhece viver um sonho que demorou cinco décadas para acontecer.

Quando o Atlético venceu o Nacional pela primeira vez, em 1971, Belmiro tinha quase três anos de clube. Havia sido contratado no final de 1968 para acumular as funções de massagista e enfermeiro. Era um garoto de 17 anos. O segundo título brasileiro, o de 2021, levou 50 anos para virar realidade, o maior jejum entre as principais camisas do país.

O massagista é o único funcionário remanescente do departamento de futebol dos dois troféus.

"Foi gratificante ver enfim o Atlético realizar esse sonho. Para mim, foi especial. Aguardei esse tempo todo, sempre acreditando, sempre com fé de que chegaria. Batemos na trave tantas vezes. Mas eu nunca duvidei que seríamos campeões brasileiros de novo", afirma o massagista.

Ele não foi para Salvador na semana passada, mas estava na festa realizada no Mineirão no domingo (5), quando os jogadores ergueram a taça após a vitória sobre o Red Bull Bragantino. Foi o momento de festa que compensou o sofrimento da quinta-feira anterior. O Atlético precisava da vitória para selar o título, mas perdia para o Bahia por 2 a 0, na Arena Fonte Nova. Virou para 3 a 2 no segundo tempo. O gol decisivo foi de Keno.

"Aqueles 13 minutos [entre o terceiro gol e o fim do jogo] demoraram mais que os 45. A ansiedade foi insuportável, mas quando acabou, foi bom demais", completa.

Tão bom que a casa de Belmiro, em Belo Horizonte, ficou acordada e cheia de gente até às 6h da manhã seguinte. Quando terminou a partida, ele aceitou visitas. Durante os 90 minutos, não. Belmiro tem tido tratamento de campeão brasileiro na vizinhança. Para onde vai, ouve parabéns e recebe tapinhas nas costas. Afinal, ele é Bel do Galo, 53 anos de serviços prestados ao clube. E sem perspectiva de parar. "Vou trabalhar enquanto der."

Não foi apenas alegria que o massagista sentiu. Foi alívio. Como ele mesmo disse, o Atlético bateu várias vezes na trave nesses 50 anos. Mais de uma vez recebeu a pecha de favorito, esteve perto de voltar a vencer, mas não conseguiu.

Foi assim em 1977, quando perdeu a final para o São Paulo, nos pênaltis, e acabou vice-campeão invicto. Voltou a perder a decisão em 1980, para o Flamengo, em uma das maiores séries da história do futebol nacional ("disso não gosto nem de lembrar", diz ele). Ficou em segundo também em 1999.

Isso sem falar quando caiu na semifinal em temporadas com melhores campanhas do que o rival. Como em 1987 e 2001. Esta última ainda deixa Belmiro inconformado.

"Aquele Atlético de 2001 era um timaço. Até hoje não acredito que perdemos", relembra, citando derrota para o São Caetano na semifinal com um time que tinha o goleiro Velloso, o volante Gilberto Silva, o meia Ramon e os atacantes Guilherme e Marques.

Por isso que as frustrações sufocavam Belmiro, testemunha de todas essas derrotas, até o título de 2021. Vitória que ele disse a todos no clube, há meses, que aconteceria. Para Bel, essa conquista é mais memorável do que a Libertadores de 2013, considerado o troféu mais importante da história atleticana. "Este Brasileiro foi o mais emocionante de todos. Nada se compara."

O astro daquele Atlético campeão da América, Ronaldinho Gaúcho, não foi quem mais marcou os mais de 50 anos de Belmiro como massagista da agremiação. Este trono é de Reinaldo e ninguém tira. O centroavante do time entre 1973 e 1985 é um dos maiores nomes do alvinegro em todos os tempos.

"Eu vi o Reinaldo nascendo no Atlético. Ele é um cara que me marcou muito. Eu o vi desde menino. Se você pensar os problemas que ele teve, as lesões no joelho e mesmo assim foi aquele centroavante todo... Falam muito do Ronaldinho Gaúcho. Entre Ronaldinho e Reinaldo, um foi craque, outro foi gênio. O gênio foi o Reinaldo", analisa.

O Clube Atlético Mineiro é a vida de Belmiro. O trabalho no clube lhe deu uma carreira, a chance de casar, ter sua casa, criar seis filhos (três biológicos e três de criação). Nesses 50 anos, o massagista afirma ter recebido convites para ir trabalhar na Arábia Saudita e ganhar mais dinheiro. Nem lhe passou pela cabeça a possibilidade de aceitar. E se ele estivesse longe e o time enfim fosse campeão brasileiro? Era algo que não poderia suportar.

"Eu entrei no Atlético para ser um funcionário normal, como outro qualquer. Hoje, quando saio na rua, perguntam se sou 'aquele moço do Atlético'. É muito gostoso ser reconhecido por gente mais velha, meninos... Me sinto até um jogador. A ligação que tenho com a torcida é muito grande", se admira.

É por causa dessa ligação que Bel do Galo não aceita ouvir nenhum jogador que veste a camisa preta e branca ser xingado. "Nem meus filhos eu deixo. Se querem falar mal, têm de sair de casa."