Brasil

Mercado do leite supera 'efeito pânico' e alta de preços perde força, diz pesquisador

Marcelo Toledo/Folhapress | 15/04/20 - 09h46
Arquivo/Agência Alagoas

O mercado de leite no país superou o chamado "efeito pânico", primeiro estágio da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, e agora a alta de preços registrada nas últimas semanas perdeu força, mesmo em meio à entressafra do setor.

É o que afirmou nesta terça-feira (14) o economista Glauco Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Leite. Segundo ele, não há risco de desabastecimento do mercado nacional atualmente, mas ainda é cedo para prever a dimensão dos impactos que a pandemia causará em toda a cadeia produtiva do leite.

O leite UHT (longa vida), que vinha em alta e chegou a ser comercializado no atacado a R$ 3,05 o litro na semana do dia 3, recuou para R$ 2,98 na semana seguinte, o que representa queda de 2%. Em fevereiro, como comparação, o preço estava em R$ 2,43.

Já o quilo do queijo mussarela, que chegou a R$ 18,27 também na semana do dia 3, recuou 0,8% e passou a custar, em média, R$ 18,12. O litro de leite spot, por sua vez, caiu de R$ 1,69 para R$ 1,56 entre a segunda quinzena de março e a primeira quinzena de abril.

"É difícil prever o que irá acontecer pois não sabemos nem quanto tempo deve durar esse contexto, mas a expectativa é de retração. Começamos agora a entressafra, que prometia melhores ganhos para os produtores, mas toda a cadeia produtiva terá que se ajustar ao novo cenário", afirmou o pesquisador.

O "efeito pânico", conforme Carvalho, consistiu na corrida de consumidores às padarias e supermercados em busca de leite para estocar quando as medidas de isolamento foram divulgadas. Como, em sua avaliação, os consumidores perceberam que o abastecimento não seria prejudicado -já que supermercados permaneceram abertos-, as compras voltaram aos níveis normais.

"O primeiro reflexo dos consumidores foi correr e se abastecer. O tamanho da geladeira era o limite. Isso acabou gerando uma corrida para o leite UHT e não para outros [produtos], como o leite de saquinho", afirmou.
Agora, porém, o pesquisador projeta que o mercado pode sentir os impactos de uma terceira onda, que é a queda do poder aquisitivo da população pós-pandemia, o que poderá exigir uma reorganização da cadeia produtiva, com menos produtores no mercado e menos laticínios, que se fundiriam a outros em dificuldades.

No geral, segundo ele, o mercado lácteo não sofreu tanto nas primeiras semanas do isolamento como outros setores mas, como a crise chegou na entressafra, o excedente que poderia haver acaba sendo minimizado.
O pesquisador estima que pequenos laticínios e queijarias tiveram seus canais de venda prejudicados e que o queijo mussarela e o mercado spot preocupam. "Tanto a mussarela quanto o leite do mercado spot são muito alinhados com o que acontece com o preço do leite ao produtor. À medida que isso desacelera, pode haver queda nos preços pagos ao produtor também", disse.

CUSTOS EM ALTA

Em março, mês de início do isolamento social devido à pandemia, os custos de produção do leite ficaram 0,23% mais caros em relação a fevereiro, conforme levantamento da plataforma de inteligência estratégica e competitiva do leite, da Embrapa.

A maior elevação foi nos preços de insumos, formado por produtos de higiene e limpeza e impactado pelos primeiros dias de mobilização contra a Covid-19, com alta de 1,69% no mês.

Além disso, outras commodities afetaram o custo de produção do leite, já que os preços de milho e soja subiram em março, assim como a valorização do dólar, que elevou custos do grupo sanidade. O cenário só não foi pior por que a queda do preço do petróleo impactou valores de adubos e combustíveis.