Brasil

Morte por intervenção do Estado atinge maior patamar em 20 anos no Rio

Folhapress | 21/08/19 - 22h29

Agentes do Estado mataram 194 pessoas no Rio de Janeiro em julho, maior patamar desde 1998, quando o dado começou a ser contabilizado.

Os números foram divulgados nesta quarta-feira (21) pelo ISP (Instituto de Segurança Pública).

De janeiro a julho de 2019, 1.075 pessoas foram mortas pelo Estado, cerca de 20% a mais do que no mesmo período do ano passado.

Na Região Metropolitana, as mortes por intervenção de agentes do Estado chegaram a 178 em julho, representando 41,5% do total de casos de letalidade violenta (429), que reúne todos os índices criminais que resultaram em morte.

A título de comparação, em janeiro de 1998, mês em que o índice foi implementado, a polícia matou 18 pessoas no estado do Rio.

Os números vêm na esteira do discurso linha-dura e das operações policiais promovidas pelo governador Wilson Witzel (PSC), eleito sob a bandeira do endurecimento na segurança pública.

Ao mesmo tempo em que se intensifica a matança por agentes da segurança pública, caem os homicídios dolosos. Em julho deste ano, foram 309 no Estado, menor número desde julho de 2014.

De janeiro a julho de 2019, foram contabilizados 2.392 homicídios dolosos, 23% a menos do que no mesmo período do ano passado.

Na semana passada, ao menos seis jovens foram mortos no Rio por disparos de armas de fogo. O governador afirmou que a culpa das mortes violentas é dos "pseudodefensores dos direitos humanos".

"Pessoas que se dizem defensoras dos direitos humanos, pseudodefensores dos direitos humanos não querem que a polícia mate quem está de fuzil, mas aí quem morre são os inocentes. Esses cadáveres não estão no meu colo, estão no colo de vocês, que não deixam que as polícias façam o trabalho que tem que ser feito", disse.

Na terça-feira (20), circulou nas redes sociais um vídeo de um helicóptero sobrevoando a Cidade de Deus, comunidade da zona oeste do Rio, e lançando em direção ao solo um artefato explosivo. Segundo a Polícia Civil, se tratava de uma bomba de efeito moral, não letal.

O governo aprovou um manual para o uso das aeronaves, que está sob sigilo. A utilização dos helicópteros como plataforma de tiro é uma das maiores reclamações dos moradores das favelas no Rio de Janeiro e alvo de críticas de especialistas em segurança pública.

Em entrevista à TV Globo, o secretário de Polícia Civil Marcus Vinícius Braga disse que a tendência é que as mortes por intervenção policial continuem a aumentar até dezembro.

"Conforme a gente vai trabalhando as investigações, a inteligência e a integração com a Polícia Militar, a tendência é abaixar. É um número alto, não é um número que a gente deseja", afirmou.